terça-feira, 26 de novembro de 2013

GUERREIRO ALAGOANO



GUERREIRO ALAGOANO
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de novembro de 2013.
Crônica Nº 1093

BENON, UM DOS MESTRES GUERREIROS

Não havia televisão. Rádio, muito pouco. Os divertimentos da época aconteciam com soluções caseiras, assim como o pastoril, reisado, guerreiro e pagode. O guerreiro de Alagoas, grupo de danças mais simples do que o reisado, sendo seu filho, cheio de colorido, fazia sucesso em todos os lugares. Os improvisos dos mestres, a beleza das moças brincantes (figuras), as piadas dos mateus, asseguravam as festas.
O chefe de volante policial, sargento Porfírio, era conhecido acabador de reisado, na zona rural de Santana do Ipanema, devido a sua perversidade. Contudo, nem todas as apresentações eram acabadas pelos desordeiros, como os da própria força policial. Era bom ouvir quadrinhas improvisadas que se tornaram famosas no estado:

O avião
Subiu
Se alevantou
No ar se peneirou
Pegou fogo
E levou fim...

Em Penedo, um mestre de reisado vai dando vexame, colocando em dificuldades as filhas alheias que brincam de boa fé nas fileiras dos componentes. Tudo culpa da malvada cachaça. Convidado para brincar na casa do cidadão da área rural, o grupo se desloca até ali, dança e canta a valer. Os versos do mestre, bonitos e ritmados, vão alegrando a comunidade. Entretanto o mestre vai exagerando na bebida até confundir as coisas. Um ouvinte diz para ele que estava gostando das tiradas, mas já era quase meia- noite e o amigo ainda não tinha feito uma estrofe sequer em louvor ao dono da casa que havia recebido tão bem a turma do guerreiro. O mestre improvisador admite o erro e, já esquecido de tudo, indaga o nome do dono da residência: Seu Artur, responde o interventor. E a dona da casa é Dona Enedina. O lugar é sítio Urucu. Assim o mestre pisa forte no chão, abre um sorriso de felicidade caneira e puxa os versos com a voz pastosa:

Ô Seu Artur
Ô Dona Enedina
Ô peça fina
Na fazenda deram o c...

Foi um deus nos acuda! O dono da casa mandou que os seus empregados moessem o mestre no cacete e que ficou bom na hora, na carreira que deu por dentro do mato. Bebida é coisa lorde, mas às vezes não casa bem com a história do GUERREIRO ALAGOANO.

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

MINHA RUA



MINHA RUA
Clerisvaldo B Chagas, 25 de novembro de 2013
Crônica Nº 2092

Vendo na Internet companheiros de infância ausentes há tempos, chegam vez em quando as lembranças dos nossos passos na aurora da vida na Rua Antônio Tavares, a primeira rua de Santana. Essa via onde moravam os meus pais estava sempre em festa pela movimentação das pessoas adultas e da meninada. Lembro muito bem da vizinhança. Ali do outro lado, na parte alta, chegava de Olivença o senhor Manezinho Quiliu com a família cheia de moças, para ornar o trecho. Do povoado Pedrão, município de Olho d’Água das Flores, veio o senhor Antônio Marceneiro, dona Maria Neris e seus filhos. Mulher de garganta boa, costureira e puxadeira do Ofício de Nossa Senhora, onde fosse convidada. Zé Urbano e Dona Florzinha com meio mundo de filhos; o esquisito Alfredo Forte, sapateiro e ermitão com duas filhas que não saiam de casa.
Aquele jogo de bola na rua poeirenta irritava minha mãe, Helena Braga das Chagas. Lá ia o Antônio Januário Neris jogando na defesa e frustrando todos os nossos ataques com suas paetadas. O senhor Júlio Pisunha fabricava colchões de junco para vender na feira. Demolido o imenso casarão, feita a reforma, Carrito passa a negociar numa bodega de esquina e aconselhar o povo. Seu Né Lecor mostrava mansidão grande nos cabelos brancos e no puxado dos cigarros. Cubava terras e diziam que na juventude fora cabra macho. Dona Ester de José Camilo lia histórias de cordel para nós. Quando as boiadas passavam até davam medo aos moradores. Seu Antônio, pai de Severino, vendia doces da distribuidora NEUSA. Ali pertinho morava Dona Zora, cujo nome me chamava atenção. Antonio Porqueiro e sua filharada moravam na casa onde fora de dona Zifina, avó do escritor Oscar Silva. Otávio Marchante fora ocupar a casa do senhor José Camilo e já era o torcedor número 1 do Ipanema, time de futebol da cidade. A ximbra, o pinhão, a bola, corriam soltos na antiga Rua do Sebo de tantas tradições. Os primeiros namoricos começavam a povoar nossas cabeças ocupadas com recreios. Na Rua Antônio Tavares (finado dono de padaria) tinha de tudo, inclusive de juventude, era MINHA RUA.


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