terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O VALENTÃO E A QUIROMANCIA

O VALENTÃO E A QUIROMANCIA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2016
Crônica Nº 1.499
 
(mdemulher._abril.com.br).
Recordando personagens do Sertão, uma coisa puxa outra. Revejo pelo tempo o senhor José Menezes, que vendia redes, aos sábados, na feira de Santana. Aos domingos, aquele homem branco e sério, desfilava pela Rua Antônio Tavares – onde residia – muito duro, rifle surdo às costas e bornal atravessado. Mas esse não é o alvo da história.
Vizinho de terras de meu avô morava um valentão, arruaceiro e assassino que também andava com rifle às costas e punhal na cinta. Cismou com um dos meus tios, homem pacato, sábio e trabalhador. Rondava-o constantemente.  Certo dia em que o meu tio fora dar água ao gado no açude, o valentão o esperava na porteira da barragem, armado como sempre. Meu tio completamente, desarmado, usou a sua força espiritual, passou pelo valente, deu água aos bichos, retornou sem que o bandido esboçasse nenhuma reação.
Era mês de outubro. Apareceu no sítio um estrangeiro quiromante, cujo apelido era Alemão. Leu a mão de todos os que estavam na casa – menos a de meu pai que se encontrava ausente – falando do início, presente, futuro e final da vida de cada um. Todos os tios tiveram o final profetizado pelo estrangeiro.
Quanto ao tio marcado pelo inimigo, disse-lhe o Alemão: “No mês de novembro não passe do terreiro de casa; no mês de dezembro não saia de dentro de casa nem para o terreiro; aguarde a notícia do mês de janeiro que seu perseguidor irá desencarnar”. Assim procedendo, meu tio aguardou.
Em janeiro, aquele valentão acostumado a acabar a feira de Olho d’Água das Flores, cortando a pulso e à faca, os cabelos dos feirantes, recebeu um convite do major Lucena Maranhão. Integrou-se numa volante e numa suposta diligência para os lados de Maravilha e ali deixou a Terra.
Não só no fabrico de peças e motores, mas também na Quiromancia, alemão é garantido.
Nem tudo é engodo e safadeza.

Fui.

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

LAMPIÃO, CABOCLO E A GLOBO

LAMPIÃO, CABOCLO E A GLOBO
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de janeiro de 2016
Crônica Nº 1.498
POVOADO CABOCLO. Foto (Hector Emílio).

A Rede Globo de Televisão iniciou seus preparativos para mais uma novela. Um dos lugares escolhidos para algumas filmagens foi o estado de Alagoas no povoado Caboclo, município de São José da Tapera.
Caboclo é um povoado típico sertanejo, situado em pleno Alto Sertão alagoano, de antiga procedência. Tendo como pano de fundo uma bela montanha esbranquiçada, realiza feira semanal e missa do vaqueiro todos os anos. Os emboladores e seus pandeiros mágicos já se desafiavam na tradicional feira de Santana do Ipanema:

“Você não dá
Pra dançar no gabinete
Cabra velha não dá leite
Nem bode dá de mamar...”

“Venho pra cá
Boto a sela no porco
Vou à feira do Caboco
Antes do galo cantar...”

Foi nesse famoso arruado que Lampião, após invadir a vila de Olho d’Água das Flores com 102 cabras, fez passagem e assassinou o cidadão proprietário José Vieira. O fato aconteceu no dia 07 de junho de 1926. Virgolino babava para atacar Pão de Açúcar, ali pertinho, mas sempre desistia diante dos “homens machos” do lugar. O senhor José Vieira pagou-lhe pela frustração.
Mas, em 22 de março de 1936, quase dez anos depois, foi o próprio Lampião quem foi derrotado no povoado Caboclo. Invadindo a rua para matar um ex-volante nazareno (a volante dos nazarenos - povoado de Nazaré, Pernambuco - era a maior perseguidora do bando) teve assassinado um dos seus asseclas chamado Pó Corante, pelo barbeiro local. Sem nada poder fazer, o sinistro chefe da caterva apenas fez sepultar o morto e ameaçar os habitantes do lugarejo, caso eles desenterrassem o cangaceiro.
O ex-volante perseguido conseguiu trazer uma volante comandada por Lucena Maranhão que estava em São José da Tapera, mas o bandido já havia ido embora.

É esse o povoado escolhido pela Rede Globo, repleto de histórias, lendas e fantasias.

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