domingo, 5 de maio de 2019

NOVAMENTE PELO IPANEMA



NOVAMENTE PELO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.105
    ÁGUA CHEGANDO NO RIO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS).

Os rios do sertão nordestino em geral, são temporários, isto é, escorrem apenas em épocas chuvosas. Muitas vezes nas estiagens prolongadas são dados até como rios mortos. Mas quando um desses rios passa tanto tempo sem sinal dessa modalidade de vida, alegra-se o sertanejo com as primeiras águas. Fica tocaiando junto à família e amigos as águas da frente chegando de mansinho, serpenteando como a cobra, fazendo ferver as areias quentes do seu leito. E na facilidade das tecnologias, inúmeras fotos registram as pioneiras barrentas e o aviso do abre-alas sobre o que vem acima. Muitos animais sentem o cheiro de água nova e procuram escapar da enchente. Outros sentem por instinto o que virá e desocupam a calha com antecedência.
A vegetação do leito seco que se criou com a reserva do lençol freático e o sal da areia recebe sem saída a água que lhe beija o tronco e a que tenta chegar às folhas. Logo se formam as ilhas sob o alarido da passarada que resiste à seca. No meu sertão alagoano é assim com o rio Traipu, com o Ipanema, Capiá, Canapi, Farias, Jacaré, Desumano, João Gomes, Camoxinga, Dois Riachos, Riacho Grande e muitas outras artérias, veias e capilares do grande São Francisco. Mas a beleza de um rio cheio no sertão iguala-se a mesma beleza de outros rios, parecendo não ter o que mostrar de diferente. O destaque dessa época é o símbolo do bom inverno que enriquece a terra e o homem numa larga e generosa dádiva divina Rio cheio, sapos cantando, peixe subindo e barriga feito zabumba.
Pois vamos margeando o rio Ipanema celebrando a vida aquática e a vida dos jardins de estio que de fato encantam. Poços, cacimbas, moitas, refúgios, pedras, esconderijos... Vão mostrando a face contrária à pujança das águas.
São muitos os rios sertanejos e os da zona da Mata alagoana, originários do solo pernambucano. Descem do planalto da Borborema num todo, particularizando o chamado planalto de Garanhuns. Outros são filhos do nosso próprio estado e nascidos nas regiões serranas, tanto da Mata quanto do Sertão. E como estamos mais perto do rio Ipanema, este sempre termina levando a louvação. Louvação essa que todos os rios e riachos sertanejos merecem por igual.



  

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sexta-feira, 3 de maio de 2019

O CUSCUZ DA VELHA


                 O CUSCUZ DA VELHA
         Clerisvaldo B. Chagas, 3 de abril de 2019
             Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
            Crônica: 2.104


Civilização do milho, o Nordeste brasileiro continua levando seus usos e costumes do sertão para o litoral. São inúmeros os pratos regionais desse produto originário das Américas. Entre as comidas costumeiras do (Zea mays), está o cuscuz, o mais popular de todos. Rico em proteína, potássio e gordura, o milho sustenta o sertanejo há séculos. Até certo tempo atrás, após a espiga ralada, a massa era colocada em um pano dentro da cuscuzeira. O cuscuz fumegante aromava toda a casa e saía em forma de montanha. Com mais moderno modo de fazer, o cuscuz sai arredondado, pois no lugar do pano, tem-se um dispositivo vazado, arredondado por onde sobe o vapor. Essa iguaria invadiu as capitais nordestinas e até São Paulo onde existem vários lugares especializados no tema.
Existem muitas histórias, piadas, brincadeiras sobre o cuscuz sertanejo de cada dia. Hoje a massa já vem industrializada, cabendo ao usuário medir a quantidade, colocar numa vasilha, acrescentar metade d’água, sal, misturar e aguardar por uns cinco minutos. Terminado o prazo coloca-se na cuscuzeira no recipiente vazado. Um pouco d’água no fundo da cuscuzeira vai ferver e, em carca de dez minutos no fogo, o bicho estará cheirando nos quatro cantos da casa. Pode ser servido de várias maneiras, a mais tradicional, porém, é com leite. Conhecido como comida forte é bom para as longas caminhadas, trabalhos ou viagens. Em Santana do Ipanema tem lugares que servem o cuscuz com carne de bode. Em Maceió, na Serraria, tem a Casa do Cuscuz.
 Pois a velha Totonha, sertaneja dura de embarque, conseguiu chegar facilmente aos 97 anos de idade. Adoeceu, e ficava muito pensativa ao receber visitas. Uma delas ousou perguntar se a mulher tinha medo de enfrentar o outro mundo. A velha Totonha respondeu com a maior desenvoltura: “Não tenho medo de morrer não, minha ‘fia’; somente fico desgostosa em deixar o cuscuz com leite”.
E o cuscuz vai com tudo: com leite, com carne assada, piaba torrada, torreiro, pilombeta frita, charque, linguiça e... Deixe-me parar por aqui para não ter que falar igual à velha Totonha.
Ah, Sertão macho da gota serena!







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