segunda-feira, 29 de março de 2021

 

AINDA O MUSEU E OS CIGARROS DE AUDÁLIO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.500

 



Explanando para os futuros pesquisadores sobre o Casarão/Museu de Santana. Além do que foi descrito em crônica anterior com o nome de PERGUNTA NO AR, o prédio ainda possuía (e possui), um pequeno quintal. Continuando o quintal, lateralmente havia (e ainda há) um compartimento com frente para a Rua Ministro José Américo, via também da feira livre. Em determinado tempo, aquele compartimento foi cedido ou alugado e passou a funcionar como bodega de cachaça para os viciados da feira. Nessa época o museu para algumas autoridades, era apenas um lixo que a ignorância não sabia como se livrar do entulho. Bem que o compartimento poderia ter servido para ser instalada a parte administrativa da permanente exposição. A cachaça e o cuspe no pé da mesa venciam a Cultura.

No oitão do edifício, voltado para o Largo da Feira, ainda hoje existe uma pequena porta no sótão. Alguns feirantes guardavam ali suas mercadorias após a feira. Um deles chagou até a negociar suas bugingangas, parte dentro do sótão e parte fora. Era um homem amigo de meu pai, dente de ouro e pronúncia aberta para feijão a que ele chamava de féjão.  Vizinho à entrada do sótão (nós chamávamos de porão) o senhor Audálio colocou ali uma barraca vertical para vender cigarros e que funcionou por muito tempo. Houve ocasiões em que os viciados procuravam os tubos de fumo na cidade e não encontravam, mas na barraca do Audálio sempre havia cigarros, servidos, alíás, com muita rapidez e agilidade no troco, quando precisava. Seu Audálio tornou-se uma pessoa muita conhecida em Santana, com sua barraca de cigarros ao lado do museu. No porão, atendeu por muito tempo o sapateiro Genésio, onde formou sua tenda.

Muitas e muitas histórias foram contadas na barraca do fumo por ele mesmo, o dono. Sentado em banquinho de madeira, bem como seus assíduos frequentadores das palestras, principalmente as noturnas, como a presença marcante do saudoso professor José Maria Amorim, a noite era consumida. Como o tempo é o senhor de tudo, Audálio, nem sei o motivo, fechou o ponto e foi para casa. “Vão comprar cigarros agora na casa da peste!” – disse um gaiato da rua como desabafo.

O que você acha? Essa é a história do museu que não é do museu. Entretanto, acho que daria um livro completo de tantos e tantos casos do “Seu Audálio da Barraca de Cigarros” e seus compromissados com os ouvidos.

Quer saber?! Acho que o homem não fumava e se fumava era com a boca alheia. Ô vida de gado!...

 

ANOITECER DE DOMINGO NO LARGO DA FEIRA, VENDO-SE A LATERAL DO MUSEU DARRAS NOYA E A MATRIZ DA CIDADE. (FOTO: ACERVO/ B. CHAGAS).

 


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domingo, 28 de março de 2021

 

VACINA, SIM

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.499

 







     E vamos nós para o Bairro e Rua São Pedro onde estava havendo vacinação, 24 de março. Chegada a nossa vez, não podíamos vacilar na bênção da Ciência, embora encarando tudo com normalidade. No sistema drive-thru, a Saúde bem organizou o lugar e o trânsito. Os automóveis seguiam pela Rua Antônio Tavares, atingiam a Rua São Pedro, abaixo da praça onde se encontrava a equipe da Saúde, vacinavam seus idosos e seguiam em frente até o final da do trajeto onde subiam pela primeira ladeira e escolhiam suas opções. 15 horas, o movimento estava fraco e apenas pegamos um automóvel na frente, nenhum atrás de nós. Uma tranquilidade.  Documentos à mão, rapidamente atendidos e a expectativa da agulhada. Sorte de encontrar alguém da mão de seda. Apenas uma picada de mosquito, nenhuma reação, como se não tivéssemos sido vacinados. Agradecimentos ao pessoal da Saúde, ao santo do bairro; dever e direito cumpridos, retorno a casa e espera da segunda dose.

Tudo isso fazia lembrar a vacinação contra a varíola, acontecida no tempo de criança no Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Naquela ocasião, nós, os alunos, fomos vacinados por uma equipe volante da Saúde e que era usada para “arranhar” o nosso braço, uma espécie de pena de escrever (ainda hoje carrego a cicatriz). Lembro-me ainda de uma única pessoa da equipe de Vacina que era o primo Zé Chagas. A epidemia da varíola foi tão aterrorizante quanto o Covid de hoje. No rio Ipanema já havia uma loca natural para onde eram conduzidos os infectados. Ali, ou escapavam ou morriam.

Tempos difíceis aqueles. Vi muitas pessoas pintadas com as manchas na pele. Cenas desagradáveis, principalmente quando se tratava de pessoas da pele negra quando se acentuavam as marcas terríveis da doença. Há alguns anos atrás, subi o rio Ipanema e fui até o lugar denominado Poço Grande, onde havia “a loca dos bexiguentos”. Fica numa ilha do rio onde o Ipanema se divide em dois braços. Afirma um místico santanense que aquilo é uma pirâmide construída por alienígenas e que até já recebera equipe da Sociedade Rosa-Cruz do Paraná que atestaram às rochas místicas.

Nunca mais andei por aquelas bandas.

Xô, xô... Epidemias!

SÃO PEDRO, PRAÇA DA VACINA (FOTO: ACERVO B. CHAGAS)

 

 


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