quarta-feira, 23 de junho de 2021

 

CHEGOU! CHEGOU!

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.559



O governador prometeu e agiu com rapidez. Tanto é que para muitos foi uma surpresa e tanta, uma vez que já estávamos, semana passada, sendo informados de que a sinalização da via asfáltica Carneiros – Santana do Ipanema, estava sendo providenciada. Os sites noticiosos calaram o andamento da obra e, de repente a surpreendente notícia: o homem já havia concluído o trabalho, enquanto muitos jornais cochilavam. O município de Carneiros, satélite de Santana do Ipanema e desta desmembrado, há muito aguardava o asfalto para sua antiga sede, pelo menos até a AL-120, bem perto de Santana. A falta do asfalto dificultava a integração entre ambos os municípios, até que o que parecia impossível aconteceu. Agora totalmente integrados Santana e Carneiros, ligados sem rodeio, diretamente, irão ganhar um intercâmbio nunca visto antes, sendo muito mais comércio para Santana e um sem número de prestação de serviços para Carneiros.

A rodovia dessa integração, beneficia inúmeros sítios rurais como Olho d’Água da Cruz, Divisão e Alto d’Ema. O primeiro em Carneiros, o segundo na divisa entre os municípios – daí o nome Divisão, terra do saudoso e famoso repentista, Zezinho da Divisão – e o Alto d’Ema, já em território santanense, é área de terras das nossas origens, dos Chagas. O asfalto cobre a rodagem antiga entre os dois municípios e, vindo de Carneiros, sai na AL-120, ao lado do conhecido “Fazendas Bar”, bem perto do acesso a Olivença. Uma grandiosa vitória sertaneja, sem nenhuma sombra de dúvidas. E, melhor ainda, Carneiros também será ligado por asfalto a Senador Rui Palmeira pelo mesmo roteiro. Santana, então ganhará outro município para seus inúmeros relacionamentos, uma vez que para ali chegar tem que ser através de grande arrodeio ou por estrada de terra. Alcançando ambos os municípios como se diz por aqui: por dentro, será novo porvir. Portanto, para ir a Carneiros e Senador, será apenas um pulo e pela mesma estrada.

Os produtos do campo chegarão rapidamente às cidades, aos povoados, mercados, feiras e mercadinhos como o leite, o queijo, os cereais e as hortaliças. Hospitais, escolas, bancos, todos receberão pessoas com mais rapidez, assim como o comércio e serviços em geral. E finalmente, lá onde o novo asfalto desemboca na AL-120, provavelmente triplicará os encontros domingueiros nos bares e restaurantes rurais, típicos e convidativos do Alto d’Ema, Barriguda, São Bartolomeu e Moita dos Nobres.

Haja cerveja gelada e galinha de capoeira, comadre!...

CARNEIROS (FOTO: carneiros.al.leg.br).

 

 

 

 

 


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terça-feira, 22 de junho de 2021

 

SÃO JOÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.560

 

O melhor São João de Santana do Ipanema era na Rua Antônio Tavares. Desde à Cadeia Velha até encostar na Rua São Pedro era um corredor de fogo só. Seu Manezinho Chagas, sempre foi o primeiro da rua a tocar fogo na fogueira. O senhor José Urbano, o último a acender e deixá-la cerca de três dias fumaceando com um toco gigante. Dona Florzinha, sua esposa, entre outras coisas, fazia o quentão, bebida tradicional dos nosso ancestrais. À noite inteira na rua, bombas, chuvinhas, peido de véia, traques, peito de moça, diabinhos, rojões, busca-pés, foguetes e, de vez em quando, um balão cortava o espaço. Nós, os adolescentes, lançávamos, escondidos dos nossos pais, bombas de parede que explodiam na chapada de calçada alta da casa do então, padre Alberto Pereira, defronte a nossa.

A partir da meia-noite, ouvíamos estrondos terríveis; pareciam “bombas atômicas”, soltadas somente no leito seco do rio Ipanema, lá longe. No extremo da rua, imediações da casa da professora Adercina Limeira, mestre Eloy foi a grande atração da quadrilha, era ele quem gritava à dança. Após sua passagem, foi substituído pelo filho Walter, conhecido como Walter da Geladeira, devido seus consertos. Forrós de verdade não os conheci nessa rua. A véspera do São João era marcada por adivinhações, rosto d’água na bacia, faca na bananeira e ensaio para comadre e compadre de São João. Esfriada as cinzas das fogueiras, estas eram esfregadas nas pernas de crianças novas para andarem logo e reforço para a saúde das pernas de crianças já grandinhas e adolescentes. Bonito também e nostálgico era quando as fogueiras quase todas apagavam as chamas deixando apenas tufos de fumaça nos montículos de brasas.

O asfalto não suporta fogo e acabou a tradição da fogueira, juntamente com novas exigências ambientais. Quanto às quadrilhas juninas, o forró pé de serra, o coco-de-roda... Levaram uma carreira grande da COVID 19, este ano. Fazer o quê? Vamos ficar somente com a lembrança da voz poderosa de Gonzaga: “O fole roncou...”.

Melhor São João de faz de conta de que morte no São João.

Saudade...

Fui.

RUA ANTÕNIO TAVARES MODERNIZADA (B. CHAGAS/LIVRO 230).

 


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