domingo, 31 de outubro de 2021

 

CARROSSEL

Clerisvaldo B, Chagas, 1 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.603




Termina o mês de outubro sem definir sua antiga posição no calendário anual. Primavera na agenda, inverno na aparência e verão na vontade escondida. Último domingo mesclado de incertezas, ora frio, ora pegando fogo, com ameaças de chuvas cujas nuvens não se resolvem, “carregação”, dizem os entendidos. Assim caminhamos para o Dia de Todos os Santos, sem definição, sem chuva, sem caminhão-pipa, sem olhar de futuro, mas ainda confiante nas forças divinas que estão sempre no coração e no bizaco do homem sertanejo. Céu azul, céu de cinza, céu carrancudo... O clima da terra vai se virando como pode e nós vamos buscando esperanças onde as esperanças são rechaçadas pelas ações humanas. Covid, Carestia, Gasolina, Violência, poluição,,,

Já vivi tempos assim quando a responsabilidade era pouca. Como criança, fui passando no Beco de Sebastião Jiló, primeira travessa da Rua Antônio Tavares pera o rio Ipanema quando um grupo de homens conversava espiando para o céu. Falava sobre o tempo abafado e sem chuva. O flandreleiro Zé Gancho que fazia bicas de flandres (zinco) ali pertinho, dizia que “no Ceará choveu foi muito!...”. Não sei se foi pela sua fala arrastada ou alguma coisa assim que este passante disse repentinamente: “Choveu bo....”. O artesão sentiu o baque e ficou dizendo palavras exasperadas. Mas o menino continuou o seu caminho, porque menino é menino e o saudoso Zé Gancho voltou à sua palestra. Ficava muito brabo ao ser chamado de Zé Gancho, cujo apelido nem sei o motivo.

Deve ter chovido mesmo no Ceará. Zé Gancho estava certo e preocupado com o tempo. Sertanejo só fala em chuva. É o núcleo do agronegócio e suas periferias diversas que fazem andar as coisas em solos do semiárido. Se vai chegar água do céu, têm encomendas de bicas (calhas) para Zé Gancho, Manezinho Quiliu e outros artesãos que perscrutam o tempo todos os dias. O simples sinal do relâmpago já desperta o interesse, a alegria e a curiosidade: “está chovendo em Cacimbinhas, Dois Riachos, Palmeira dos Índios, no Alto Sertão que as nuvens trouxeram notícias. Ontem como hoje, o tempo é senhor de tudo e o Senhor, senhor do tempo. Deixe que chegue novembro, Dia de todos os Santos... Dia de Finados... E a sequência do que Deus planejou para nós.

TEMPO EM SANTANA, FINAL DE OUTUBRO (FOTO: B. CHAGAS)

 

 

 

 


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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

 

NOSSA CACHAÇA DE CADA DIA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.602


     Deixada a garrafa de cachaça pelo pedreiro, no Loteamento Colorado, em nossa inspeção por aquelas bandas, lembramos do tempo em que fábricas e fabriquetas de tudo proliferavam em Santana do |Ipanema. A cidade sinalizava como futura industrial, mas a falta de incentivo foi apagando a chama de todas elas. Até mesmo nos tempos das grandes cheias do rio Ipanema as canoas transportavam as produções das fabriquetas: cordas, colorau, aguardente, calçados, vinagre, sabão, refrigerante, pré-moldado, arreios, vasos de feijão, bicas de zinco (Canoeiros do Ipanema) e muito mais. E voltando a garrafa de cachaça vazia deixada pelo pedreiro, com marca famosa já no Brasil total, lembramos de pelo menos três fabriquetas que geravam emprego e faziam progredir a terra.

Nunca, porém, procurei saber o nome de cada uma delas. Na Rua Antônio Tavares, primeira travessa para a Rua Nova, havia na esquina a casa do senhor José Lopes, com um grande corredor descoberto. Nunca fomos olhar a “cana”, mas todos diziam que lá para dentro havia uma fabriqueta de aguardente. Já em pleno comércio, vizinha à Alfaiataria “Nova Aurora”, se não estamos enganados, funcionava a fabriqueta de aguardente do senhor Antônio Bulhões que entregava o produto em jegues e caçuás.  Por trás da atual Loja Maçônica, às margens do Ipanema, bem perto da ponte sobre o riacho Camoxinga, o senhor Sinval, morador da Rua Nova, também produzia aguardente, enquanto recitava poemas de Zé da Luz.

E como recuperar fábricas e fabriquetas fica muito difícil, a cidade continua dependendo de indústrias de fora em todos os ramos que se imagina. Por aqui não se fabrica nem picolé redondo. Enquanto isso Arapiraca, Major Isidoro, Maceió e Murici se enchem de indústrias cada vez mais. A cidade se desenvolve sem dúvida com o comércio, a prestação de serviço particular. as repartições públicas e as atividades sofridas do agronegócio. Mas como cada fase na vida é uma fase, vamos vivendo essa nova que de “nada adianta chorar o leite derramado...” 

E nem a cachaça consumida de Santana do Ipanema.

ALAMBIQUE (CRÉDITO: DIÁRIO DO RIO).

 


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