quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

 

CASACA-DE-COURO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2;640


 

O dia amanheceu muito bonito, céu azul claro com nuvens esparsas, apesar da temperatura desse período que atinge os 36 graus, caindo à noite até os 24. Uma diferença enorme de variação térmica, que racha facilmente as pedras mais resistentes do Sertão. Mas, parecia que alguma coisa boa iria acontecer, era uma algazarra enorme da passarada. Passou nos ares um bando fazendo alarido de alegria. Os pássaros da rua responderam em coro e depois os pardais escoltaram uma solitária rolinha a catar pequenas pedras na rua. Se eu fosse viciado em jogo de bicho e na roda tivesse “passarinho”, seria a ocasião perfeita para jogar. Pois, ainda a vizinhança coloca um forró de Jacson do Pandeiro que dá um show sobre a casaca de couro, você já ouviu?

A casaca de couro (família Furnarildae) é ave passeriforme endêmica do Nordeste brasileiro. Sua plumagem é de um amarelo cremoso muito bonito e tem como atração o seu ninho de todos os tipos de garrancho que chama atenção de longe. O seu canto também é muito atrativo pois canta em dueto como se uma delas cantasse e outra respondesse. Escute o Jacson que você entenderá melhor. Ah, foi ali nas minhas andanças pela zona rural, no sítio Icó, em Santana do Ipanema, bem perto do conhecido Campo de Aviação que eu conheci as três atrações: a ave, o canto e o ninho. Terreno de barro vermelho, amplo terreiro limpo e plano... Cadê vontade de ir embora, preso por aquele espetáculo para turista. Sertão é mesmo coisa de Deus!

O sítio Icó fica a 6 km do centro de Santana do Ipanema. Icó significa arbusto ou árvore arbustiva, porém venenosa e que os cavalares não podem comer. Não são poucos os que falam erradamente, Incó. Pois, ali no Icó senti-me bem à vontade na casa de fazenda de Dona Maria, conhecida como fabricante artesanal de queijos. Fiquei tão distraído que não tentei saber se por ali ainda se podia ver um pé da planta que dá nome ao sítio. Também, com o espetáculo das casaca-de-couro e a beleza do lugar!... Pela noite não sei que todo sítio nas trevas é esquerdo, mas naquela hora senti que seria um grande privilégio morar naquele paraíso. Desculpem amigo e amiga, se não gostam do tema, mas não pude resistir à crônica porque o dia estava muito profundo para os passarinhos.

NINHO DE CASACA-DE-COURO. (CRÉDITO: WIKI AVES/LUIZ GONZAGA).


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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

 

CASA DE TAIPA

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.639

 A casa de taipa representa a pobreza do Brasil passado em todas as regiões brasileiras, notadamente no Nordeste. Do litoral ao Sertão a casa de taipa sempre esteve presente respeitando algumas formas de arquitetura. As belas cenas em telas românticas do litoral, continuadamente, mostravam a casinha de taipa coberta de palha sob os coqueirais. No Sertão, elas apareciam principalmente na zona rural, nos sítios, nas fazendas, cobertas de palhas do coqueiro Ouricuri ou mesmo de telhas de barro. Consiste a casa de taipa numa construção cuja estrutura é feita de varas entrançadas e preenchidos seus espaços com argila local jogada e alisada à mão. A personagem famosa do cangaço, Maria Bonita, morava em casa de taipa. Apesar de programas para a erradicação desse tipo de moradia, ela ainda se encontra fortemente na ativa nos estados nordestinos.

A disseminação da casa de taipa foi justamente pelas precárias condições do usuário que procurou o material encontrado nas imediações mais a habilidade artesanal do vizinho, do parente, do amigo. A construção da morada muitas vezes foi comemorada com cachaça, tira-gosto e coco de roda no amassar do barro com os pés no ritmo musical e no jogar o barro no quadrado das varas que formavam as paredes. Essa comemoração para incentivar a vizinhança na ajuda, chamava-se: ”Tapagem de casa”.  E tinha gente que andava mais de uma légua (12 km) para não perder uma tapagem de casa. Essa construção artesanal pode até ser muito bem feita, resistir à chuva e ao Sol, durante mais de cem anos, desde que exista sempre manutenção.

Quando a casa de taipa vai ficando velha, a preguiça do seu habitante, a idade ou miserabilidade, deixam cair pedaços da parede, muitas vezes cobertas por lona preta de plástico fino. As frestas criadas no barro podem abrigar o “barbeiro”, inseto terrível conhecido pela Doença de Chagas. Daí um dos motivos da erradicação. A tapagem de casa ficou imortalizada no romance Curral Novo, do escritor palmeirense, Adalberon Cavalcante Lins, para mim o melhor escritor do mundo.

E como Deus não discrimina moradias humanas, leva o brilho do Sol e da Lua também aos litorais e sertões do homem trigueiro e da cabocla amorosa da casa de taipa.

CASA DE TAIPA (CRÉDITO: PORTAL APRENDIZ)

 

 


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