terça-feira, 24 de maio de 2022

 

MEL BOM, FERRÃO RUIM

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.706

 




Sentado na área interna da casa, vejo o Sol evoluindo nas horas ou a chuva caindo mansa, ora encorpada tamborilando o teto e lavando o chão. Levanto a vista para a caixa-d’água altíssima do vizinho e me surpreendo com o que vejo. Nada mais do que um enxu gigante pendurado naquelas alturas. E para quem não sabe, enxu no Sertão, também é chamado inxu, é uma colmeia de qualquer abelha. As danadinhas trabalhadeiras fizeram o enxu aproveitando um fio pendurado que desce da caixa. Não dá para vê se a estrutura também está colada à parede por cima do fio ou não. Estar ali o pacote: vertical em forma cilíndrica, enfrentando sol e chuva sem nenhuma alteração. Também não sei dizer que material é aquele utilizado por elas, as abelhas, olhando de longe parece barro.

Não sei se essas fabricantes de mel têm ferrão ou não têm. Também nem quero saber a qual gênero pertence o enxame. Deixemos as bichinhas quieta no labor animal. E se um mal-informado for brincar com abelhas, pode ser atacado e fazê-las atacar a vizinhança, aí o diabo se solta. Quantas pessoas não já morreram no Brasil vítimas de picadas desses insetos! Sim podem ser abelhas sem ferrão, mas você não quer ir perguntar a elas, quer? E naquelas alturas da caixa-d’água, só o cão vai lá e ainda leva o Corpo de Bombeiros que é quem sabe lidar com essas coisas. Diz o matuto “que não se deve futucar o cão com vara curta”; e ali não é o cão, mas é abelha, cabra “véi”. Quem vai encarar ferroadas nos olhos, nos braços... Na bunda!

O mel é um dos alimentos mais completos do mundo e ajudou a salvar muitas pessoas da fome, nas caatingas das secas de outrora. Mas não se pode esquecer que a abelha braba ainda é parente da vespa e da formiga. É considerado um inseto útil, mas não vale mexer com ele. Pelo que sei, não estamos na seca, não estamos com fome em busca de mel, não temos experiência em mexer com abelhas, nem o vizinho quer uma guerra contra tantas guerreiras. Hummm... Diz os mais velhos: “Não devemos mexer com quem está quieto”. Em breve as abelhas completarão a tarefa na caixa-d’água e irão embora na paz da Natureza.

Será que o amigo ou amiga, concorda?

Estamos de olho no ferrão e no mel.

ENXU (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 23 de maio de 2022

 

ONDE ESTÃO AS ANDORINHAS?

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.705

 

Ninguém pode negar o belo espetáculo das andorinhas na Santana dos anos 60. Tempo como este agora, invernoso, o bando revoava pela região do rio Ipanema e fazia seus malabarismos para os banhistas do Poço dos Homens. Revoavam circulando o poço, pegando bichinhos no ar e tocando o peito nas águas claras ou barrentas que encantavam os adolescentes e adultos frequentadores assíduos do lugar. Às vezes ali se encontrava o cantor “Cícero de Maraquinha” e, seu violão e voz maviosa pareciam uma orquestra para acompanhar as incursões das andorinhas. Do Poço dos Homens dava para vê o retorno do bando em círculo e o assentamento com alarido na torre da Igreja Matriz de senhora Santana.

Essas aves passeriformes, pertencem a família Hirundinidae e gostam muito de construírem seus ninhos colados ao teto dos casarões, dos sobrados, tal com o conhecido “sobrado do meio da rua” (hoje extinto) onde costumavam se abrigar. Sabemos sim que andorinhas são aves que migram conforme a estação do ano, mas retornam sempre. Então, ficamos a indagar por que as andorinhas abandonaram a torre da Igreja Matriz, o Poço dos Homens, a nossa Santana do Ipanema. Dos anos 60 para os anos próximos seguintes, não houve essa transformação apressada dos climas. Portanto as nossas aves que alegravam o cinza do nosso inverno foram embora sem explicações. Teria sido pela morte do cantor Cícero de Mariquinha, que nunca mais tocara para o bando?

A torre da igreja de Senhora Santana, continua bela. Ano 2022 e o mesmo cartão postal máximo da cidade. E se não tem alaridos de andorinhas, também não tem sujeira para a limpeza através de homens intimoratos à altura. O “sobrado do meio da rua” Já não existe para abrigar beleza, romantismo e andorinhas. O Poço dos Homens perdeu o brilho após a construção da Ponte General Batista Tubino. Ficou essa passagem quase em cima do poço. O lixo colocado no local pelos desavisados, fez surgir tapetes verdes de plantas aquáticas por sobre as águas poluídas.. E assim ficou o ballet das aves migratórias apenas na memória dos que viveram à época, notadamente escritores, poetas, historiadores e saudosistas.

Nunca se viu dizer que as andorinhas fizessem mal a alguém.

ANDORINHA (WIKIPÉDIA).


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