domingo, 16 de outubro de 2022

 

MARIA DE BARRO

Clerisvaldo B.  das Chagas, 17 de outubro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.784

 


Uma das coisas curiosas do Sertão, sem dúvida alguma, é o ninho, também chamado casa, do João de Barro. Motivo de admiração de nativos e forasteiros, de canções e de repentes de violeiros nordestinos. Como pode um casal de passarinhos fazer uma casa de barro, apenas transportando argila e construindo com o bico? Em algumas regiões do Brasil, a fêmea é conhecida como Joaninha de Barro, mas em nosso Sertão alagoano ela é chamada de Maria de Barro. Pássaro canoro, plumagem bela e discreta é muito respeitado pelo homem do campo que não o ataca e vê nos seus atos um grande exemplo da grandeza de Deus. Possui o apelido de “pássaro-arquiteto”, “pássaro-construtor”, “pássaro-engenheiro” e “pássaro-pedreiro”.

Muita coisa se fala sobre o João de Barro, verdades e lendas. Uma delas é que o casal não trabalha dia de domingo. É o homem do campo quem afirma, mas os pesquisadores dizem que trabalha todos os dias quando está construindo a casa. É verdade, porém que, à semelhança dos papagaios e araras, o casal é monogâmico e só arranja outra companhia se por acaso morrer o parceiro ou a parceira. A casa do João de Barro, erguida pelo casal, possui dois cômodos, sendo um deles uma espécie de sala de visitas, que é uma passagem para um quarto onde é feito o ninho que tem uma entrada muito apertada para evitar predadores. O João de Barro e a Maria de Barro, tanto trabalham quanto cantam, momentos em que deslumbram cada vez mais o observador.

A fêmea põe e choca os ovos, três a quatro, cujos filhotes irão nascer catorze dias após. As penas do João e da Maria de Barro têm a cauda avermelhada, peito branco e o restante cor de terra ou ligeiramente marrom. Alimentam-se de larvas, insetos e grãos. A casa de barro tem a entrada sempre virada contra o vento e a entrada pode ser mais à direita ou mais à esquerda, conforme as habilidades para o trabalho. O João de Barro costuma fazer a limpeza da sala, retirando fezes e as jogando fora. A arquitetura é realizada quase sempre num galho mais robusto com formação de forquilha. De qualquer maneira o casal de pássaros não faz o ninho às escondidas, é sempre visível ao homem e aos bichos.

No Brasil inteiro o casal João e Maria de Barro, é símbolo de AMOR

JOÃO E MARIA DE BARRO (CRÉDITO: PINTEREST).


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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

 

CARRO DE BOI – ALGODÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de outubro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2783

 


Nada mais bonito de que um carro de boi carregado de palma forrageira gemendo pelas estradas do sertão. Muito mais bonito ainda e esperançosa, era uma carga de algodão no rumo das algodoeiras, sinônimo de esperança e progresso para o campo. Roçados enormes alvos e repletos de algodão fizeram feliz a área sertaneja do meu estado, por muitas e muitas décadas. Vi muito, morador de fazenda enchendo e socando sacas de algodão. Sacos enormes de estopa que em comprimento tomava toda a mesa do carro, eram pendurados nas linhas dos telhados dos armazéns, bocas abertas, escoradas por rodas finas de pneu e o agricultor ali dentro do saco, de pé, recebendo o algodão e o apiloando com os pés. Tempos depois, o saco era pesado em balança de peso de chumbo, empilhado para “ser levado à rua”.

E o carro de boi em frotas, seguia para a vila, para à cidade, onde era vendida a mercadoria nos armazéns ou diretamente às algodoeiras que transformavam o produto em capulho, retirando o caroço vendido como ração para matar a fome do gado leiteiro.

As máquinas complexas daquelas indústrias, Santana do Ipanema, Olho d’água das Flores, já deixavam o algodão preparado em fardo envolvido com fita de metal. Ali aguardavam os caminhões para o transporte aos grandes centros do País. Muito dinheiro circulando, fazendo enricar cada vez mais o chamado industrial do algodão e impulsionando para cima o homem do campo. O fechamento de todas as indústrias têxteis de Alagoas, depois o inseto “bicudo” que arrasou os algodoais Sertão/Agreste, deixou a grande região nordestina gemendo até hoje.

Verdade que não vínhamos tantos empregados assim nas algodoeiras, mas os campos formavam muita gente para a colheita; cada lote de 100 trabalhadores era chamado “batalhão”. Homens e mulheres protegidos do sol com chapéu de palha e/ou panos amarrados à cabeça, bisaco grande a tiracolo. Tempo depois das tragédias, inventaram o plantio de sorgo, mas não deu certo. Partiram para o incentivo à mamona para a indústria do biodiesel, mas não houve êxito. Naturalmente a mamona ou carrapateira prolifera por todos os quintais de Santana do Ipanema e até no leito seco do rio Ipanema, nos trechos urbanos mais poluídos. Usada como produto medicinal, era a mamona que, com a extração do seu óleo, azeitava o eixo do carro de boi, tornando-o cantador; ainda iluminava nas candeias e em postes de rua.

CARRO DE BOI, TRANSPORTE DO ALGODÃO (FOTO: COMUNIDADE COEP).

 

 

 

 


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