terça-feira, 23 de maio de 2023

 

O CACHIMBO DA SERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2890



 

Terça-feira (23), mais um dia nublado frio e chuvoso. A chuva fina, insistente e molhadeira, como se diz por aqui no sertão de Santana do Ipanema. E a temperatura de 24 graus é bastante para o escritor buscar agasalho e abrigo. Sou filho da caatinga e bicho de 26 a 27 graus. Mesmo com essa particularidade, vejo a rua completamente deserta e seres semelhantes devem estar na preferência da cama, do sofá, sob a égide do cafezinho quente ou da pipoca estaladeira. E apesar do cinza esbranquiçado que cobre a cidade, posso assegurar que é um belo dia para um passeio de carro e apreciação do tempo. Vai continuar chovendo? Vai parar? Uma foto do serrote Gonçalinho, que circunda a cidade, mostra o monte cachimbando. E a serra cachimbando, por aqui é estar parcialmente coberta de neblina quando o tempo estia; ou no pé ou no pico do monte. Se a neblina é na base o tempo vai para o estio, se a neblina é no pico, mais chuvas chegará.

Como já disse antes, o nosso tempo chuvoso é de outono/inverno. E como ainda estamos no outono, as chuvadas vão iniciando suas jornadas anuais. Como não temos sites especializados, nem sabemos ainda se o homem do campo já iniciou o seu plantio. Mas o certo é que todos sonham com milho assado, pamonha e canjica do período junino. Ainda não se fala em São João por essas bandas... Nem forró, nem fogueira, nem quadrilhas, mas é a própria Natureza que vai pintando o cenário de festa e fartura para o próximo mês. Milho assado, milho cozinhado, bolo de milho, povoam mentes que antecipam o São João.

E o verde da periferia, das margens do rio, da estrada, da colina e dos elevados procura enquadra-se no verde da bandeira nacional. O perfume do mato molhado é uma saudação aos riachinhos que alegram o cenário e oferecem beijos carinhosos aos pés dos caminhantes. O orvalho nas folhas molha os braços de quem logo cedo ama ao tempo e rompe a trilha. E se tudo na vida tem a sua hora, por que pensar em seca, em acauã, em sacrifícios se os céus estão derramando bênçãos sobre a terra e sobre as esperanças do seu coração?

Ainda existe o arco-íris.

O Sol chegou tímido. Abra seu coração e deixe-o entrar.

PERIFERIA OESTE DA CIDADE (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 22 de maio de 2023

 

MANIÇOBA/BEBEDOURO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.888

 



Vez em quando damos uma passada pelos bairros que formam um só, Maniçoba/Bebedouro. Lugar onde o casario se confunde ao longo da margem esquerda do rio Ipanema. Muitas rochas e árvores frondosas fazem de ambos os bairros, um belo jardim que vai sendo descoberto para chácaras da classe média que procura descanso. Na Maniçoba, o rio Ipanema recebe as águas de um riachinho que se forma em tempo de inverno, vindo da região do Residencial Brisa da Serra, parte norte da cidade e saída para o povoado São Félix. O riachinho não tem título e por isso o chamamos de “riacho Sem Nome”. Mais adiante, no Bebedouro encontra-se a estreita foz do riacho do bode, após as últimas casas do perímetro urbano. Hoje transformada em escoadouro do açude formado pelo riacho, porém, sem sangramento há muito tempo, é seca e coberta de mato.

Imortalizamos o lugar com o livro documentário ainda inédito, “Santana: Reino do Couro e da Sola”. Tendo como ponto central do documentário os curtumes daquela região que alimentava artesãos do couro, a rede de sapateiros autônomos e as fabriquetas de calçados da cidade. Muitos outros fatos, porém, ali acontecidos são narrados e vindos a lume para conhecimento dessa e das futuras gerações da terrinha. Curtumes são lugares onde o couro dos animais são transformados em couro curtido e/ou em sola. Nos tempos mais recentes nesses lugares que ostentam o primeiro documento sobre Santana do Ipanema, destacava-se a líder comunitária conhecida como “Dona Joaninha”, mulher combativa pela sua comunidade e terror dos políticos santanenses.

Tive a imensa honra de trabalhar com Dona Joaninha na “Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA.  A última vez que estive na sua casa, foi com alguns guardiões de folga que aproveitaram para pegar umas cervejas nas imediações. Dona Joaninha “deu um rela” na turma e mandou pegar cerveja gelada em um lugar próximo, dizendo: “Vocês estão na minha casa e a obrigação é minha, ora, ora, ora... Estava doente, mas não se entregava e pouco se referia aos seus problemas pessoais. Poucos meses ou semanas após esse encontro, Deus precisou daquela mulher sábia e guerreira para aconselhar alguns rebeldes na porta do Céu. Uma lacuna difícil de ser preenchida na Maniçoba/Bebedouro e em Santana do Ipanema.

CLERISVALDO E DONA JOANINHA, NO BEBEDOURO (FOTO: SÉRGIO CAMPOS).

 


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