terça-feira, 25 de julho de 2023

 

FARMÁCIA IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.935

 



A busca por ervas curativas sempre foi prestigiada por aqueles que precisavam de saúde.  Os nossos antepassados, não tendo médico na redondeza, apelavam para alguns conhecimentos dos donos de antigas farmácias chamadas boticas, era o boticário. Mesmo na época do boticário e antes disso, o sertanejo doente se fazia na reza e no mato. E quando falamos em mato, era a raiz, as folhas, as cascas, as flores e os frutos que curavam todos os tipos de mazelas. Porém, como ainda hoje, essa farmácia natural depende muito ainda dos conhecimentos do homem rural, cuja faina diária o torna um especialista no ramo, fica difícil. Muitos desses medicamentos milagrosos, como os antigos, ainda os encontramos no leito seco do rio Ipanema. Remédio para tosse, lombrigas, diabetes, pancadas, afinar o sangue, pedra na vesícula, aborto, menstruação, dor de cabeça e tantas outras mazelas que afligem o sertanejo.

Raramente um tipo de erva do leito seco do rio Ipanema e árvores encontradas, não são medicinais. Numa passada recente num determinado trecho do rio vimos carrapateira (mamona) Muçambê, urtiga, unha-de-gato, cardinho, vassourinha, quebra-pedra, capim-santo e tantas e tantas outras espécies. Mas como era bom andar nas trilhas com o garrafeiro (raizeiro) saudoso Ferreirinha que conhecia a serventia do mato como a palma da mão. A falta de médico até mais da metade do Século XX, fez criar fama raizeiros, parteiras e rezadores. Embora esses profissionais tornem-se cada vez mais raros, nunca deixaram de existir

Para quem quer fazer um balanço entre o passado sertanejo e o presente, pode sim, notar uma diferença até gigantesca, porém, a carência médica continua, independente de SUS, de hospitais, de clínicas particulares... Assim o homem do campo e da periferia ainda grita para a mulher: “Maria, vai ali no mato e me traga olhos de velame para afinar o sangue. Aproveite e pegue raiz de urtiga para fazer chá... “.

É verdade que a Educação teve uma melhora e tanta em todas as regiões sertanejas, embora o ideal ainda precise ser conquistado, mas na saúde ainda falta tanta coisa que uma relação bem feita iria hoje parecer sonho impossível.

É por isso que o leito seco do rio Ipanema continua sendo um celeiro de medicamentos.

LEITO SECO DO RIO IPANEMA FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

 

 

 

 


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segunda-feira, 24 de julho de 2023

 

CARRO VOADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2.934

 



Quando eu era rapazinho, um cidadão de fora colocou uma casa de aluguel de bicicletas que funcionava no “prédio do meio da rua”. Ah! Isso era uma grande novidade para a juventude que não tinha acesso à compra de uma bicicleta nova e, nem sequer havia lugar de venda na cidade. Andar de bicicleta era coisa rara e quase fantástica, assim como muitos e muitos anos depois, a irmã holandesa Letícia usava esse veículo para se deslocar ao trabalho. Com o hábito de freira sem nada atrapalhar, a irmã passeava de bicicleta com a maior desenvoltura chamando atenção de todos os santanenses. Costume da Holanda posto em prática por aqui, cuja população jamais vira uma freira naquelas condições. Os hábitos da irmã surpreendiam até na hora de tomar um cafezinho sem açúcar.

Mas voltando ao aluguel das bicicletas, pouco tempo depois, o cidadão daqueles serviços deixou o “prédio do meio da rua” e mudou-se para um compartimento à Rua Coronel Lucena, defronte ao chamado Beco de seu Abdon. Era uma beleza! O preço do aluguel por uma hora era bastante razoável e cabia no bolso da meninada sequiosa por algo novo em suas diversões, além dos jogos de ximbras, pinhões, bola, gangorra, e banhos no rio Ipanema. Além do aluguel barato, o dono do negócio era muito paciente e tranquilo, coisa que transmitia segurança. Era ele mesmo quem consertava e ajustava as peças do veículo de duas rodas. Lembranças vêm de um dos dentes da corrente que penetrou no meu dedão do pé e deu um trabalho danado para sair.

Diante do anúncio nacional em que a Embraer via iniciar sua fabricação de carro voador, em São Paulo, fizemos uma comparação dos anos 60, no caso dos veículos. E lá atrás cada carro diferente comprado por alguém da cidade, era notado de pronto nessa urbe cujo tempo passava devagar. O carro de boi continuava em evidência, o cavalo esquipador, o carro lustroso de praça, ou a sopa que fazia o trajeto interior – capital. Até mesmo o famigerado “Zepelim” – balão dirigível em forma de charuto – foi sucesso absoluto por aqui. Tudo isso sem contar com a correria de adultos e adolescentes para contemplarem de perto os aviões tipos teco-teco que aterrissavam no campo de aviação a 3 km do centro da cidade. Será que a EMBRAER vai colocar em Santana do Ipanema, uma CASA DE ALUGUEL DE CARRO VOADOR?

 

AVIÃO TIPO TECO-TECO.

 


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