quinta-feira, 24 de agosto de 2023

 

MACACO-PREGO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.951

 



Quando o senhor Silvano mantinha um macaco-prego engaiolado em gaiola de ferro, diante do seu estabelecimento de serviços, servia de curiosidade e distração aos seus clientes. No lugar chamado “Firminão” – saída de Santana do Ipanema para Pão de Açúcar – o símio era valente, estressado e tanto se masturbava quanto avançava em quem com ele mexia. Era de fazer pena, um bicho enjaulado onde mal cabia o próprio macaco. Isso fazia pensar se aquele era o último macaco sertanejo de Alagoas, pois, do seu parente o saguim, tínhamos notícias sobre sua existência em reserva ecológica, próxima. Inclusive, o macaco do Silvano foi motivo de peça de cordel, por cordelista das proximidades. O caso está com alguns anos e não sabemos onde foi parar o (Sapajus flavius).

A descoberta recente da existência de um bando de macacos-pregos-galegos, numa Unidade de Reserva do nosso Sertão, pelo IMA, traz uma certa alegria às pessoas que se preocupam com a conservação da Natureza. Uma Natureza belíssima semeada pelo Criador e destruída pelo homem. A onça já foi, o tamanduá, o veado galheiro, o lobo-guará, a preguiça... Ficando apenas os que tentam resistir como a cobra, o preá e a raposa...  Portanto, uma notícia dessa trazida por órgão oficial, da existência do macaco-prego-galego, não deixa de ser uma esperança de que mesmo tarde, da reação protetiva dos humanos, é melhor de que nunca. Não é o bastante uma vigilância efetiva nas Unidades de Conservação, mas uma consciência coletiva no entorno para reforçar a segurança dos bichos, comidas e assistência veterinária

Os macacos gostam de viver em bando, possuem organização e lideranças. Alimentam-se de frutas e gostam de comer coquinhos, tipo Ouricuri, que quebram com uma pedra à semelhança de um ser humano. O nome macaco-prego vem da constante ereção do pênis.

Quando entram em roçado de milho costumam roubar espigas organizadas em atilhos. Enquanto fazem esse serviço, é escalado um vigia, cujo descuido na vigilância leva castigo do bando. Lembram-nos um macaco-prego acorrentado na feira de Santana que fazia acrobacias e vários mandados do seu dono, para ganhar dinheiro. Mais tarde soubemos que pelos mal tratos, o primata assassinou o seu algoz, com uma facada, pelas costas, na zona da Mata. É isso, este não suportou mais tempo pela chegada da lei dos humanos. Não soubemos, porém, o seu destino após a vingança peculiar de um bicho escravizado.

MACACO-PREGO (FOTO: TRIPADIVISOR).


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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

 

MARTÍRIOS

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

 Crônica: 2.950

 



Bem no centro de Maceió, a Igreja dos Martírios, popularmente conhecida, tem como padroeiro o Bom Jesus dos Martírios.  Por ficar defronte a uma grande praça, esta também passou a ser denominada pelo povo de Praça do Martírios. E o antigo Palácio do Governo, do outro lado da praça, repetiu a tendência geral: Palácio dos Martírios. Conheço aquela igreja, por fora, desde o tempo de criança, mas a alguns anos, vinha notando um certo abandono na limpeza que muito me incomodava. Hoje no interior de Santana do Ipanema, vejo noticia na mídia da sua restauração completa, o que vem acontecendo no período de três anos, segundo reportagem.  A Igreja dos Martírios foi construída no século XIX e é o mais luxuoso templo de Maceió. Com milhares e milhares de azulejos portugueses, dizem que é única no Nordeste.

O terceto acima é a história e o testemunho da história de decisões e desenrolar de lutas e mais lutas naquele quadrado de terras. Lembro-me, inclusive, de uma decisão do, então governador Osman Loureiro, citado em nosso livro “Lampião em Alagoas”. Chamando o coronel José Lucena Albuquerque Maranhão, ao palácio, o governador exigiu desse comandante do 70 Batalha de Polícia, sediado em Santana do Ipanema para combater cangaceiros, 30 dias para acabar com Lampião. Getúlio Vargas, havia dado o prazo de 60 dias aos governadores. A primeira coisa que Lucena fez após o rigor da ordem, foi sair acabrunhado do palácio e se dirigir diretamente à Igreja dos Martírios, pedir ao Bom Jesus, luzes para cumprimento da missão.

Em menos dos quinze dias estipulados, Lucena entregava a cabeça de Lampião, Maria Bonita e mais 11 sequazes, ao comando geral, em Maceió.

Com a conclusão da igreja restaurada, vibra a capital e o estado com o feito determinante, necessário e infinitamente relevante para o povo católico, devoto e abrasador das Alagoas. Quantas e quantas vezes tirei foto daquelas torres ocupadas pelos pombos elegantes dos arredores! Praça de batalhas e batalhas sem conta do SINTEAL contra a tirania de dirigentes palacianos sobre política salarial dos servidores!

Parabéns a quem merece, pela restauração total! Acabou o martírio dos Martírios.

IGREJA RESTAURADA (FOTO: ADAILSON CALHEIROS/TRIBUNA DE ALAGOAS)

 

 


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