segunda-feira, 16 de junho de 2008

Comendo boi, comendo onça

Comendo boi, comendo onça
(Clerisvaldo B. Chagas -1.6.2008. 17 hs).

Antigamente o eleitor tinha duas opções; ou votava no governo e ganhava tapinha nas costas ou não votava no governo e recebia chibatadas no lombo.
Nos anos 50 do século passado, o sistema sertanejo nordestino já havia evoluído. O leitor vinha para a cidade no dia do pleito e almoçava na casa do candidato. O sacrifício de um boi assegurava o prestígio do pleiteante a cargo público, notadamente para prefeito. Além de comer do boi do festim, o “compadre” ainda era regiamente agraciado com pares de alpercatas novas e chapéu de massa fina. Para a “comadre”, sapatos da “rua” e vestido florido de preferência vermelho.
Com os lentos apertos da Justiça, foram desaparecendo os acessórios, permanecendo apenas o almoço disfarçado de necessidade.
Após o regime de exceção, entretanto, surge à prática que iria substituir os sabões dos pratos e as barrigas inchadas. Daí em diante os metais aparecem, fortificam-se, engordam, agigantam-se. É o delírio tresloucado das massas. A valorização do real em pleno século XXI faz a mágica do engolidor de moedas e o papel colorido reina absoluto nas eleições dos interiores. Sai Floriano, afasta-se Getúlio. A figura atrativa, elegante, feminina e poderosa da onça-pintada brasileira assume definitivamente o reinado de Pedro II.
Durante as atuais eleições para prefeitos de municípios do Sertão, a onça berra como nunca, nas grotas, nas quebradas, nas serras; invade as periferias urrando nas consciências degeneradas das multidões. O seu império alcançou o centro de cidades pequenas e médias. Categorias profissionais em peso, vergonhosamente fazem fila em pleno centro comercial para receberem o papel engomado dos cinqüenta.
Mesmo com as últimas operações policiais e ações da Justiça em Alagoas, a prática da compra de votos dificilmente cessará. A fome de dinheiro ainda esbugalha os olhos e desperta uma cobiça quase agressiva do eleitor viciado através de décadas. É pouco “xô” e muitos urubus. Os políticos estão desconfiados, é verdade. Entretanto, a prática tem mostrado os malabarismos no reino do felino em questão. Eles sabem. Estão cansados de saber, que sem dinheiro não se chega à meta desejada. No Sertão o prestígio capitula diante do bolso fermentado. As últimas eleições foram ganhas pelos que gastaram mais. Assim será a próxima. Um leilão insano, intolerável, suicida que tem ameaçado constantemente a Democracia brasileira. Não se barra uma cultura viciada da noite para o dia. Enquanto escrevo, muitíssimos estão por aí conspirando como avançar no “carvão”, no “cacau”, no “João-da-cruz”, no “cinqüentinha”... Como comer a onça-pintada das mãos fétidas dos corruptos brasileiros.
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