O POETA E O GUARDA DE
PESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.132
(FOTO: MAICON MARCOS LITHIRE) |
No século passado houve um período de intensa
campanha organizada pelo governo, contra a peste. No combate a doença,
transmitida por roedores e suas pulgas, estava inserido o “guarda de peste” ou
“mata-rato” que visitava as casas investigando e tentando evitar a doença.
Cheguei ainda a conhecer cerca de três desses bravos heróis da saúde, em minha
terra. Muitas vezes o guarda saía pela zona rural onde passava até uma semana
fora de casa, nas suas visitas diárias aos sítios. Examinava, anotava, e sempre
colocava um produto nos depósitos d’água de beber, notadamente no pote de barro,
largamente usado na época. Era uma vida dura.
Mas o povo não gostava muito do guarda de
peste, porque o produto defensivo – chamado pelos habitantes do sertão de
veneno – deixava a água do pote com gosto esquisito. Nem sempre, porém, a
recepção era má. Havia pessoas que recebia o guarda de forma cordial, convidava-o
para o almoço ou lhe dava pequenos presentes, originários dos sítios.
Ao
entrar na residência, o funcionário do governo deixava uma bandeira na porta ou
na janela. Foi em uma dessas ocasiões em que o festejado poeta Joaquim Vitorino
estava no alpendre de uma fazenda, quando um guarda de peste se aproximou e fez
o cumprimento. O vate não perdeu tempo e, com muita ironia e talvez com um
pouco de inveja, vomitou a estrofe, em décima:
Aqui
nesse meu Nordeste
Vem
gente igual ao senhor
Goza
mais do que doutor
Nesse
negócio da Peste
Andando
pelo Agreste
Não
lhe falta o que comer
É vinho e pinga a valer
Grande
é o seu regalo
Comendo
galinha e galo
Botando
o pote a perder.
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