segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

 

FALANDO EM CANGACEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.011



 

O Josias Mole, morador na serra da Remetedeira, em Santana do Ipanema, vingou a humilhação do pai, matando seu desafeto, comeu cadeia por duas vezes, além de levar uma sova da polícia. Procurou Lampião, ingressou no bando e recebeu o vulgo de Gato Bravo. Tempos depois, fugiu do cangaço e foi preso como barbeiro nas imediações de Arapiraca. Seu nome foi registrado por um cordelista quando esteve em Juazeiro com Lampião. Porém, além de Gato Bravo, Santana do Ipanema teve outro cangaceiro que assim como o Gato também fugira do cangaço após seis meses no bando.

Filemon e dona Júlia era um casal moreno.  Ela, desbocada e vendedora de comida nas feiras de sábado, assim como sarapatel.  Muita conversadeira em voz alta. Filemon, moreno alto, magro e muito calado, só falava quando era preciso. Sempre era contratado pela sociedade, para fazer feijoadas nas festas, bem como matar e preparar cágados (jabutis) para os boêmios da cidade. Era incomparável cozinheiro nas iguarias acima e muito procurado para o mister. O casal era cliente da loja de tecidos de meu pai, onde ouvi sua narrativa resumida como ex-cangaceiro. Trabalhava na vila Mariana, em Pernambuco, quando por ali passou Lampião e seu bando, convido-o para suas hostes e ele aceitou na hora. Acompanhou o bando. Não falou o vulgo que recebeu e se falou não lembro. Disse que passara seis meses no cangaço e, sentindo que aquilo não era vida para ele, fugiu do bando do qual ninguém podia deixar. Estava presente no sequestro de um coronel de Águas Belas e explicou direitinho porque Lampião não o matou. Bate com alguns escritores que falam do assunto.

Na época em que nem pensava em pesquisar o cangaço, inclusive, havia muitas fontes de soldados volantes que mataram Virgulino, todos os dias em reuniões de amigos na porta da igreja principal de Santana; e ainda um dos ordenanças do coronel Lucena, o soldado reformado como sargento Idelfonso, vulgo Fon-Fon.  Esse era alto, magro e branco, puxava por uma perna e ainda usava cartucheira com revólver e lenço vermelho no pescoço. Orgulhava-se tremendamente em ter sido da “confiança de Lucena Maranhão”.  Sobre Gato Bravo, sua vida civil foi descrita pelos escritores Oscar Silva e Valdemar Souza Lima. Sobre Filemon foram registradas poucas linhas por mim, semelhantes a estas. Fora avô do presente funcionário público, lotado no Colégio Estadual Mileno Ferreira da Silva, Carlão, que também fora líder sindical.


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