terça-feira, 8 de setembro de 2009

A SENTENÇA DO BEDEL

A SENTENÇA DO BEDEL

(Clerisvaldo B. Chagas. 8.9.2009)

A filosofia está em todos os lugares, seja clássica, seja popular. Sem conta são os ditados e provérbios do povo, passados de geração a geração. Convém dizer que os palavreados chegam com grande fundamento sobre qualquer assunto do dia-a-dia.

Havia em Santana do Ipanema, cidade sertaneja de Alagoas, um cidadão conhecido como Duda Bagnani. Baixo, caradura, irascível, fora soldado de polícia e depois passou a bedel do Ginásio Santana. (O Ginásio é uma escola cenecista fundada na cidade em 1950). Duda fazia a limpeza, abria e fechava o estabelecimento, sempre baseado na honestidade e no cumprimento do dever. Mas quando a “marvada” batia na goela do bedel, anunciava muitas aventuras que passavam a fazer parte dos contadores de casos de Santana. Ao beber, Duda ficava abusado e virava falso valentão. Com isso várias passagens divertidas foram narradas e serviram de rabiscos sobre o bode expiatório.

O Ginásio funcionava a partir das 19 horas. Por ali passaram dois diretores rígidos: Alberto Agra e Mileno Silva. Certa feita, o diretor chegou mais cedo e encontrou a escola fechada. Aguardou um pouco e nada do bedel aparecer. Homem sério e vivido, o dirigente manda um portador em busca do funcionário. Duda foi encontrado curtindo homérico porre etílico em sua residência. Após recado do portador, o bedel disse que não iria abrir a escola sequer para o presidente da república. O correio retornou com a resposta. Mileno Ferreira da Silva, o diretor, pediu, então, que o homem voltasse lá e trouxesse pelo menos as chaves. Duda novamente recebeu o recado e disse filosofando: “Diga a Seu Mileno que se quiser chave venha buscar. Seu Aberto que é seu Aberto não manda em mim, quanto mais Seu Mileno! Ora! Ora! Ora! Eu não digo que estou mole mesmo! Quem se abaixa demais o c... aparece”.

A resposta do bedel Duda Bagnani, é verdade, pode ter sido chula, mas o provérbio do povo contém extrema sabedoria. Não tem quem não conheça os que se especializam em infames atos de agrados excessivos aos superiores. Algumas pessoas denominam esses entes fracos de bajuladores, capachos e outras denominações conhecidas que recusamos a digitar. Ou esse tipo de gente sente um prazer profundo como o ato sexual, ou não sente nada. Quer dizer, em nenhum momento nota que está sendo ridícula. “Patrão, deixe que eu almoço pelo senhor”. “Quer ir ao banheiro? Precisa ir não. Fique aí no ar condicionado que eu vou em seu lugar”.

Conhecemos e usamos muitos adágios nos escritos porque admiramos a sabedoria do povo. Mas na época desconhecíamos a máxima levada para o Ginásio Santana. Ela merece reflexão para um policiamento dos nossos atos. Servir, mas servir com dignidade para não perder o respeito de si mesmo e das pessoas que fazem o social. Nunca descartar o seu brio, amigo, uma das coisas mais sagradas para o ser humano. Em qualquer situação na vida, não se acanhe em usar a chula e sábia SENTENÇA DO BEDEL.


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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

BRASIL; DUAS VITÓRIAS

BRASIL: DUAS VITÓRIAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 7.9.2009)

O dia 7 de setembro parece comemorar dobrado a Independência do Brasil. O futebol voltou a proporcionar a alegria que o povo ambiciona. Em meio a tantas confusões no cenário nacional, parece mesmo uma bênção divina a ação coletiva dos nossos jogadores. Moderados e fanáticos acomodaram-se nas fofuras das poltronas com um olho no peixe outro no gato. Valeu à pena o nervosismo inicial de uma partida que atraiu o mundo inteiro, principalmente América Latina e Europa. As provocações deram um sabor não somente à vitória, mas a um desabafo gostoso dos que acompanharam os fatos. O jogador que disse que ia engolir o Brasil sofreu, ao que parece, um estreitamento da goela grande demais. O estádio que seria um alçapão virou casa de choro; e o medo da seleção brasileira, segundo Maradona, até hoje é procurado e ninguém o encontra. Homem triste, o senhor Maradona, que só abre a boca para dizer asneiras. Quanto a alguns jogadores da Seleção, acompanhamos o Robinho desde os tempos do Santos. Sempre torcemos para que um dia, o garoto chegasse a ser o melhor do mundo. Observando, porém, a trajetória do garoto, vamos perdendo às esperanças. É um craque, mas não consegue concorrer à posição nº 1. Não estava inspirado lá em Rosário. Resolvemos torcer, então, pelo sucesso de Ramires, devido a sua humildade e ao revelado futebol. Pena seu tempo ter sido curto. Já o goleirão, continua firme e é quase unanimidade que atualmente Júlio César é o melhor do planeta. A rivalidade entre Brasil e Argentina vem do passado, das antigas questões de fronteiras e guerra entre os dois países. Vem também do fato em que o país vizinho gozava de uma prosperidade muito maior do que a do Brasil. Com o nosso desenvolvimento, passamos a frente dos irmãos e continuamos na dianteira da América do Sul. É certo, entretanto, que muitas coisas foram amenizadas, permanecendo o ânimo salutar no futebol. Esse é mesmo o maior clássico do mundo, Brasil X Argentina. Não se pode negar a habilidade e a garra dos jogadores vizinhos. Dunga deu uma grande lição de humildade, mas não somente de humildade, mostrou um autodomínio impressionante. Diante das palavras azedas do técnico rival, qualquer um responderia com desaforo e desdém. Calado, o treinador brasileiro tudo suportou e deu o troco em campo, mostrando a madura personalidade.
Nesse dia da Independência, então, tivemos duas grandes vitórias, uma normal em cima da seleção argentina e outra muito maior ainda que foi a de fazer Maradona engolir as unhas. A vitória sobre o baixinho representou o tempero que faltava no caldeirão de Rosário. Hoje, as forças armadas vão desfilar em Brasília; o presidente da França vai vender seus submarinos, caças e helicópteros; Festa em Brasília, festa em Salvador, festa no Brasil inteiro. Mais samba em cima do tango, mais euforia sobre a imprudência de Maradona. BRASIL: DUAS VITÓRIAS.

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