quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

AS TROVOADAS

AS TROVOADAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.12.2009)

Voando ou devagar os dias vão passando e finalmente chega o início de dezembro. Temos no Sertão de Alagoas o clima semi-árido com as seguintes características: quente e seco; duas estações distintas chamadas popularmente inverno e verão; chuvas mal distribuídas e uma pluviosidade em torno dos 700 mm. Fenômeno notável e muito aguardado pelos sertanejos é a trovoada que pode aparecer em novembro, dezembro ou janeiro. As chuvas de trovoadas amenizam a temperatura, enchem açudes, barreiros, reverdecem os campos e trazem a certeza de melhores dias à população rural. Foi com esse acontecimento que o homem simples criou o ditado: “... igual às trovoadas de janeiro, tardam mais não faltam”. Essas chuvas benfazejas seguidas de relâmpagos e trovões quando atrasam em novembro ou dezembro chegam a janeiro nem que sejam no final do mês. No céu vão se desenhando as nuvens cor de chumbo, os urubus fazem festa, a garrota escaramuça, o boi cava o chão e as formigas procuram abrigo nos lugares mais altos.
Para o agricultor sertanejo, o ano sendo bom de chuvas, as safras de feijão e milho salvam o bolso nos meses junho/julho. Antigamente, quando o homem do campo estava quase sem dinheiro, chegava a safra do algodão no mês de setembro. A venda desse produto industrial era chamada dinheiro quente e ocasionava a saída das dificuldades financeiras. Era com ele que o matuto vinha para as festas de Natal e Ano Bom, quando vestia e calçava toda a família. Depois que o bicudo acabou com o algodão, outra renda ainda não apareceu para substituí-lo. Em nosso estado de Alagoas agricultor não melhora; agricultor só piora. Que nome! Sopiora. E as ilusões do campo continuam para quem não pode mais deixar a terra em que nasceu e por ela derramou suor e lágrimas.
Quando estamos na capital notamos até mesmo raiva de algumas pessoas no apontar das trovoadas. É que ao invés de euforia as chuvas trazem transtornos. Ficamos a pensar sobre o Sertão; a alegria com que as criaturas avistam os sinais dos céus; as nuvens que se acumulam; o escuro do espaço; a felicidade dos que olham do alpendre a precipitação vitoriosa. E na capital as águas escorrem pelo asfalto procurando saída, embaçando a visão, deslizando pneus. Lá no sertão elas furam a terra, abraçam os riachos, deitam-se nas barragens sequiosas.
Sem algodão, sem opção, sem direção ─ diz o poeta ─ seguem sem perder a coragem os descendentes tapuios. Mas o céu de anil vai mudando de cor trazendo um olhar gratificante dos que ainda acreditam no Supremo. A primavera seca facilita um tufo de vida que se aproxima movida por uma prece estranha. E o escritor aniversariante vê o rodeio das nuvens companheiras. Um presente de Deus para ornamentar essa data que também é Dele. Bem vinda seja a pureza das águas que removem faltas. Abençoados venham o cheiro, o fulgor e as benesses das nossas TROVOADAS.

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O MEL DE PEDRO ALEIJADO

O MEL DE PEDRO ALEIJADO
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.12.2009)

São inúmeros os casos (hoje chamados folclóricos) acontecidos no interior. Um deles é o de Pedro Aleijado, personagem musical de Santana do Ipanema. Morador da Rua Prof. Enéas de Araújo, Pedro sempre teve habilidade com o pandeiro nos áureos tempos das farras, décadas 50-1960. Assíduo convidado pelos principais farristas da região, também tocou pandeiro para muita gente famosa que passou por essas terras. Pedro recebeu vários apelidos como “Pedro Aleijado”, “Mão de Aço” e “Deixe-Que-Eu-Chuto” (este porque puxa uma perna). Sempre alegre cheio de brincadeiras, Pedro ainda enfrenta um bom gole de Rum. Pelas tardes, o homem coloca uma cadeira na calçada e fica jogando lorotas com quem passa pela estreiteza da rua. Ali é uma fonte de pesquisa sobre as personalidades das noitadas santanenses. Para sobreviver, “Mão de Aço” botou na cabeça, vender mel de abelha pelas cidades circunvizinhas. Certa feita um cidadão, querendo fazer um remédio à base de mel, foi à casa de Pedro. Saiu um garoto e perguntou o que desejava o visitante. Depois o menino falou que o pai estava ocupado lá no quintal, fazendo mel de abelha. Essa passagem contribuiu para que o homem perdesse quase toda clientela automaticamente. É por isso que uma pessoa habilidosa gosta de dizer que faz tudo, menos mel de abelha. Logo quem conhece o caso rebate:"Mas Pedro Aleijado faz”.
Nós alagoanos geralmente não temos opções nas eleições para governador. Quem não faz parte dos “mesmos”, fica com pequenas possibilidades de se eleger. O eleitor fica indeciso, porque sabe que em Alagoas existe um círculo de viciados que não conseguem fazer com que esse estado saia do atraso fruto deles mesmo. Quem espera por uma candidatura nova, um líder jovem, idealista, vibrante, comprometido com a ética e com o povo, vai aguardar muito na poltrona fofa. O eleitor esclarecido, diante da sede de poder de tantos homens perigosos, fica frustrado por não poder contribuir com mudanças verdadeiras. Se não é uma oligarquia é um cartel permanente que resseca as gorduras de Alagoas, deixando o estado a mostrar os ossos para o restante do Brasil. Somos os párias; os filhos que não tem direito; o alagoano garroteado que muitas vezes se envergonha da terra em que nasceu. Quando se aproximam as eleições, o leitor não tem mais ânimo. Ânimo mesmo só para colocar para fora o que estão; para contrair novo desânimo com os que entram. Diz certo setor religioso que Alagoas foi escolhida para ser o lixeiro do Nordeste. Apesar de ser tão bela, carrega um saco permanente para guardar o negativo. Estou quase acreditando nisso. Mesmo assim vamos driblando, sobrevivendo, analisando e desanimando cada vez mais. Continuamos ricos em homens farinhas de Araripina ou semelhantes ao MEL DE PEDRO ALEIJADO.

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