sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O GIGANTE DA CAJARANA

O GIGANTE DA CAJARANA
(Clerisvaldo B. Chagas, 17 de dezembro de 2010)
     Todos os grandes empreendimentos em nossa terra foram conseguidos com muita luta e sacrifício. Lembramos a água encanada, a luz elétrica, o asfalto na BR-316 e na AL-230, o Hospital Arsênio Moreira, as duas pontes sobre o rio Ipanema, o Colégio Estadual e a Estação Rodoviária que mobilizaram a sociedade completa. Pois é com alegria das grandes batalhas vencidas que vamos encerrando os capítulos finais pelo funcionamento do hospital geral Clodolfo Rodrigues de Melo. A partir da quarta-feira passada, foram iniciados serviços de urgência e emergência no “Gigante da Cajarana”. Segundo notícias divulgadas por aqui, a equipe médica atenderá 24 horas por dia a vinte e cinco municípios sertanejos mais pedaços de estados vizinhos como Sergipe, Pernambuco e Bahia. Não deixa de ser motivo de orgulho para a nossa cidade, o funcionamento de um carro-chefe para a Saúde. É um grande salto para o futuro que poderá reivindicar uma faculdade de medicina para a “Rainha do Sertão”. Com a reabertura, onde foram investidos em torno de 15 milhões e a disponibilização mensal de 1,8 milhões para o Fundo Municipal de Saúde, consolida-se o sonhar do interior. As estimativas são de dez mil atendimentos por mês, que apontam pleno funcionamento da Unidade no próximo janeiro. Dentro das informações, constam ainda que foram contratadas todas as especialidades, já se encontrando em funcionamento a parte de diagnóstico de imagem, o laboratório clínico e também a parte ambulatorial. Antes do dia 25, estará funcionando o serviço de internação. Ao todo, poderá contar com 173 leitos entre UTIs adulta e pediátrica; clínica médica, cirúrgica, obstetrícia e pediátrica, emergência e neonatologia.
     Nem o estado todo conhece os nomes das cidades do Sertão e Alto Sertão, mostrados agora num rol misto por ordem alfabética. Todos serão atendidos no hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, mediante convênios. São eles: Água Branca, Batalha, Belo Monte, Canapi, Carneiros, Delmiro Gouveia, Dois Riachos, Inhapi, Jacaré dos Homens, Maravilha, Mata Grande, Monteirópolis, Olho d’Água das Flores, Olho d’Água do Casado, Olivença, Ouro Branco, Palestina, Pão de Açúcar, Pariconha, Piranhas, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, São José da Tapera e Senador Rui Palmeira.
     Além de puxar o desenvolvimento para a região, o novo hospital desafogará as unidades de Arapiraca e Maceió, fontes indispensáveis de socorro ao semi-árido. As brigas políticas, os xingamentos populares, o desespero e a angústia do povo, começam a transformar-se nos louros da vitória. Vamos aguardar agora as instalações definitivas relacionadas à UFAL e IFAL para, juntamente com a UNEAL e a nova unidade da Saúde, transformarmos Santana do Ipanema em um polo respeitado nessas duas áreas e atrativo para outras grandes aquisições. Nesse período natalino, a terra de Senhora Santa Ana não poderia ter recebido presente melhor do que as notícias alvissareiras sobre o Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, O GIGANTE DA CAJARANA.

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NÊGO BEBO AÍ

NÊGO BEBO AÍ
(Clerisvaldo B. Chagas, 16 de dezembro de 2010)
     Vamos valorizando as nuances entre o moderno e a poeira da antiga Rua Antonio Tavares, cidade de Santana do Ipanema, representante legítima do Sertão e Alto Sertão alagoano. Muitos dias sem novidades na primeira rua do município. Naquele movimento rotineiro ocupa seu espaço a bodega do Seu Antonio. Na outra esquina do beco, o fabrico de carne de sol de Otávio Argolo, vulgo Otávio Magro. O Beco da Salgadeira vai vivendo com os atrativos da entrada e o depósito de lixo do seu corredor ladeiroso. Elo entre as Ruas Antonio Tavares e Professor Enéas. E nos fundos da casa comprida, Seu Antonio (nem sei mesmo se o nome era Antonio) a fabriqueta de vinagre. Antonio e esposa, casal distinto e trabalhador que vendia um pouco de tudo. Parelha com dois filhos, homens feitos, um em Santana e outro no Rio de Janeiro que davam bastante trabalho. Severino e Zezé preocupavam os pais laboriosos. E nós, crianças, íamos trocar “destões” por bolachão (bolacha grande e fofa, deliciosa com manteiga). Os grandes frascos de vidros cheios de doces variados ornavam o balcão rígido de madeira. A fábrica Neusa abastecia esses frascos cobiçados pela meninada. Dos fundos da nossa casa, eu lançava os olhares perscrutadores para a paisagem distante, lá do outro lado do rio. Da varanda, às vezes, via passar em direção à cidade, a Van com o nome enorme “Neusa”, escrito na lateral. Era o aviso garboso de que as bodegas e mercearias iriam encher aqueles frascos apetitosos. Na época, faziam sucesso as marchinhas de carnaval e, entre elas, a que dizia assim:

“Foi numa casca
De banana que pisei, pisei
Escorreguei
Quase caí
Mas a turma lá de trás, gritou:
Chi! Tem nêgo bebo aí...
Tem nêgo bebo aí!”

     A chegada da Neusa marcava a hora de procurar doces novos na bodega de Seu Antonio. Certa vez ali entrei quando a senhora, distraída, cantarolava a marchinha enquanto espanava a prateleira. Passei a vista nos vidros repletos de doces. Um deles mostrava uns bonequinhos coloridos e transparentes. Indaquei o nome do doce. A mulher não se embaraçou. Como estava com a música na cabeça e na boca, deu de ombros e respondeu: “Nêgo bebo aí!” Então, também dei de ombros e comprei quinhentos reis de “nêgo bebo aí”, batizado pela esposa do bodegueiro.
     Agora, nesse tempo eletrônico de viver, ainda encontro bolachões fora da bodega de Seu Antonio. Menores, é verdade, mas os mesmos bolachões, quadrados e fofos. Não sei, entretanto, se a fábrica Neusa ainda existe. Mas, da poeira da Rua Antonio Tavares direto para os salões administrativos públicos, a velha pátria amada continua sem lixeira. Sempre, sempre, grita a turma lá de trás: “Chi! Tem nêgo bebo aí! Tem NÊGO BEBO AÍ!”.




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