quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

OCEANO CARLEAL

OCEANO CARLEAL
(Clerisvaldo B. Chagas, 23 de dezembro de 2010)
       Vamos atravessando a Rua Nova de Santana do Ipanema, Alagoas. Construída no terceiro patamar em ordem de afastamento do rio, a rua faz ligação entre o comércio e o Bairro São Pedro. Essa via continua conhecida com esse apelido desde a sua formação, superando em muito o seu nome oficial. Para batizá-la, o prefeito interventor Firmino Falcão Filho (Seu Nozinho), gestão 1947-48, denominou-a Benedito Melo, através do Decreto Nº 37 de 18 de outubro de 1947. Benedito Aquino Melo havia sido comerciante local e intendente eleito do município, gestão 1925-28. Rua considerada muito calma, sempre foi esquerda a negócios e, mesmo estando ligada ao comércio, tem pouco movimento de veículos. Quase toda plana, tem um declive suave no seu último trecho, ligado ao bairro do santo acima. Bem no meio desse trecho, foi construída a primeira igreja fora dos moldes católicos em nossa cidade. A igreja batista resistiu décadas e até possuiu escola nos fundos com saída para a rua vizinha superior. Defronte a igreja batista, do outro lado da rua, havia um muro alto e comprido com cerca de 150 metros ao longo da via. Era um muro cru, avermelhado e áspero, que parece ter sido construído com areia, barro e cal, levando a expressão da época: feito de caliça. Na sua extensão havia vários portais livres, que mostravam os quintais das casas da rua de baixo, onde havia também um amplo terreno baldio que ligava a Rua Nova à Rua Antonio Tavares. Em tempo de eleição, os políticos usavam o muro para os desenhos das suas propagandas. Décadas a fio ficaram como testemunhas as propagandas de Arnon de Melo e outra que dizia: deputado federal Oceano Carleal. Não saíam das nossas cabeças de crianças e adolescentes aquelas pinturas com letras azuis que venciam os tempos, trinta, quarenta anos, a nós passantes de todos os dias: deputado federal, Oceano Carleal.
       No fim desse muro extenso, começavam os balaústres semelhantes ao que cercava o Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Aproximadamente, setenta metros separavam as ruas de cima e de baixo, cuja altura era cortada por uma escadaria ao meio. Ali também era ponto de encontro e malandragem da época. Na Rua Nova funcionou a primeira gráfica da cidade, vinda da Rua Nilo Peçanha, numa sequencia de três senhores proprietários: Raimundo, Luís Gonzaga Pereira e Cajueiro de Castro, bem próxima a igreja batista. No trecho inicial, perto da Pracinha Emílio de Maia, trabalhou o Jornal do Sertão, encarte do diário Jornal de Alagoas. Foram essas coisas mais importantes que funcionaram naquela rua formada quase cem por cento de residências. Nunca procuramos saber, dentro desses supostos quarenta anos em que as propagandas políticas permaneceram no muro arranhento, se o tal Dr. Oceano foi eleito ou não. Mas aquele nome diferente que representava uma grande porção de água salgada (Atlântico, Índico ou Pacífico) sempre foi motivo de atração e lembrança da juventude. Para deputado estadual: OCEANO CARLEAL.


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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

OUTRO GRITO NO ESCURO

OUTRO GRITO NO ESCURO
(Clerisvaldo B. Chagas, 22 de dezembro de 2010)
       Não faremos aqui uma análise social profunda do que representa o fim da bandidagem no Complexo do Alemão. O objetivo é apenas mostrar o impulso da qualidade de vida proporcionado pelo novo tipo de transporte. Inspirado no sistema teleférico de Medellín, na Colômbia, acaba de ser inaugurado pelo presidente Lula, sistema semelhante no complexo de favelas que compõem o Alemão. Esse projeto liga o sistema ferroviário ─ usado por milhares de trabalhadores do Rio de Janeiro ─ à favela distante da Fazendinha. Esse trajeto que gastava uma hora e trinta minutos passará a dezesseis minutos, apenas. Estarão interligadas as diversas favelas do Alemão em um percurso de três quilômetros e meio, através de 152 gôndolas. Cada gôndola poderá transportar até dez passageiros pelas seis estações oferecidas: Bonsucesso, Morro do Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Fazendinha. O governo não se esqueceu de estruturar todas as estações com postos de serviços, incluindo agência bancária, sala de leitura e centro de referência para a juventude. O esquema faz parte do Projeto de Aceleração do PAC e passa a contar com quarenta e nove torres de sustentação, onde cerca de trinta mil pessoas circularão por dia.
       Santana do Ipanema, Alagoas, com o segundo movimento comercial do interior, não dispõe de serviços coletivos. Os deslocamentos são feitos através de táxis ou moto táxis. Ora! Os comerciários, que sempre ganham pouco e trabalham no centro, moram na periferia, sofrem com o problema de transporte. Se uma dessas pessoas vai de manhã ao trabalho, volta para o almoço, retorna ao comércio e novamente volta a casa à noite, ou acaba com as pernas de tanto subir ladeiras ou deixa tudo que percebe nas mãos dos motos taxistas. A grande maioria é composta de estudantes que representa mais outra ida e vinda às escolas do centro. Propusemos há certo tempo à Prefeitura que, em convênio com o comércio, implantasse um transporte simples para os comerciários. Um ônibus aberto, rápido, gratuito que atuasse levando e trazendo esses trabalhadores, inclusive à noite para as escolas. Quanto alívio para os que não ganham mais de que o salário mínimo nas diversas lojas da cidade!
       Mas, através de sucessivas gestões, os bonecos do poder mantém os ouvidos tamponados às inovações de benefícios. À insensibilidade dos pobres coitados de espírito, assemelha-se a dos senhores escravocratas do século XIX ou a dos loucos falecidos da minha terra (com todo o respeito) Poni, Bebé e Agissé. Por menor que seja a concessão ao pobre ou à cidade, logo surge o dedo grosso ou o esmalte misterioso que obstruem o círculo ínfimo do suspiro. Elite gelada no poder, tacão nas nádegas e caroá no pescoço do infeliz. O progresso que chega a esse torrão representa muito mais às pressões do tempo de que as próprias barreiras elitistas que não as conseguem conter. São vários os cotados como veículos transformadores, mas preferem às benesses e usam náilon na boca e tinta invisível no computador. E como fazia o homem do povo nas areias grossas do rio Ipanema, vamos continuar cavando. Pode ser que depois do líquido fétido apareçam águas novas, puras e cristalinas para matar a sede do meu povo. E você, cabra velho, que não tem um pingo de sangue para defender a terra em que nasceu, pode até dizer com temor servil que esse é apenas OUTRO GRITO NO ESCURO.




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