terça-feira, 16 de agosto de 2011

A LUA DE ZERUBANO

A LUA DE ZERUBANO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2011.

          Quando os americanos anunciaram a chegada do homem a Lua, houve certa euforia no mundo inteiro, inclusive, com declarações dos astronautas. Esse assunto rendeu muito na mídia internacional. Os Estados Unidos disputavam com a, então, União Soviética, o domínio do espaço que na linguagem da nossa terra traduzia em cada um que quisesse ser melhor do que o outro. Nas escolas, nas ruas, nas praças, igrejas e restaurantes não se falava de outra coisa a não ser a incrível aventura do engenho americano que se cristalizava em sonho realizado. Entretanto, o nosso vizinho, em Santana do Ipanema, homem bastante rude e durão chamado José Urbano (conhecido como Zerubano) fincou o pé na parede dizendo que não acreditava de jeito nenhum que o homem havia pisado na Lua sagrada de Nosso Senhor Jesus Cristo. Difícil era a garotada encostar para convencer o incrédulo. Ora, se para os adultos já era difícil dialogar com o vizinho, imaginem para rapazes como nós! O tempo foi passando, a literatura espacial ganhou corpo, os Estados Unidos ganharam mais fama ainda e os soviéticos engoliram a bucha inchando o pescoço. A partir daí, ninguém mais ousou falar que também havia chegado à Lua. A chegada americana por àquelas bandas, deve ter sido em razão de um simples cochilo de São Jorge, um susto tomado pelo seu cavalo branco... O certo é que não se tratava de coisa corriqueira.
          Com o mesmo entusiasmo comemorativo ao feito, setores ligados ao assunto parecem ter conhecido a suspeita do nosso vizinho de Santana e começam fortemente a dar razão a Zerubano. Os artigos publicados na mídia, falam da grande farsa do século passado, analisando, argumentando tudo, afirmando que tudo foi montado para ludibriar o povo e baixar o astral dos adversários da corrida espacial. Nunca soubemos também da opinião de Seu Lunga, o homem de Juazeiro mais ignorante do Brasil, motivo de várias matérias. Se tivesse sido consultado igualmente a Zerubano, a resposta seria imprevisível, no mínimo chamaria o perguntador de “abestaiado”. De qualquer maneira estão os desmentidos, argumentos e provas que, segundo esses estudiosos, o homem nunca foi à lua. Em quem acreditar agora? Bem que o nosso falecido vizinho arranjou bons aliados para sua tese sertaneja: “Mentira desses fios da peste!”.
          Ontem foi dia de parada nacional dos professores, saco de pancadas dos políticos. Repetem-se pelas ruas desse país as famosas passeatas, protestos, faixas, cartazes e palavras de ordem. Militando no Magistério em mais de trinta anos, vamos retirando do baú os mesmos retratos de caras diferentes colecionados em décadas. É nossa tradição filosófica popular quem diz: “Quando Deus dá a farinha o diabo vem e rasga o saco”. E o pior é que o diabo nunca esteve tão ativo a espreitar o salário do professor com o tridente de furar sacos. O homem foi à Lua ou não foi? Um dia o professor irá ganhar dignamente ou não? Quem já foi otimista não está mais seguro assim; portanto a tendência de mais de trinta anos em desfiles de avenidas, vai pendendo gradativamente para a LUA DE ZERUBANO.
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BERRAR EM PAZ


BERRAR EM PAZ
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2011

            Depois de tanto atraso e miséria, o crescimento econômico do Nordeste tem atraído importantes indústrias para a região. Um exemplo muito bom é a montadora de veículos, como a instalada em Camaçari, na Bahia. Quando uma grande indústria instala-se em uma região, a tendência é nunca ficar isolada naquele território. Outros investimentos são atraídos pela primeira iniciativa, começando um círculo virtuoso que vai mudando a olhos vistos, o padrão de vida regional. Impulsionada a economia, amplia-se o nível de emprego, melhorando as condições de muitos trabalhadores.
          Olhando de perto o mapa nordestino, temos uma área de 1,5 milhões de quilômetros quadrados. Isso equivale a mais ou menos a França, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália reunidas. A população deve ficar em torno de 50 milhões de habitantes. Há pouco mais de dez anos, fabricávamos apenas produtos tradicionais em pequena escala. Está certo que o Nordeste sofreu muito, mas já é possível vislumbrar um progresso crescente, muitas vezes até acelerado como se fosse uma mentira bem contada. Esse progresso não vem homogêneo nos estados, mas o preenchimento da onda que não para, termina acontecendo em toda extensão nordestina, até por que os ramos da economia vão se completando em todos os territórios. Bahia, Pernambuco, Ceará e Paraíba, conquistam benefícios industriais para a periferia de suas cidades polos. Já houve até um estancamento da sangria migratória para o Sudeste, graças a esses novos motivos. São os fixadores dos jovens a própria terra através das oportunidades para quem estuda e quer trabalhar.
          Já produzimos autopeças, componentes químicos, softwares, roupas de grifes e calçados esportivos. Se formos olhar também para outros estados como Sergipe, Alagoas e Piauí veremos distritos industriais em pontos estratégicos. Muitas indústrias não olham somente para o Sul/ Sudeste, mais perto do MERCOSUL de fato, apostam também nas distâncias menores do Nordeste para a África, Estados Unidos e Europa na vez de exportar para esses destinos. Estamos despontando como segundo maior polo brasileiro na fabricação de têxteis e confecções e ainda o segundo produtor de calçados. Não vendemos apenas buchadas de carneiros e chocalhos, como antigamente. Chegou a hora da lapada com chapéu de couro em cara de onça. Agora sim, dos coqueirais aos mandacarus, das jangadas aos cavalos pés-duros, das marés perigosas aos serrotes do Sertão, correu a liberdade, finalmente chega à ordem triunfante: O nosso bode pai de chiqueiro já pode BERRAR EM PAZ.

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