terça-feira, 20 de setembro de 2011

TRAIPU NÃO MERECE

TRAIPU NÃO MERECE
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2011

O escândalo que rola no presente momento, sobre a prefeitura da cidade ribeirinha de Traipu, volta a abalar moralmente o estado de Alagoas. A “Terra entre Morros”, do rio São Francisco, é bastante conhecida pelo tempo da sua existência e pelas histórias desde os tempos dos holandeses em Penedo e tantos outros episódios que fazem parte das suas tradições. Vemos na sua paisagem deslumbrante a igreja no mesmo estilo das outras igrejas como a de Penedo, Pão de Açúcar, Belo Monte, com suas belíssimas duas torres a contemplar as águas do Velho Chico. Sua fundação em 1892 atesta a maturidade da sua gente, gerada na própria história do famoso Rio da Unidade Nacional. Distante de Maceió 188 km, seus lugares aprazíveis são pontos de encontro dos agrestinos da região arapiraquense. O sobe e desce das embarcações vão retratando romances e paixões sob mitos e lendas do lugar. Os traipuenses bem que sabem valorizar o município que já pertenceu a Penedo, o núcleo habitacional mais antigo do estado das Alagoas. Com sua área de 697,843 Km2 e uma população de mais de 25 mil habitantes, Traipu recebe o turista para uma longa caminhada em seus arredores e um passeio inesquecível pelas suas águas ora azuis ora barrentas.
          Traipu, palavra de origem indígena, quer dizer “fonte de morro” ou “olho d’água do monte”. Sem dúvida alguma, um dos nomes mais bonitos para uma cidade que, no tempo de vila era chamada de Porto da Folha. “Está assentada sobre uma pequena colina às margens do são Francisco, distante 14 léguas da cidade de Penedo, centro dinâmico de toda a região. Tomás Espíndola registra em 1871, em sua obra Geografia Alagoana, que a localidade se situava entre a Lagoa do Carlo e a Lagoa da Igreja, defronte à grande serra da Tabanga, que é levada em sua base pelo rio e que, para os nativos, marca o início do sertão”.
          Não é a primeira vez que falamos de Traipu neste espaço. Mas agora é com um pouco de preocupação pelas denúncias e ações da Polícia Federal naquele belo município. Cidade visitada por D. Pedro II, já foi grande criadora de gado e produtora de carne de sol, requeijões e linguiças, em suas fazendas conduzidas até mesmo pelos próprios frades que influenciaram por ali. E por ser longa e bela a história de Traipu, esperamos que esse tão resistente município escorra essa vergonha rapidamente pelas águas do rio São Francisco. TRAIPU NÃO MERECE.












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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

QUEM MANDA?

QUEM MANDA?
        Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2011

           A coisa está braba, cabra velho! Tiraram o cabresto do inverno sertanejo e ele saiu furando o miolo do mês de setembro. Parece que esqueceu o próximo início de primavera e peneira uma chuva leve desde uns quinze dias, como se não quisesse mais parar. E se é para fazer ditos da juventude com expressões do semiárido, “pense numa frieza da gota serena, que nos tempera dia e noite!” Estamos ficando pubo com a friagem dentro de casa, procurando fugir, inclusive com dois ou três pares de meias ao mesmo tempo. As unhas ficam roxas lembrando os nambus-pé-roxo que havia em nossa região. As águas dos banheiros descem da caixa “pegando fogo” de geladas e o par de queixos passa a imitar teco-teco de caveiras.
          Logo cedo da noite a ausência limpa as ruas. As luzes dos postes ficam mortiças tomando banho de garranchos... (de chuva). As vias estão desertas. Completamente desertas. A carreira de árvores parece sem vida, deixando zoar nas copas quem manda mais de que elas. É farfalhar nas folhas, nos galhos hirtos. Nada na rua! Nada! Nem gato, nem cão, nem sapo, nem besouro. Uma bela, tristíssima, melancólica paisagem urbana de fim de mundo faz pensar. A impressão é que a única pessoa viva da cidade sou eu. Eu e os grilos invisíveis nas frestas que se oferecem. Crocitar irritante, permanente, sem fim, cortando e costurando o silêncio dessa noite minha. É... Dessa noite minha. Deve ser somente minha. E na noite deserta, triste, “morta” e bela, escorre lúgubre torrente de poesia. “Primo, você sente? Todo poeta é sistemático”.
          Lençol quente na cama fria. Inverno doido. Inverno fora de tempo. Inverno assassino, portador da foice de lembranças que inquietam. Corredor vira prisão de passos incertos. Tchá... tchá... tchá. São os respingos, pelas portas, pelas telhas, pela vida... Ouça! É a rasga-mortalha que corta a noite, desafiando a sorte. Anunciando a ida num passeio longo. Logo o tic-tac do relógio novo vira cúmplice do tic-tac velho. Vai enganando o tempo, tapeando à noite, envolvendo o dono.

 “Não repare na desordem,
                  Dessa casa quando entrar...
                    Não entendo de abandono...
           Só de amor e esperar...”

 Tiraram o cabresto do inverno. O gelo congela a alma. Meu Deus! Está quase na hora de criar a crônica da terça. Quem terá inventado a crônica da terça?! Jésus, você também sente? É... Deve ser: “todo poeta é sistemático”. Quem manda esse inverno ser assim, QUEM MANDA?

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