domingo, 1 de setembro de 2013

IPANEMA RECEBE OS GUARDIÕES



IPANEMA RECEBE OS GUARDIÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 1º/2 de setembro de 2013.
Crônica Nº 1079
AGRIPA EM REUNIÃO ORDINÁRIA DE 30.08.2013.

O Sol nem havia saído ainda. A neblina dominava os montes que circundam Santana sob ameaça de mais um dia frio e chuvoso, mas os “Guardiões do Rio Ipanema” já estavam apostos para mais uma apurada investigação pelo rio que pede socorro. Como o Ipanema trecho urbano havia sido dividido em seis subtrechos, a saber: Poço Grande/Ponte da Barragem; Ponte da Barragem/Poço das Mulheres; Poço das Mulheres/Poço dos Homens; Poço dos Homens/Passagem Molhada; Passagem Molhada/Poço do Escondidinho; Poço do Escondidinho/Cachoeiras, máquinas fotográficas, cadernetas de anotações e muita coragem acompanharam os Guardiões. Como o primeiro trecho já havia  sido percorrido, os Guardiões desceram o rio iniciando pela ponte da Barragem e foram até as Cachoeiras. Muitos obstáculos tiveram que ser vencidos como pedras lisas, lamaçal, águas fétidas, cercas de arame, urtigas, falta de trilhas e outros que não desanimavam aos que se propuseram ao enfrentamento. A incursão só terminou nas Cachoeiras, quando os componentes retornaram pela rua do Bebedouro, passando pela foz do riacho Do Bode, divisória natural do perímetro urbano por ali. A investigação foi encerrada na casa da Guardiã, Dona Joaninha, onde aconteceu agradabilíssimo momento de lazer.
Guardiões Ferreirinha, Marcello, Sérgio, Clerisvaldo, vadeiam o rio Ipanema nas Cachoeiras, em foto de Manoel Messias.
Assim a AGRIPA já possui relatórios e provas do que está acontecendo nos seis subtrechos do rio Ipanema. Agora estão previstas novas incursões pelos afluentes: riacho Camoxinga, Salgadinho, Salobinho e Bode para fechar a fase de pesquisa, organizar os arquivos e partir para a etapa de ouvir as comunidades, associações e escolas das proximidades do rio Ipanema e os tributários acima. Enquanto isso, os dados coletados até agora permanecerão em segredo até que na hora certa, todos os representantes da sociedade organizada serão convidados para a realidade do rio Ipanema e seus afluentes. A partir daí, então, medidas concretas deverão ser adotadas pelas autoridades, segundo se supõe.
Sexta-feira passada (a incursão foi no sábado) houve mais uma reunião ordinária da AGRIPA, em sua sede provisória, Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, Bairro São José. Profícua sessão quando várias propostas foram discutidas, votadas e aprovadas, muitos informes, tempo de estudo, palavra à bem da AGRIPA e compromisso com a entidade. Os Guardiões continuam firmes na sua fase organizacional e investigativa.

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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ZÉ CONCEIÇÃO



ZÉ CONCEIÇÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de agosto de 2013.
Crônica Nº 1078

Conceição saiu satisfeito e o primeiro lugar escolhido para comemorar foi o Aki-Lanches. Bastava uma para a sua vitória. Mas a segunda veio, a terceira, novamente era Carnaval na vida do Zé. Ouviu batuques na Toca. Já era o bloco dos carregadores de novo. Mas dessa vez Conceição cismou. Avistou João Baía e sem saber por que começou a odiá-lo, a marcá-lo. A vista ficou turva; sentiu-se débil para cair no frevo. Todavia, dinheiro tinha no bolso. Era melhor complementar na casa de Zefinha. Saiu no andar faceiro. Caminhado de urubu com paciência. Na calçada do Samburá o repentista José de Almeida glosava com Daudeth Bandeira. Conceição disse para o primeiro:
─ Armeda, taqui dez conto mode você me tirar um mote: Zé Conceição é o dono de dona Maria Bela.
Almeida não se fez de rogado:

Maria Bela é a flor
Que enfeita o meu jardim
Eu a quero só pra mim
Sou um homem sonhador
Se ela arranjar outro amor
Se acaba eu ele e ela
Quem mexe em minha panela
Cm seis balas deixa o trono
Zé Conceição é o dono
De dona Maria Bela.

Não gravou direito o que o outro poeta disse, mas ficou satisfeito. Pagou e saiu. Sem que Maria o avistasse, novamente, foi procurar Zefinha. Ali se afundou no amor comprado onde esperou para se embriagar de novo. Mas dessa vez saiu mais cedo. À boquinha da noite. Subiu o Beco São Sebastião (...).
(...) É quarta-feira de cinzas. Acabou-se o Carnaval. Zefinha está muito triste. Zé Conceição abre os olhos cansados como se tivesse vivendo um sonho. É o dia que entra pelas grades da prisão. Não existe mais lobisomem... Não existe mais João Baía... Não existe mais Maria Bela... Agora, somente uma prolongada ressonância nos tímpanos de alguém:

“E como foi...
E como é...
O urso preto
Vem da arca de Noé...”

* CHAGAS, Clerisvaldo B. Carnaval do Lobisomem. Santana do Ipanema, Nordeste, 1979.

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