terça-feira, 10 de dezembro de 2013

PADARIA ROYAL



PADARIA ROYAL
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1103

Centro de Santana do Ipanema.
A Rua Antônio Tavares tem nome do panificador Seu Tavares que negociava no Comércio. Morreu de desgosto ao passar três dias trancado onde residia ao ser desmoralizado pelo soldado Artur (O Boi, a Bota e Batina, História Completa de Santana do Ipanema). Contam que algumas pessoas pobres, querendo desconto, perguntavam quanto custava um pão. Seu Tavares respondia. O cliente insistia na pergunta indagando: “E dois, Seu Tavares?”. O homem tornava a responder, irônico: “Tá o besta! Tá o besta! Dois é mais! Seu Tavares era pai do deputado estadual, santanense Siloé Tavares, um dos invasores ao palácio no caso do Impeachment, governador Muniz Falcão. Em Santana estava entre os fundadores do bloco carnavalesco “O Bacalhau”, juntamente com Seu Carola e, nunca falou em vingança.
Talvez no mesmo lugar ou vizinho, surgiu a Padaria Royal, de ares modernos, comandada pelo empresário Raimundo Melo. A Padaria Royal na época era a grande sensação de Santana. Várias qualidades de pães surgiam como novidades, como o pão Roberto Carlos e o Pão Recife. As bolachas tipos cream-cracker eram vendidas em latas ricamente decoradas. Ao chegar o final de ano o freguês recebia como brinde um Pão Recife em forma de jacaré. Por se situar no comércio a padaria que também ficou conhecida como padaria de Raimundo, era frequentada naturalmente pela elite santanense. Raimundo Melo, cidadão que morava à Rua Nova, era sério, introvertido e homem de bem. A padaria Royal atravessou décadas em Santana sob o seu comando que ao se mudar para a capital, deixou em seu lugar Manoel Melo, cidadão moldado na escola pessoal e trabalhista do antecessor. Muitos anos após do início do comando, Manoel Melo, que também ficou conhecido como Mané da Padaria, foi acometido de um derrame que o deixou em recuperação difícil. Na luta diária que ainda enfrentou, ontem não resistiu ao chamado do pai maior.
Manoel Melo, apesar de comedido, prestou relevantes serviços a Santana do Ipanema, além de escrever seu nome na história das panificações e evoluções das massas no município. Evolução que vem de antes de Raimundo com o singelo costume de deixar os pães em sacolas penduradas às portas dos clientes.
Não conheci Seu Tavares, mas fico feliz em ter conhecido Raimundo e Manoel, cujo estabelecimento continua em outro ponto com o mesmo nome romântico do passado: PADARIA ROYAL.

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DANE-SE O POVO!



DANE-SE O POVO!
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1102

A eterna rotina eleitoreira mal se aproxima e as cobras velhas procuram refazer os ninhos. Os alagoanos vivem mergulhados numa velha tradição implantada pelos coronéis do padre Feijó e os senhores escravagistas dos engenhos açucareiros. Antigos costumes que poderiam ter sido quebrados por governadores sertanejos com oportunidades de ouro às mãos. Mas é como diz hoje um matuto enriquecido no ramo de transporte alternativo, em nosso estado: “Mãe pergunta quem é que mexendo com mel não lambuza as mãos e prova da doçura?”. É mesmo difícil de acreditar que o homem de bem entre na política e não se corrompa. Outros afirmam que o corrupto já existia com cara de bonzinho, faltava apenas à oportunidade reveladora. Assim, aquele que teve oportunidade de mudança, passou a ser um dos piores no antigo Palácio dos Martírios. Um cargo tão infeliz que procuraram mudar a roupa do hospedeiro. De Martírio passou a Palmares, como se a simples mudança de nome e lugar alterasse alguma coisa. Os hóspedes continuaram  à tradição da porcaria enlameando a alma do herói negro Zumbi.
Quando publicam a batida cartilha das eleições, o analfabetismo, a violência, o descaso e a falta de apetite de governar, chegam rápidos à cabeça dos alagoanos. Vivemos uma política de raízes e troncos desumanos das quais ainda não conseguimos nos livrar. “A minha voz arrepare eu cantando, é a mesma voz de quando, meu reinado começou”, dizia o Gonzagão. Isso vale para o sistema de desmando que nesse pequenino torrão mantém eterna rolha no suspiro. Em vez de sentirmos orgulho pelos feitos de Zumbi, Floriano e Deodoro, temos vergonha de uma elite podre que não consegue deixar o poder há cem anos, passando procuração para filhos, netos e bisnetos deixando os caetés sem o escape morubixaba. O povo, o que pensa o povo? O que sabe o povo? Filho do torrão, perdido na injustiça, sem saúde, sem educação, sem porta de saída, sob a aflição perene dos mesmos. A única promoção é dentro do próprio circo quando deixa de ser aprendiz e passa a ser palhaço maior. Para eles, DANE-SE O POVO!

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