quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O URSO PRETO DE SANTANA



O URSO PRETO DE SANTANA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.355

Os velhos carnavais de Santana do Ipanema têm seus registros mais antigos na década de vinte, através do escritor santanense Oscar Silva. Oscar comentava até com detalhes sobre alguns blocos masculinos e femininos e fala muito mais sobre o “Negras da Costa”, oriundo de Quebrangulo. O “Negras da Costa” daquela cidade Agrestina dançou várias vezes nos carnavais de Santana do Ipanema. Esta cidade, porém, inspirada na brincadeira de Quebrangulo fundou o seu bloco fazendo grande sucesso pelas ruas da cidade, tendo como brincantes, entre outros, os saudosos Zé Urbano e Filemon. Esse bloco formado de homens vestidos de branco, imitando baianas, roda e requebra pela cidade, numa cadência de causar inveja. Recentemente o bloco de “Negras da Costa” apresentou-se em Maceió, continuando com a mesma beleza impressionante dos carnavais da década de 20.
Entretanto, um dos blocos mais antigos e tradicionais de Santana é o do “Urso Preto” do malandro Zé Nogueira, Seu Caroula, Chico Paes e outros personagens que tornaram esse animal imorredouro nos tempos carnavalescos.
As histórias do bloco do urso e suas presepadas ainda hoje podem ser conhecidas nos bares e nas esquinas centrais da minha terra.
Estamos, porém, com mais de uma década de fracassos carnavalescos, muito embora haja muita propaganda. Os brincantes resolveram abandonar o torrão e partir para cidades como Pão de Açúcar e Piranhas, principalmente por causa do banho no rio São Francisco.
Existem, porém, os insistentes que teimam em brincar, independente de ajuda do poder municipal.
Esse ano, com a crise particular que aperta as goelas de Santana do Ipanema, nova machadada cai na cabeça dos foliões sem condições de nada.
E lá na Rua Delmiro Gouveia, no restaurante Zé de Pedro, um desses brincantes mais pobres, estava a se lamentar.
Foi ele mesmo quem disse que para tirar o prefeito da apatia, a solução era desenterrar uma cabeça de burro na entrada da cidade e sentar um urso preto, como totem nos degraus da prefeitura.
Alguém perguntou ao folião se isso resolvia.
Ele respondeu:
─ Se resolve mesmo, não sei, mas pelo menos é um fantasma a mais diante de quem tá dentro.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

VELHO CEPA




VELHO CEPA
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.354

CEPA. Foto: (Clerisvaldo).
Quem diria! Deixando um colégio particular tão famoso de Maceió, mas em decadência, não suportei mais de um ano naquele lugar tão esquisito. Saí levando na bagagem apenas à frustração e a certeza de um ano perdido. As únicas coisas boas que transportava dali eram as aulas do professor Douglas Apratto e o bê-á-bá filosófico do padre Teófanes.
Resolvi arriscar o 2º Ano do Curso Médio em escola pública e parti para o Moreira e Silva, chamado na época de Cepinha. Um ginásio de esporte, uma velha piscina e o casarão à frente com o título da escola, eram tudo que havia naquele imenso espaço, praticamente vazio. Foi a melhor coisa que fiz. Peguei um ensino de qualidade, bons professores com frequência regular e em dose dupla por matéria: dois professores da língua portuguesa, dois de Biologia, Dois de Física, dois de Química e assim por diante.
Sertanejo enraizado olhava o terreno vazio, largo e comprido do CEAGB e mergulhava na melancolia da saudade.
CEPA. Foto: (Clerisvaldo).
E ali, à margem da Avenida Fernandes Lima, passava o tempo com uma lentidão enervante, aguardando o mês, o dia e a hora de rever os meus serrotes, minhas serras, meu Panema e o meu cheiro de caatinga.
Dois anos se passaram. Foi construída outra piscina, reformado o ginásio, novas construções foram surgindo naquele massapê... E eu fui deixando para trás aquele colega Marcos que era doido pelas músicas de Gonzaga, o Armando que tocava piano, os três inseparáveis riquinhos, a morena indiferente e caidíssima pelo professor de Biologia, dessa vez levando um mundo de coisas boas aprendidas no estado.
O Cepinha cresceu agigantou-se, tornou-se o maior complexo educacional da Terra dos Marechais e recebeu a denominação de CEPA (Centro Educacional Público de Alagoas). Atualmente ali funciona também a Secretaria de Educação.
CEPA. Foto: (Clerisvaldo).
E hoje, ao correr atrás de uma aposentadoria rosqueada, percorro o CEPA, sem mágoas, sem saudades, sem alegria e sem tristeza. Para mim, apenas um CEPA e nada mais.





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