segunda-feira, 29 de outubro de 2018

GEO-HISTÓRIA NA RUA DA POEIRA


GEO-HISTÓRIA NA RUA DA POEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.996

PARCIAL DO Cj. SÃO JOÃO. (Foto: B. Chagas).
Em 1926, Lampião invadia a zona rural de Santana do Ipanema. O futuro escritor Breno Accioly, ainda criança, foi mandado em automóvel para Palmeira dos Índios. O povo santanense começou a organizar a resistência com o Tiro de Guerra 33, policiais da Cadeia Velha e civis. Rifles foram distribuídos, sendo feita a barricada na chamada Rua da Poeira, atual Manoel Medeiros. Estavam na organização homens como Joel Marques, Pedro Agra e o próprio sacerdote Bulhões. Tempo de inverno e noite completa na trincheira, mas Lampião não tentou invadir a cidade. A Rua da Poeira foi trecho da estrada construída por Delmiro Gouveia, da Pedra a Palmeira dos Índios.
Mudando da História para a Geografia, a Rua pavimentada com paralelepípedos, não deixou de ser Rua da Poeira. O Conjunto São João e imediações da Escola Helena Braga, ainda recebe poeira da Rua Manoel Medeiros. Mas existe uma poeira fininha e preta levada pelo vento, proveniente dos quintais das casas que têm fundos até o rio Ipanema. Essa poeira é proveniente dos remansos das grandes cheias de outrora. Assim como o vento transporta areias das dunas, faz o mesmo com a poeira preta dos quintais. A areia fina é semeada nos telhados, e nas partes descobertas do Conjunto. As varridas são frequentes. Durantes as chuvas desce o pretume das telhas, que depois seca e precisa ser varrido.
Fazer o quê? O fenômeno descoberto por nós daria um  estudo vivo para o alunado da matéria geográfica. Assim, bom é começar os trabalhos com os problemas locais e ampliá-los para estados e regiões. O laboratório é a própria Natureza que precisa ser compreendida e respeitada.
A nós do Conjunto São João e imediações, restam à vassoura e a faina diária para remover a poeirinha preta; herança cabulosa das grandes cheias do rio.

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PRIMAVERA/VERÃO


PRIMAVERA/VERÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1995

SANTANA DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS)
Muito alta a temperatura no sertão alagoano. No último sábado e no domingo, meu senhor, foi mesmo de torrar. Com tanto calor assim, desenha-se uma trovoada, mas o céu limpo e azul nada promete. E se dentro de casa procura-se o melhor lugar, quase não tem. O jeito é tomar banho que ainda é uma saída. Ao amanhecer nada mostra esperança de uma boa chuvarada. Assim vamos fazendo uma transição difícil até a próxima estação que não alisa como a primavera. O inverno chegou antecipado e curto. Volta-se mais uma vez a enfrentar os rigores do clima nesse sertão velho de meu Deus. Ainda bem que as adutoras em todas as regiões aliviam o cotidiano da dona de casa.
Na paisagem agrestina de Palmeira dos Índios, cavalos e vacas nos cercados de capim seco. Mais adiante animais lambendo a poeira cinza sob um céu causticante. Em Cacimbinhas, a meninada banha-se no açude público que vai resistindo. Carros de boi e carroças cercam um chafariz procurando levar água para a redondeza. Em Dois Riachos, carroças e mais carroças de burro transitam pela BR-316 em busca do precioso líquido. São os conhecidos tonéis azuis de plástico forte, conduzidos até em carroças de jumento. E o sol tinindo de quente, queima o mato próximo, resseca a vegetação dos montes.
Em Santana do Ipanema nada muda, porque o inverno foi o mesmo para todos. Imaginemos, então, como se encontra o Sertão do São Francisco com Pão de Açúcar liderando na temperatura! Delmiro Gouveia, Canapi... Vão provando o gosto amargo da estiagem. O Canal do Sertão ajuda, mas não muda o tempo rigoroso por todos os lugares. Assim vamos aplaudindo a Natureza e seus caprichos; hoje queimando tudo, amanhã refrescando e trazendo o verde de volta aos campos.
Orgulho de ser sertanejo.

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