quinta-feira, 1 de novembro de 2018

ALUMIANDO A VIDA


ALUMIANDO A VIDA
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.998
CANDEEiRO. (FOTO: ANALISE AGORA).

Dona Zifina cortava flandres. Fazia candeeiro. Seu Tô, com chapéu raro de Polícia Montada, retelhava casas; Salvino consertava sombrinhas; Silvino manejava o serrote: roc-roc; Pé-Espaiado era ferreiro; Zé Gancho trabalhava o Zinco; Otávio Magro vendia carne-de-sol e Dona Maria Néris rezava o ofício de Nossa Senhora. Manezinho Quiliu, vindo de Olivença, mexia com bicas; Gérson batia sola; Maria Lula vasculhava casa; Zé Preto negociava bugigangas; Seu Né cubava terras; Flora vendia esteiras; Seu Antônio e Seu Quinca eram alfaiates e, finalmente, Zé Limeira fazia malas. Não éramos uma Grécia, mas bem que a Rua Antônio Tavares e arredores funcionavam como tal.
Josefina, dona Zifina, de voz metálica e artesã dos flandres, confeccionava candeeiro, canecos, aros de óculos: Rats, rats, rats, trabalhava a tesoura pesadona nos dedos ágeis da avó de Oscar Silva, futuro escritor. E numa terra que passou quatro anos no escuro, o candeeiro, a placa, a candeia, eram bênçãos divinas nas noites tremendamente escuras do Sertão. Santana do Ipanema precisava do Ferreiro, era ali pertinho. O sapateiro, o barbeiro, o menino de recado... Tudo estava ao alcance de um grito forte de sertanejo. E assim deslizava o tempo tão devagar quanto o carro de boi de Lero Carreiro. E quando o vento forte fazia redemoinho, a meninada encintava o vento: “Rapadura! Rapadura!”.
Durante as noites de lua, gente nas calçadas enroladas em lençóis, contando histórias de Trancoso, de almas penadas, fazendo adivinhações, identificando as estrelas. O ferro em brasa nas janelas, levando as cinzas do carvão. Candeeiro aceso na força do querosene, do gasóleo. Aqui, acolá, a passagem tardia de um malandro de jogo; um sopro forte no ferro de engomar; Uma golada d’água da quartinha com tampa de pano bordado, na janela tomando fresca.
Benditas mãos que confeccionavam as candeias de latas e nos tiravam do escuro.

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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

MANGAS E CAJUS


MANGAS E CAJUS
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.997
IMAGEM: DIVULGAÇÃO.

Chegou o mês de novembro. O mês dos ventos fortes no Sertão. As mangueiras botam cachos, botam flores, enfeitam-se como belas noivas aguardando o Natal. De Maceió ao interior longínquo faz gosto observar o balanço dos manguezais floridos. Chamam atenção em Maceió, Palmeira dos Índios, Maribondo, Belém, no Cabeça d’Anta... No São Francisco surge à bela e saborosa Manga Maria, cujo volume é um almoço completo. Aí vem o desfile da fruta com suas variedades: Rosa, Maria, Espada, Gobom e outras produzidas para a indústria. O tempo já se sabe decorado. Novembro a fevereiro a manga domina a paisagem agrícola e complementa bem a alimentação do povo.
Mas não é somente a manga quem manda e faz a festa. O caju é o seu companheiro nos meses citados. Os cajueiros também vão se mostrando belos entre as cores amarela e vermelha. E se esses frutos são doces, o atestado pertence ao povoado Areias Brancas do município de Santana do Ipanema ou de grande área plantada do Olho d’Água do Casado. O caju amarelo é doce. O vermelho é travoso. Mas o provador de aguardente disso não quer saber. É encher a boca d’água vendo os frutos no pé e o carro com velocidade. E haja, nessa época, glosadores de copo no balcão, dedos no caju e tempero na goela. Mas nem só do caju morde que bebe.
Quando o ano é bom de safra, a vitamina C preenche os lares sertanejos. Até mesmo a idade das pessoas é medida em cajus. Quem possui os seus pomares fracos ou fortes faz a festa debaixo das galhadas. As folhas dos cajueiros são por natureza bordadas e multicores dando pompa à árvore que acena ao longe. Chupa-se o caju, vende-se a castanha unindo-se o útil ao agradável.
O final do ano vai chegando assim acompanhado pelo aroma das frutas tropicais. Quem não tem fazenda, contempla os frutos da beira da estrada. Não importa se o cajueiro é de Pirangi, o maior do mundo, nem se ele é do vermelho ou do amarelo, vai ao suco, vai à polpa... Vai ao copo.
Bote uma aí, bodegueiro!.










                                                                                              

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