quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

SERTÃO GOSTOSO



SERTÃO GOSTOSO
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.020

SERRA AGUDA (FOTO: B. CHAGAS).
Novamente o tempo mudou completamente, ontem, em Santana do Ipanema e sertão inteiro. E como dissemos anteriormente, ficamos aguardando pelo dia os locais chovidos na noite anterior. E as notícias foram excelentes para a faixa sertaneja do Rio São Francisco e proximidades, como Pão de Açúcar, Belo Monte, Delmiro Gouveia, Batalha, Jacaré dos Homens, Jaramataia e o grande sítio Olho d’Água do Amaro, entre Santana e Senador Rui Palmeira. Só não sabemos se isso é suficiente para evitar carro-pipa rodando nas caatingas. Na tarde de ontem, quarta, o tempo voltou a cercar a nossa Capital do Sertão com nuvens pesadas e muito escuras. E pelo que se via no céu, a cidade ficou até receosa de uma pesadona daquelas.
Pela tardinha o velho trovão voltou a arrotar muito valente. No início parecia móveis arrastados na sala. Rsssss... Depois imitando mil bombas de São João: ssstbum... Bum... Bummmmm!... “Corre, menino – o menino sou eu mesmo – feche a porta da rua e dos fundos que o trovão está valente!”. Kkkkkk, eu sozinho em casa criando personagens. Caem os primeiros pingos com o espaço recomendando cautela. O trovão abusado ronca e o relâmpago clareia o mundo, Zé! Ligar TV é muito perigoso nessas circunstâncias. E logo na hora do Jornal, amigo! Computador? Nem pensar! “Corre, Zezinho, vá espiar o cuscuz no fogo, menino danado!”. Virei-me no Zezinho e corri lá. “Não esqueça às velas, caixa de fósforos e lâmpada de emergência... A luz apaga nestante!”.
O vento levou as nuvens para distante da cidade e ficaram apenas as ameaças do trovejar e a insistência do relâmpago. Tempo limpo novamente, vamos registrar os fatos. Para o novo amanhecer, ficamos aguardando o paradeiro das chuvas. Quando se aproxima o Natal, é costume cair um bom volume d’água para enverdecer o cinza do plano e dos montes. E nós santanenses, após a peneirada do céu, aguardamos três quatro dias, para notar a mudança no serrote do Cruzeiro, na Reserva Tocaia, no serrote do Gonçalinho... Na serra Aguda, elevações que a circundam a urbe. Bem, ainda não foi dessa vez que choveu bem em Santana. Quem sabe, amanhã! E como disse certa vez o padre José Augusto: “mas venha mansa”.
Ô Sertão gostoso!

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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

CONVERSA ENTRE SERTANEJOS


CONVERSA ENTRE SERTANEJOS
Clerisvaldo. B. Chagas, 5 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.019

SANTANA ANTES DA CHUVA. (FOTO: B. CHAGAS).
Referindo-se à localização sertaneja, o matuto se encontra com um companheiro e indaga: “Lá pra cima chove?”. O outro querendo ser engraçado, responde: “Não, senhor, só chove pra baixo”. Mas não tem como sertanejo não falar em chuva logo nas primeiras frases de um encontro. E foi ontem, terça-feira, assim aqui no Médio Sertão alagoano. Dias abafados como forno de padaria, ou chove ou assa tudo. E lá para o meio da tarde nuvens negras se exibiam, mas não em sentido leste de onde vem 99% das chuvas para Santana do Ipanema. E eu com desdém afirmei em voz alta para mim mesmo: “Agora pela tarde não chove em Santana, mas bem que o despejo por aí vai ser bonito”. Mas, para não parecer desafio a Deus, trastejei na hora: “Quer dizer... Se Deus quiser não tem esse negócio de posição de nuvens, não. Depende da sua vontade e não do meu parecer”.
Não perdi totalmente o palpite acumulado através de tantos anos. É que as nuvens das cercanias fecharam também o leste sem muito rigor e à tardinha os pingos cantaram na telha. Corre o gato para o fogão, corre a galinha para a moita, corre a mulher para a marquise. A energia some por algum tempo. Rôôôbummmm!... Estremece o mundo com o regougar do trovão. Acende-se por aí o “relampo” e se “caiu” corisco, não sei. A festa dos gigantes no céu foi muito barulhenta, mas, dentro do previsto, pouca chuva caiu na cidade de Santa Ana.
Os pipocos e o clarear nos céus, continuaram por uma boa parte da noite, mas o grosso das chuvas foi parar em municípios circunvizinhos. Por essas bandas, cabra velho, as notícias dos torós começam a surgir no dia seguinte. São os motoristas que trazem as boas novas, palitando os dentes como quem comeram as chuvadas da noite. Foi o que eu disse, compadre, não se fala em outra coisa sem primeiro reverenciar a tradição.
E como estou precisando ir à bela Maceió, antevejo as perguntas dos conterrâneos:
“Lá em cima chove?”
E depois da gostosíssima gargalhada:
“Chove não, comadre, só chove pra baixo”.


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