terça-feira, 4 de dezembro de 2018

CONVERSA ENTRE SERTANEJOS


CONVERSA ENTRE SERTANEJOS
Clerisvaldo. B. Chagas, 5 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.019

SANTANA ANTES DA CHUVA. (FOTO: B. CHAGAS).
Referindo-se à localização sertaneja, o matuto se encontra com um companheiro e indaga: “Lá pra cima chove?”. O outro querendo ser engraçado, responde: “Não, senhor, só chove pra baixo”. Mas não tem como sertanejo não falar em chuva logo nas primeiras frases de um encontro. E foi ontem, terça-feira, assim aqui no Médio Sertão alagoano. Dias abafados como forno de padaria, ou chove ou assa tudo. E lá para o meio da tarde nuvens negras se exibiam, mas não em sentido leste de onde vem 99% das chuvas para Santana do Ipanema. E eu com desdém afirmei em voz alta para mim mesmo: “Agora pela tarde não chove em Santana, mas bem que o despejo por aí vai ser bonito”. Mas, para não parecer desafio a Deus, trastejei na hora: “Quer dizer... Se Deus quiser não tem esse negócio de posição de nuvens, não. Depende da sua vontade e não do meu parecer”.
Não perdi totalmente o palpite acumulado através de tantos anos. É que as nuvens das cercanias fecharam também o leste sem muito rigor e à tardinha os pingos cantaram na telha. Corre o gato para o fogão, corre a galinha para a moita, corre a mulher para a marquise. A energia some por algum tempo. Rôôôbummmm!... Estremece o mundo com o regougar do trovão. Acende-se por aí o “relampo” e se “caiu” corisco, não sei. A festa dos gigantes no céu foi muito barulhenta, mas, dentro do previsto, pouca chuva caiu na cidade de Santa Ana.
Os pipocos e o clarear nos céus, continuaram por uma boa parte da noite, mas o grosso das chuvas foi parar em municípios circunvizinhos. Por essas bandas, cabra velho, as notícias dos torós começam a surgir no dia seguinte. São os motoristas que trazem as boas novas, palitando os dentes como quem comeram as chuvadas da noite. Foi o que eu disse, compadre, não se fala em outra coisa sem primeiro reverenciar a tradição.
E como estou precisando ir à bela Maceió, antevejo as perguntas dos conterrâneos:
“Lá em cima chove?”
E depois da gostosíssima gargalhada:
“Chove não, comadre, só chove pra baixo”.


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