CONVERSA ENTRE
SERTANEJOS
Clerisvaldo.
B. Chagas, 5 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.019
SANTANA ANTES DA CHUVA. (FOTO: B. CHAGAS). |
Referindo-se à
localização sertaneja, o matuto se encontra com um companheiro e indaga: “Lá
pra cima chove?”. O outro querendo ser engraçado, responde: “Não, senhor, só
chove pra baixo”. Mas não tem como sertanejo não falar em chuva logo nas
primeiras frases de um encontro. E foi ontem, terça-feira, assim aqui no Médio
Sertão alagoano. Dias abafados como forno de padaria, ou chove ou assa tudo. E
lá para o meio da tarde nuvens negras se exibiam, mas não em sentido leste de
onde vem 99% das chuvas para Santana do Ipanema. E eu com desdém afirmei em voz
alta para mim mesmo: “Agora pela tarde não chove em Santana, mas bem que o
despejo por aí vai ser bonito”. Mas, para não parecer desafio a Deus, trastejei
na hora: “Quer dizer... Se Deus quiser não tem esse negócio de posição de
nuvens, não. Depende da sua vontade e não do meu parecer”.
Não perdi totalmente
o palpite acumulado através de tantos anos. É que as nuvens das cercanias
fecharam também o leste sem muito rigor e à tardinha os pingos cantaram na
telha. Corre o gato para o fogão, corre a galinha para a moita, corre a mulher
para a marquise. A energia some por algum tempo. Rôôôbummmm!... Estremece o
mundo com o regougar do trovão. Acende-se por aí o “relampo” e se “caiu”
corisco, não sei. A festa dos gigantes no céu foi muito barulhenta, mas, dentro
do previsto, pouca chuva caiu na cidade de Santa Ana.
Os pipocos e o
clarear nos céus, continuaram por uma boa parte da noite, mas o grosso das
chuvas foi parar em municípios circunvizinhos. Por essas bandas, cabra velho,
as notícias dos torós começam a surgir no dia seguinte. São os motoristas que
trazem as boas novas, palitando os dentes como quem comeram as chuvadas da
noite. Foi o que eu disse, compadre, não se fala em outra coisa sem primeiro
reverenciar a tradição.
E como estou
precisando ir à bela Maceió, antevejo as perguntas dos conterrâneos:
“Lá em cima chove?”
E depois da
gostosíssima gargalhada:
“Chove não, comadre,
só chove pra baixo”.
Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2018/12/conversa-entre-sertanejos.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário