LAMPIÃO
EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS
Clerisvaldo B.
Chagas, 13 de dezembro de 2018
Escritor
Símbolo de Santana do Ipanema
Crônica:
2.023
31.07.1938.
Palmeira dos Índios (AL). Na tarde de julho de 1938, ninguém achou mais
jeito de permanecer em casa. Todo mundo de Palmeira estava de olho no alto do
cemitério, por onde entravam os veículos que vinham do Sertão. É que após
quatro dias da degola chegaram às cabeças dos cangaceiros a Palmeira dos
Índios. Imensa multidão concentrou-se na Praça da Independência cercando a
viatura que trazia as cabeças dos bandidos em latas de querosene com álcool e formol.
Parando, por coincidência em frente ao Açougue Público, o graduado responsável
mandou descer as cabeças e alinhá-las na calçada, no chão. Um soldado foi
escalado para apresentá-las aos excitados espectadores. O soldado enfiava a mão
na lata, puxava a cabeça pelos cabelos, levantavam-na e descia o nome a quem
pertencera. Primeiro foi a de Lampião, depois a de Maria Bonita e demais cabeças.
A de Luiz Pedro causou admiração por ser uma bela cabeça de homem, com bigode
cheio completamente e parecia estar dormindo. A cabeça de Elétrico dava
trabalho, por que, entrado há pouco no bando, estava de cabelo curto, era
preciso tirar com as duas mãos. O soldado encarregado já tava cansado daquele
ritual macabro e disse que só ficava mais um pouco se alguém ajudasse. Todo
mundo recusou, mas lembrou de um carregador chamado Pedro Índio e foi procurá-lo.
O carregador veio, ouviu e passou o mesmo que o soldado. Cortou-se, porém, na
borda da lata e depois, em casa o ferimento infeccionou.
O
sujeito ficou febril, recusava comida e não enjeitava cachaça parecendo
impregnado. Mesmo se ter recebido um níquel sequer pelo seu trabalho, era
tratado com todo desvelo pela sua mãe adotiva Vitalina Maria da Conceição, mas
Pedro Índio não resistiu e morreu. Pessoas que pegaram no seu caixão disseram
que pesava semelhante a um menino (23).
Telegrama
de Palmeira dos Índios para Maceió. 31 de julho de 1938. “Seguido bravos oficiais Bezerra, precisamente dezesseis horas essa
capital tenente-coronel Lucena
conduzindo cabeça Lampião e demais bandidos mortos combate Angico. Prefeito
Francisco Cavalcante”.
De
Palmeira dos Índios a Maceió, as cabeças de Lampião e Maria Bonita seguiram de
caminhão, chegando à capital à noite do mesmo dia 31. As nove outras cabeças
seguiram de trem e chegaram à capital alagoana pela manhã do dia 10 de
agosto. (24).
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