terça-feira, 14 de maio de 2019

VAQUEJADA OU A PEGA-DE-BOI-NO-MATO


VAQUEJADA OU A PEGA-DE BOI-NO-MATO
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de maio de 2019
 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.111

(FOTO: CARLOS BRITO.COM).
Lemos num livro da escola aos treze anos, sobre a coragem do jangadeiro e do vaqueiro do sertão. Deixando o jangadeiro para outro momento, podemos afirmar na linguagem sertaneja sobre o vaqueiro: “coragem fia da puta, pegar um boi no mato!”. O animal criado no mato fica selvagem, arisco e bravo, denominado barbatão. O dono de uma fazenda pode a título de divertimento, soltar vários bois na caatinga e convidar vaqueiros para derrubá-los no mato e trazê-los encaretados. Muito antes, o gado criado à solta tinha data para ser recolhido e ferrado. Assim surgiu a palavra “vaquejada” ou “pega-de-boi-no-mato”. Ao surgir um barbatão difícil, o vaqueiro criava fama na região quando conseguia encontrar, perseguir, derrubar, encaretar e levar a rês para o pátio da fazenda.
Erroneamente, hoje se estar chamando corrida-de-mourão de vaquejada. Esta é apenas um filhote desgarrado da pega-de-boi-no-mato. Na caatinga fechada o vaqueiro procura o boi famoso que nunca se deixou pegar. Muitas vezes o barbatão se esconde e só é achado após vários dias de buscas. O cavalo viciado nessas empreitadas, não obedece mais ao comando do vaqueiro ao avistar o boi. Onde passa a rês, passa o cavalo, e, o cavaleiro sem mais comando defende-se como pode das pontas de pau, galhos e troncos, numa agilidade felina, deitando em cima e ao lado da sela. O cavalo só para quando sente que o dono vai pular sobre o boi. Esta ocasião é o ápice da pega-de-boi-no-mato. Muitos vaqueiros retornam desmoralizados, outras perdem olho, braço e até a vida nas correrias doidas das caatingas. Às vezes um touro bravo parte para atacar cavalo e cavaleiro.
Na década de 60, ficou famoso na chamada Ribeira do Capiá, o barbatão Saia Branca. Após vários dias de vaquejada, finalmente Saia Branca – que nunca respeitara vaqueiro – foi capturado. Foi a maior festa de gado da região com os mais famosos vaqueiros atraídos pela fama do boi. Igualou-se em fama e prestígio o vaqueiro Zé Vicente, cabra forte, dente de ouro e olhos injetados. É costume chamar de boi (macho capado) também ao touro ou barbatão. Costume é costume e para o sertanejo tudo é boi.
Ultimamente em nossa região quem criou nome foi o boi Vaga-lume, mas isso é outra história. Bem diz o cantador: “quem tiver pena da vida, não bote cavalo em gado”.


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segunda-feira, 13 de maio de 2019

GRUPO POBRE, ESQUECIDO E RESISTENTE


GRUPO POBRE, ESQUECIDO E RESISTENTE
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano


Crônica: 2.110

GRUPO. (FOTO: B. CHAGAS).
No tempo da ditadura militar, chegou água encanada do rio São Francisco em Santana do Ipanema, Alagoas. No mesmo ano (1966) eram erguidas oitenta residências e um grupo em terreno vendido ao governo pelo proprietário Zezito Tenório. As casas foram construídas com financiamento do BNH – Banco Nacional da Habitação. E o lugar que era apenas uma plantação de agave, passou a ser denominado COHAB. Anos depois, como surgiu outro empreendimento semelhante, o primeiro recebeu pelo povo da época e até os presentes dias o título de COHAB Velha. O grupo, acanhado e solitário abrigou a garotada do entorno. Com a expansão da área foi criado o Bairro São José, desmembrado do grande Camoxinga.
GRUPO. (FOTO: B. CHAGAS).
Hoje, três escolas são vizinhas, sendo uma particular, uma municipal e outra do estado. O antigo grupo da COHAB Velha, completando seus 53 anos, passou todos os tipos de vexames. Sempre sem recurso, esquecido e discriminado, já foi sede de associação e motivo de disputas políticas locais. Ora aberto, ora fechado, numa pobreza que só vendo, vai resistindo como uma pessoa difícil de morrer. Situado na esquina de uma quadra, tem à frente e ao lado esquerdo ruas estreitas. No lado direito, as ruínas de um casarão abandonado que antes abrigou menores e uma antiga praça que volta a formar lixão; aos fundos, com o moderno posto de saúde – num contraste imenso – e que ainda nem foi inaugurado.
Você apostaria no futuro do grupo da COHAB? Quando chegará um socorro total para transformá-lo em algo novo, útil e belo? Ou quando acontecerá seu último suspiro, tal qual a casa do cônego Bulhões, da igreja de São João e do Fomento Agrícola? A própria construção da chamada COHAB velha, já iniciou troncha. O projeto para 100 casas contemplou apenas 80 e, se o amigo indagar o motivo, iremos gaguejar sem noção de resposta firme.
Você não encontra o nome do grupo. Nome para quê? Na época da construção recebeu o título de Grupo General Batista Tubino, o mesmo título da ponte sobre o rio Ipanema do homem que governava Alagoas como interventor. E se isso consola, a placa de inauguração da ponte também foi roubada por vândalos.
Parabéns, grupo da COHAB, pelos 53 anos de resistência... E de humilhação.

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