VAQUEJADA OU A
PEGA-DE BOI-NO-MATO
Clerisvaldo
B. Chagas, 15 de maio de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.111
(FOTO: CARLOS BRITO.COM). |
Lemos num livro da
escola aos treze anos, sobre a coragem do jangadeiro e do vaqueiro do sertão.
Deixando o jangadeiro para outro momento, podemos afirmar na linguagem
sertaneja sobre o vaqueiro: “coragem fia da puta, pegar um boi no mato!”. O
animal criado no mato fica selvagem, arisco e bravo, denominado barbatão. O
dono de uma fazenda pode a título de divertimento, soltar vários bois na
caatinga e convidar vaqueiros para derrubá-los no mato e trazê-los encaretados.
Muito antes, o gado criado à solta tinha data para ser recolhido e ferrado.
Assim surgiu a palavra “vaquejada” ou “pega-de-boi-no-mato”. Ao surgir um
barbatão difícil, o vaqueiro criava fama na região quando conseguia encontrar,
perseguir, derrubar, encaretar e levar a rês para o pátio da fazenda.
Erroneamente, hoje se
estar chamando corrida-de-mourão de vaquejada. Esta é apenas um filhote
desgarrado da pega-de-boi-no-mato. Na caatinga fechada o vaqueiro procura o boi
famoso que nunca se deixou pegar. Muitas vezes o barbatão se esconde e só é
achado após vários dias de buscas. O cavalo viciado nessas empreitadas, não
obedece mais ao comando do vaqueiro ao avistar o boi. Onde passa a rês, passa o
cavalo, e, o cavaleiro sem mais comando defende-se como pode das pontas de pau,
galhos e troncos, numa agilidade felina, deitando em cima e ao lado da sela. O
cavalo só para quando sente que o dono vai pular sobre o boi. Esta ocasião é o
ápice da pega-de-boi-no-mato. Muitos vaqueiros retornam desmoralizados, outras
perdem olho, braço e até a vida nas correrias doidas das caatingas. Às vezes um
touro bravo parte para atacar cavalo e cavaleiro.
Na década de 60, ficou
famoso na chamada Ribeira do Capiá, o barbatão Saia Branca. Após vários dias de
vaquejada, finalmente Saia Branca – que nunca respeitara vaqueiro – foi
capturado. Foi a maior festa de gado da região com os mais famosos vaqueiros
atraídos pela fama do boi. Igualou-se em fama e prestígio o vaqueiro Zé
Vicente, cabra forte, dente de ouro e olhos injetados. É costume chamar de boi
(macho capado) também ao touro ou barbatão. Costume é costume e para o
sertanejo tudo é boi.
Ultimamente em nossa
região quem criou nome foi o boi Vaga-lume, mas isso é outra história. Bem diz
o cantador: “quem tiver pena da vida, não bote cavalo em gado”.
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