quarta-feira, 15 de abril de 2020

MULHERES DE BARRO


MULHERES DE BARRO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.293
PANELAS NO ALTO DO TAMANDUÁ. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Preso na quarentena, nunca mais passeei pela feira livre semanal. Mas soube que a feira das panelas desapareceu da rua  costumeira e talvez também tenha sido extinta. Era ali que se compravam panelas, potes, jarras, bois e éguas de barro. O artesanato era mantido pelas mulheres da Lagoa do Mijo ou Baixa do Tamanduá e do Povoado Alto do Tamanduá. A baixa do Tamanduá é sítio às margens da BR-316 na fronteira Santana/Poço das Trincheiras, enquanto o povoado é vizinho e pertence ao Poço, também na BR-316. Não faz muito tempo assim, os homens fabricavam balaios de cipó e as mulheres lidavam com a família das panelas. Local de barro vermelho, a matéria-prima tornou-se escassa para ambos os sexos e  os homens foram os primeiros a abandonarem a arte.
As duas comunidades são irmãs e originárias das pessoas pretas oriundas do também vizinho povoado Jorge. Ali frequentei muitas cantorias com os repentistas Rafael Paraibano (sogro) e José de Almeida, sempre com recepções calorosas dos humildes habitantes, gente boa. No final dos desafios, o samba de roda tomava conta da casa de taipa, acompanhado de peneira, pandeiro e versos de um ou dois cantores. Com o desmatamento na redondeza acabou o cipó, com o povoamento sobre o povoado acabou o barro. Homens e mulheres tiveram que procurar outras fontes de renda e abandonar os artesanatos centenários. As casas isoladas se tornaram um povoado alegre que tem de tudo, inclusive é cortado pelo asfalto da BR-316.
Levamos nossos alunos para uma aula de campo na Geografia, eu e o saudoso professor José Maria Amorim. Numa sexta-feira estávamos nas casas da mulheres do barro, apreciando o atribulado fabrico das panelas. Trabalho de pesquisa,  relatório, discussão posterior em sala de aula. Quando as peças de barro foram queimadas no finalzinho da tarde, retornamos a Santana depois de participarmos de uma roda de samba. No dia seguinte as panelas seriam vendidas na feira da Rainha do Sertão. Excelente oportunidade para irmos cumprimentar aquela gente boa na manhã do sábado, na feira das panelas.
Quanta saudade das MULHERES DE BARRO!.
·        Peneira: instrumento musical feito de palha rígida com pedrinhas no interior. Assegura o ritmo do samba.




Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2020/04/mulheres-de-barro.html

terça-feira, 14 de abril de 2020

CANDEEIRO, PLACA, LÂMPADA: LUZ


CANDEEIRO, PLACA, LÂMPADA: LUZ
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2020
Escritor símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.292
PARCIAL DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

A Lei No 893 de 31 de maio de 1921, elevou a vila de Sant’Ana do Ipanema, à categoria de cidade com o nome de Santana do Ipanema. Essa lei foi sancionada pelo governador em exercício, padre Manoel Capitulino de Carvalho. Isso aconteceu na gestão municipal de Manoel dos Santos Leite. Capitulino, filho de Piaçabuçu, fora pároco e dirigente de Santana vila. Vivíamos a época dos candeeiros de flandre que eram produzidos por artesãos e artesãs de destaques na cidade. Encomendado direto ao fabricante ou comprados nas feiras semanais que vendiam aos montes, o candeeiro funcionava com pavio de algodão retorcido e gás óleo ou   querosene. Produzia muita fumaça da luz amarelada, cujo tamanho do pavio ditava a intensidade do clarão. A placa com os mesmos combustíveis era comprada nas casas comerciais. Colocada em prego na parede, sua parte de vidro precisava ser limpa da fuligem no dia seguinte.
Pouco tempo depois da elevação à cidade, Santana é contemplada com luz elétrica motriz, inaugurada em 30 de novembro de 1922, na mesma gestão do prefeito Manoel dos Santos Leite. O motor alemão que abastecia a urbe funcionou primeiro à Rua Barão do Rio Branco. Tempos depois, foi definitivamente para a Rua Nossa Senhora de Fátima com estrutura completa. Atualmente esse prédio reformado funciona como a Câmara de Vereadores. Ali havia o salão enorme onde abrigava o motor, um anexo para recebimento de contas e um corredor com grandes tanques de refrigeração. A luz dos postes da cidade e das residências funcionava até a meia-noite, anunciada com três piscadelas. A conta era paga mensalmente no próprio local particular de produção, Empresa de Luz e Força.
Dessa maneira a cidade de Santana do Ipanema, em pleno  sertão alagoano, funcionou com esse tipo de energia até a exaustão do motor, em 1959, na gestão do prefeito Hélio da Rocha Cabral de Vasconcelos. Os candeeiros, placas e “Petromax”, voltaram a funcionar a todo vapor. Virou moda as belas lanternas pessoais e manuais das marcas Evereadi e Rayovac. Após quatro anos no escuro e muita luta do povo santanense, finalmente a vitória com a luz elétrica de Paulo Afonso, em 1963, gestão estadual do Major Luiz.
Luz espiritual é o que precisa a humanidade.





Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2020/04/candeeiro-placa-lampada-luz.html