quinta-feira, 16 de abril de 2020

SANTANA E LAGOAS


SANTANA E LAGOAS
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.294
TÍPICA LAGOA DO SEMIÁRIDO. (BLOG FATOS E FOTOS DA CAATINGA).

O rio São Francisco extrapola o leito e forma inúmeras lagoas, muitas das quais se tornaram famosas de Pão de Açúcar a Penedo. Matam a fome do povo ribeirinho com plantio de arroz, peixes e pastagem de várzeas para bovinos e gado miúdo. Os rios intermitentes do semiárido não produzem lagoas: nem o Ipanema, nem o Traipu, Capiá, Desumano, Canapi, Farias, Jacaré... Quando sem corrente, apenas poços em lugares pedregosos. Entretanto, o Sertão possui inúmeras lagoas que em grande parte desapareceram vítimas do desmatamento, da ignorância e da apatia de moradores que sempre delas precisaram. Elas são pequenas e quando possuem 50 m2 já são enormes. Formam-se em depressões de terrenos com bons lençóis freáticos abastecem rebanhos domésticos, bichos selvagens e os humanos.
As lagoas sertanejas sempre demarcaram lugares sendo denominações de sítios, porém, muitas delas extintas deixaram apenas o nome nos históricos dos municípios. Em Santana do Ipanema temos os sítios rurais: Lagoa do Algodão, Bonita, De Dentro, Garrote, João Gomes, Junco, Mijo, Morais, Pedro, Redonda, Torta, Volta e outras lagoas sem o nome do lugar. O desmatamento do entorno de muitas delas, foi o primeiro golpe. Em seguida vieram a areia tangida pelo vento; barro, areia e cascalhos trazidos pelas enxurradas das chuvas torrenciais. Depois, a indiferença do homem que nunca fez limpeza alguma de assoreamento nem reflorestou pelo menos em vinte metros às suas margens. Quem possui lagoa em suas terras, possui riqueza traduzida em água para a família e para o rebanho, vida selvagem, umidade, refrigério e plantio, mas onde está o “faz que te ajudarei” proposto pela Natureza?
Pena não podermos oferecer subsídios sobre os nossos mananciais sertanejos, uma vez que não encontramos apoio para um trabalho extraordinário que iniciamos sobre a zona rural. Autoridades não ajudam a produzir nem a publicar documentários sobre interesses coletivos. A conversa é sempre a mesma: “mas, mas, mas...” Que só não enche o saco de bajuladores.
Esta crônica foi inspirada em relatório publicado por órgão estadual falando sobre a enorme perda de nossos mananciais.
A propósito, a família Chagas em Santana do Ipanema, é originária da sua fixação no sítio Pedra da Lagoa, a cerca de 12 km do centro da cidade. Região do alto d’Ema.









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quarta-feira, 15 de abril de 2020

MULHERES DE BARRO


MULHERES DE BARRO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.293
PANELAS NO ALTO DO TAMANDUÁ. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Preso na quarentena, nunca mais passeei pela feira livre semanal. Mas soube que a feira das panelas desapareceu da rua  costumeira e talvez também tenha sido extinta. Era ali que se compravam panelas, potes, jarras, bois e éguas de barro. O artesanato era mantido pelas mulheres da Lagoa do Mijo ou Baixa do Tamanduá e do Povoado Alto do Tamanduá. A baixa do Tamanduá é sítio às margens da BR-316 na fronteira Santana/Poço das Trincheiras, enquanto o povoado é vizinho e pertence ao Poço, também na BR-316. Não faz muito tempo assim, os homens fabricavam balaios de cipó e as mulheres lidavam com a família das panelas. Local de barro vermelho, a matéria-prima tornou-se escassa para ambos os sexos e  os homens foram os primeiros a abandonarem a arte.
As duas comunidades são irmãs e originárias das pessoas pretas oriundas do também vizinho povoado Jorge. Ali frequentei muitas cantorias com os repentistas Rafael Paraibano (sogro) e José de Almeida, sempre com recepções calorosas dos humildes habitantes, gente boa. No final dos desafios, o samba de roda tomava conta da casa de taipa, acompanhado de peneira, pandeiro e versos de um ou dois cantores. Com o desmatamento na redondeza acabou o cipó, com o povoamento sobre o povoado acabou o barro. Homens e mulheres tiveram que procurar outras fontes de renda e abandonar os artesanatos centenários. As casas isoladas se tornaram um povoado alegre que tem de tudo, inclusive é cortado pelo asfalto da BR-316.
Levamos nossos alunos para uma aula de campo na Geografia, eu e o saudoso professor José Maria Amorim. Numa sexta-feira estávamos nas casas da mulheres do barro, apreciando o atribulado fabrico das panelas. Trabalho de pesquisa,  relatório, discussão posterior em sala de aula. Quando as peças de barro foram queimadas no finalzinho da tarde, retornamos a Santana depois de participarmos de uma roda de samba. No dia seguinte as panelas seriam vendidas na feira da Rainha do Sertão. Excelente oportunidade para irmos cumprimentar aquela gente boa na manhã do sábado, na feira das panelas.
Quanta saudade das MULHERES DE BARRO!.
·        Peneira: instrumento musical feito de palha rígida com pedrinhas no interior. Assegura o ritmo do samba.




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