terça-feira, 21 de abril de 2020

OLHO d'ÁGUA DO AMARO


OLHO d’ÁGUA DO AMARO
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.297
Mais de 200 anos fornecendo água. Fonte do Amaro protegida por concreto.
(Foto em 2012. B. Chagas).

Ao adquirir uma sesmaria de doze léguas na Ribeira do Panema, seu futuro desbravador assegurava no porvir, sítios, povoados, vilas e cidades na caatinga sertaneja. Da serra do Caracol à Ribeira do Riacho Grande, terras de norte/sul seriam conquistadas transformando a região selvagem em fazendas de criar e de produção agrícola. O burro, o cavalo, o carro de boi e a coragem dos descendentes portugueses, escreveram uma grande história de lutas e conquistas no semiárido alagoano quando a civilização estava tão distante. O imenso naco de uma família fomentou a multiplicação de novos núcleos que faziam surgir fazendas em lugares escolhidos e privilegiados. Foi assim que nasceram vários sítios pastoris, entre eles o que seria depois denominado Olho d’Água do Amaro.
Certa feita em tempo de seca braba, caçadores descobriram uma fonte com alguém morando perto. No lugar investigado pelos donos das terras foi encontrado um negro fugitivo da Escravidão de nome Amaro que ali tinha se refugiado e descoberto a fonte. Daí para a frente o lugar passou a ser denominado Olho d’Água do Amaro. Até os dias atuais a fonte (olho d’água) existe e continua abastecendo de água a quem dela precisa. Este sítio estar localizado entre a cidade de Santana do Ipanema e Senador Rui Palmeira. É servido por estrada de barro e terra denominada rodagem. Hoje possui igreja e escola no centro do sítio e é referência em todos os acontecimentos daquelas redondezas. Apesar dos inúmeros outros sítios vizinhos, sempre é apontado como “na Região de Olho d’Água do Amaro”.
Dali saíram altos comerciantes, heróis de guerra, intelectuais diversos, escritores e abastados fazendeiros. Pode ser a região mais rica da zona rural e possui tradição no lazer de vaquejadas, embora o desmatamento acompanhe a tristeza dos períodos secos. É por ali que o santanense corta caminho para atingir as cidades de Carneiros e Senador Rui Palmeira. Tanto pode se chegar no Amaro pelo antigo Campo de Aviação quanto pelo sopé da serra Aguda. Pena não ter sido ainda asfaltado como liame entre as cidades citadas acima. Passear aos domingos pela região é lazer agradabilíssimo para quem ama os campos sertanejos.
Vários escritos já apontaram o lugar.
Muitas histórias e lendas foram contadas sobre o sítio.
Ah! Muito bem fez o negro Amaro no tempo do CATIVEIRO.







                                                                       


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CHEIA ESCAVA, CHEIA ATERRA


CHEIA ESCAVA, CHEIA ATERRA
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.296
TRAVESSIA DO MINUINO EM 1983. (FOTO: LUÍS EUCLIDES).

Quando a Ponte General Batista Tubino (era interventor de Alagoas) estava para ser iniciada, em Santana do Ipanema, também houve certa frustração. O povo esperava que a citada ponte fosse construída sobre o rio Ipanema, mas no trecho da antiga rodagem que deva acesso a Olho d’Água das Flores. Um dos lugares mais largo do rio Ipanema, em torno de 150 metros, o trecho chamado Minuino, era uma travessia de areia grossa. Em torno dos anos 1960, uma surpresa para a nossa geração: O Ipanema em uma das suas grandes cheias, escavou o trecho e trouxe à tona uma passagem molhada construída não se sabe quando. Foi para a meninada e os passantes como a descoberta de um belíssimo tesouro.
Pode ter sido ou não, obra do Dr. Otávio Cabral (fora interventor da cidade em 1932) para melhorar o trajeto entre Santana e a Sementeira, estação agrícola experimental do governo no sítio Curral do Meio II. Cabral foi o agrônomo que revolucionou a Agricultura do sertão de Alagoas com respaldo para Sergipe e Pernambuco, anos 20. Voltando à passagem molhada, tempos após a sua descoberta pelo rio, foi retocada aqui e ali pelas autoridades locais. Quando as cheias eram mínimas, as águas passavam por algumas bueiras quadriculadas enquanto nós, os meninos deslizávamos com elas   pelas bueiras de cimento e pedras. Nessa época de adolescência já ninguém ouvira falar do nome daquele trecho: Minuino. Agora, principalmente, o topônimo foi extinto do conhecimento santanense.
Pode ter tido origem no espanhol ou na linguagem indígena. Tudo leva à palavra Menino.
No caso da ponte, o antigo Minuino não viu nem o cheiro. A ponte de concreto foi mesmo erguida na região do Centro Comercial com complemento de rodovia para Olho d’Água das Flores. Até hoje o Minuino ficou esquecido e passou a ser um atalho para quem quer seguir para a cidade acima. Depois de muitas peripécias durante as pequenas cheias, meninada e passantes contemplaram os estragos dessa última que se foi com a passagem molhada que estava sendo o lazer da garotada e depósito de lixo dos arredores.
A prefeitura atual tenta consertar a passagem molhada que desde a época de Minuino clama por uma ponte na porta da ingratidão.
Ô Santana, minha terra.



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