CHEIA
ESCAVA, CHEIA ATERRA
Clerisvaldo
B. Chagas, 21 de abril de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Quando a Ponte General
Batista Tubino (era interventor de Alagoas) estava para ser iniciada, em
Santana do Ipanema, também houve certa frustração. O povo esperava que a citada
ponte fosse construída sobre o rio Ipanema, mas no trecho da antiga rodagem que
deva acesso a Olho d’Água das Flores. Um dos lugares mais largo do rio Ipanema,
em torno de 150 metros, o trecho chamado Minuino, era uma travessia de areia
grossa. Em torno dos anos 1960, uma surpresa para a nossa geração: O Ipanema em
uma das suas grandes cheias, escavou o trecho e trouxe à tona uma passagem
molhada construída não se sabe quando. Foi para a meninada e os passantes como
a descoberta de um belíssimo tesouro.
Pode ter sido ou não,
obra do Dr. Otávio Cabral (fora interventor da cidade em 1932) para melhorar o
trajeto entre Santana e a Sementeira, estação agrícola experimental do governo
no sítio Curral do Meio II. Cabral foi o agrônomo que revolucionou a
Agricultura do sertão de Alagoas com respaldo para Sergipe e Pernambuco, anos
20. Voltando à passagem molhada, tempos após a sua descoberta pelo rio, foi
retocada aqui e ali pelas autoridades locais. Quando as cheias eram mínimas, as
águas passavam por algumas bueiras quadriculadas enquanto nós, os meninos deslizávamos
com elas pelas bueiras de cimento e
pedras. Nessa época de adolescência já ninguém ouvira falar do nome daquele
trecho: Minuino. Agora, principalmente, o topônimo foi extinto do conhecimento
santanense.
Pode ter tido origem no espanhol ou na
linguagem indígena. Tudo leva à palavra Menino.
No caso da ponte, o
antigo Minuino não viu nem o cheiro. A ponte de concreto foi mesmo erguida na
região do Centro Comercial com complemento de rodovia para Olho d’Água das
Flores. Até hoje o Minuino ficou esquecido e passou a ser um atalho para quem
quer seguir para a cidade acima. Depois de muitas peripécias durante as
pequenas cheias, meninada e passantes contemplaram os estragos dessa última que
se foi com a passagem molhada que estava sendo o lazer da garotada e depósito
de lixo dos arredores.
A prefeitura atual
tenta consertar a passagem molhada que desde a época de Minuino clama por uma
ponte na porta da ingratidão.
Ô Santana, minha terra.
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