BOCA
DE CAIEIRA
Clerisvaldo
B. Chagas, 29 de abril de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Atualmente a juventude
que naturalmente vem substituindo ditados populares, costuma chamar uma
situação ou pessoa inflexível de “tampa de crush” ou de “boca de caieira”. Caieiras
para quem não sabe, são pilhas organizadas de tijolos crus com boca para se
colocar lenha e, alguns suspiros por onde entra o fogo e sai a fumaça durante o
cozimento. O tijolo bom tem que ser bem cozido na caieira onde perde a cor
esverdeada da argila original e fica da cor que conhecemos e que todo mundo
chama “cor de tijolo” – atual moda de cor de tecidos. A profissão do oleiro é
muito dura. Extrai o barro e molda os tijolos pelo dia até a quantidade
suficiente para queimá-los. Prepara a caieira.
À noite toca fogo. Evitar beber água e tomar banho durante a queimada
para “não estuporar”, dizem os entendidos.
Em Santana do Ipanema,
havia no Minuino as três olarias que sustentaram a cidade com esse material de
construção, durante décadas. A de José Cirilo, a de Eduardo Rita (que também
fabricava telha do barro) e a do senhor Pedro Cristino (Seu Piduca). Todas elas
tinham os seus limites nos terrenos, mas pessoas outras também aproveitavam o
barro da ribanceira do rio e vez em quando éramos surpreendidos à noite com os
belíssimos fogos das caieiras contrastando com o negror do tempo. Lá de longe,
dos alpendres dos fundos das casas da Rua Antônio Tavares avistávamos nas
margens do rio Ipanema a labuta renhida dos oleiros.
Mas em outros trechos
urbanos do rio Ipanema também havia o fabrico dos tijolos, esporadicamente. A
retirada contínua da argila das ribanceiras, provocavam grande barrocas que não
paravam de crescer, mudando a feição e alargando o leito. Nos dias atuais as
caieiras são raras por ali, mas sempre aparece alguém com necessidade e parte
para fazer tijolos. Ainda hoje, no Minuino, nota-se o espaço e uma barreira
enorme de onde era extraído o barro da olaria de José Cirilo, bem na subida do
Conjunto Eduardo Rita, antiga estrada para Olho d’Água das Flores.
A quem interessa fatos
e fotos da história santanense? Pelo menos quando desaparecem os primeiros
ficam as fotos saudosistas e provocadoras de emoções.
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