terça-feira, 28 de abril de 2020

BOCA DE CAIEIRA


BOCA DE CAIEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.302
FAZENDO TIJOLO ÀS MARGENS DO IPANEMA, EM TORNO DE
40 ANOS ATRÁS. (FOTO: B. CHAGAS).

Atualmente a juventude que naturalmente vem substituindo ditados populares, costuma chamar uma situação ou pessoa inflexível de “tampa de crush” ou de “boca de caieira”. Caieiras para quem não sabe, são pilhas organizadas de tijolos crus com boca para se colocar lenha e, alguns suspiros por onde entra o fogo e sai a fumaça durante o cozimento. O tijolo bom tem que ser bem cozido na caieira onde perde a cor esverdeada da argila original e fica da cor que conhecemos e que todo mundo chama “cor de tijolo” – atual moda de cor de tecidos. A profissão do oleiro é muito dura. Extrai o barro e molda os tijolos pelo dia até a quantidade suficiente para queimá-los. Prepara a caieira.  À noite toca fogo. Evitar beber água e tomar banho durante a queimada para “não estuporar”, dizem os entendidos.
Em Santana do Ipanema, havia no Minuino as três olarias que sustentaram a cidade com esse material de construção, durante décadas. A de José Cirilo, a de Eduardo Rita (que também fabricava telha do barro) e a do senhor Pedro Cristino (Seu Piduca). Todas elas tinham os seus limites nos terrenos, mas pessoas outras também aproveitavam o barro da ribanceira do rio e vez em quando éramos surpreendidos à noite com os belíssimos fogos das caieiras contrastando com o negror do tempo. Lá de longe, dos alpendres dos fundos das casas da Rua Antônio Tavares avistávamos nas margens do rio Ipanema a labuta renhida dos oleiros.
Mas em outros trechos urbanos do rio Ipanema também havia o fabrico dos tijolos, esporadicamente. A retirada contínua da argila das ribanceiras, provocavam grande barrocas que não paravam de crescer, mudando a feição e alargando o leito. Nos dias atuais as caieiras são raras por ali, mas sempre aparece alguém com necessidade e parte para fazer tijolos. Ainda hoje, no Minuino, nota-se o espaço e uma barreira enorme de onde era extraído o barro da olaria de José Cirilo, bem na subida do Conjunto Eduardo Rita, antiga estrada para Olho d’Água das Flores.
A quem interessa fatos e fotos da história santanense? Pelo menos quando desaparecem os primeiros ficam as fotos saudosistas e provocadoras de emoções.









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