segunda-feira, 13 de abril de 2020

FERRÃO, CURRIÃO E OUVIDOS MOUCOS


FERRÃO, CURRIÃO E OUVIDOS MOUCOS
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.091
IMAGEM: (YOU TUBE).
 É verdade que o Encontro dos Carreiros na cidade de Inhapi, no alto sertão de Alagoas, é a maior festa de carros de boi do mundo. Encontro, espetáculos, festas e mais festas ecoando por todo o Brasil de meu Deus. Méritos para o idealizador do evento saído do Sindicato Rural. Méritos para o prefeito da época que encampou o acontecimento e fez a fama da festa nos quadrantes do mundo. E o carro de boi, primeiro veículo terrestre do Brasil a transportar peso extra animal, fica definitivamente reconhecido em nosso país. Com eventos como esse, a resistência é acesa, o desbravamento dos sertões não será esquecido e as fazendas brasileiras perpetuam séculos de história do semiárido. Mas, e os carreiros? Os carreiros, condutores dos carros de pau do Brasil colônia?
A vestimenta do condutor é qualquer uma, assim como o seu tipo de chapéu. Todavia, das três “ferramentas” obrigatórias, duas delas deveriam ser proibidas pelas autoridades. As mesmas autoridades que queriam acabar com a corrida de mourão e a vaquejada (pega de boi no mato). Facão, currião e ferrão continuam sem faltar a qualquer condutor, iniciante ou veterano. O facão é indispensável para mil coisas que se precisa ao carrear, porém o currião e o ferrão, são instrumentos de torturas que jamais poderiam existir. O mau carreiro bate muito nos bois descarregando suas frustrações de casa e da vida. Do mesmo modo ferroa os animais até sem necessidades, quando o sangue esguicha pelo couro grosso. E os pobres animais que não têm condições de defesa, ficam a mercê dos torturadores que a Lei não percebe.
E como as autoridades de cima não proíbem essa prática, deveria partir do atual prefeito do Inhapi, que apoia a maior festa do gênero no mundo. “Só participa da festa carreiro sem ferrão na vara de carrear e sem currião”. “Fica decretado no município de Inhapi, a extinção do currião e do ferrão no trato com bois de carro”. E assim a nova prática de proteção animal se espalharia pelo sertão de Alagoas e além fronteiras. Sendo complementada a Lei por governadores nordestinos, essa prática infame de tortura e covardia, seria extinta no Nordeste brasileiro. E como político gosta de fama, logo o prefeito ficaria famoso pela prática do bem e como o pioneiro na abolição desses castigos ao bicho bruto. Pressionemos em favor dos indefesos. Cadê os vereadores de Inhapi?
*Currião (correão). Chibata de couro cru usada para bater e torturar o boi.



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