LATA
NA CABEÇA
Clerisvaldo
B. Chagas, 30 de abril de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Dizem que uma imagem
vale mais do que mil palavras, mesmo que essa imagem tenha seus defeitos
relativos ao tempo. Mas uma fotografia faz reviver aos mais velhos e refletir
os mais novos. Representa sempre um testemunho inconteste de um passado, de uma
situação e mesmo de uma dor. E quando se trata da história, da sociologia, da
geografia santanense, sempre fica preso na garganta um ranço de nostalgia por
alguns segundos ou por vários minutos. Os abnegados pesquisadores parecem
sentir com maior intensidade os apertos emocionais das suas descobertas. E
aquilo que não é mais possível acontecer, continua acontecendo na foto
hibernosa do baú. Rever foto antiga é suspirar, reviver, lacrimar, esvanecer...
Vamos fazer a leitura da foto abaixo:
1.
Voltemos
ao passado em torno de 60 anos. 2. Santana sem água encanada. 3. Toda água de
consumo vem das cacimbas arenosas do rio Ipanema. 4. Foto do trecho urbano do
rio no local chamado Poço do Juá. 5. Leito seco do rio com alguns poços. 6.
Vejamos o mundo de areia grossa no primeiro plano. 7. Duas mulheres e duas
adolescentes apanham água das cacimbas invisíveis. Lata e baldes são utilizadas. 8. Fundo médio:
pessoas em outras atividades. 9. Terceiro plano, fundos de residências no
início do Bairro da Floresta; parte ainda não habitada na barranca do Panema.
10. Mussabês no rio, coqueiros nos quintais. 11. Céu azul de verão. 12. Trajes
humildes das pessoas. Foto raríssima do histórico santanense. 13. Faina diária
das mulheres ribeirinhas do passado.
É esse o rio que sempre
matou a sede do seu povo e alimentou a sua gente. Deu água, deu peixe, deu
pasto, deu cura para os males, deu lazer, barro para seus telhados, areia para
suas construções, juncos para seus colchões, esconderijos para os casais
clandestinos, madeira para seus móveis, para seus carros de boi, monturos para
seus descartes.
É esse o rio pai e mãe
que tentam matá-lo em retribuição. Obstruem o seu caminho. Não querem deixá-lo
escorrer. Mas o velho Panema ainda resiste e não pode faltar ao São Francisco
onde se mistura e formam um só.
“Agua corrente, água
corrente, teu destino é igual ao destino da gente”
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