segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 

O BUEIRO DO PORRONCA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de novembro de 2920

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.422


A anedota contada por um companheiro, faz lembrar o prof. Aloísio Ernande Brandão. Estudamos com o prof. Ernande desde o curso Admissão ao Ginásio e fomos seu aluno por um longo período, no Ginásio Santana. O mestre lecionava Geografia, História e Matemática.  Imensamente carismático o professor estava sempre bem humorado. Fumava muito, gostava de uma cervejinha, sem se embriagar. Adotava alguns cacoetes como dizer que “não dava 10 a aluno, e que 10 era do professor”. Com certeza herdara o mau hábito de outro professor antigo. Amava colocar o cigarro em pé no birô, após algumas tragadas e chutar restos de giz pelos cantos da sala. Nunca vi nem ouvi dizer que alguém ficasse com raiva do professor Ernande. Era um meninão amigo de todos. Tive a honra, muito depois do alunado, em ser colega de trabalho do mestre, tanto no Ginásio quanto no Colégio Estadual Prof. Mileno Ferreira, da cidade. Sua partida gerou muita comoção em Santana do Ipanema e em todo sertão de Alagoas. Foi homenageado após com o título Escola Estadual Prof. Aloísio Ernande Brandão, no antigo “Cepinha”, escola desmembrada do antigo Estadual e inaugurada em 1992.

O professor Ernande tinha o apelido de PORRONCA. Não sabemos do autor e nem da origem do vulgo. Porronca é um cigarro de palha de fumo de corda ou fumo grosso, em nosso sertão conhecido como PACAIA.  Pois bem, vamos a anedota, não inédita nesse espaço.

Em um trem de Pernambuco viajavam vário passageiros, entre eles um rapaz e uma senhorita a certa distância um do outro.  O rapaz ficara encantado com a beleza da moça, muito tímida e de sobrinha à mão. A moça notava o interesse do rapaz, por ela, mas procurava não dá bolas. O rapaz queria sentar no banco da moça, mas não sabia o que dizer. Foi então que uma oportunidade apareceu para o início de conversa. Lembrando que ali perto havia um bueiro de usina, (longa chaminé de barro de olarias e engenhos). aproximou-se da recatada senhorita, mas não notara que sua braguilha estava aberta.

“Bom dia, moça, a senhorita conhece o bueiro do Porronca?”.

A moça parou sua investida afastando-se no banco e dizendo bravamente:

“Nem conheço nem quero conhecer.  E se o senhor botar essa peste pra fora, meto-lhe o cabo da sobrinha”.

ESCOLA PROF. ALOÍSIO ERNANDE BRANDÃO (FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2020/11/obueiro-do-porronca-clerisvaldob.html

domingo, 22 de novembro de 2020

 

A GRANDE DEMOLIÇÃO, LACRIMANDO A HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.424


Quando a Praça Senador Enéas Araújo ainda não tinha nome, em Santana do Ipanema, marcava bem o Centro Comercial com a enorme construção (espécie de Shopping) chamado pelo povo de “prédio do meio da rua. A grande cobertura construída no tempo de Santana vila, abrigava entre oito a dez estabelecimentos comerciais. Lojas de tecidos, armazém de secos e molhados, sinucas, barbearia, farmácia... e apenas um pequeno apartamento como primeiro andar, onde morava o prefeito da época. Ao lado, guardando distância de cerca de 50 metros, o belíssimo edifício em que a população denominava “sobrado do meio da rua”, da mesma época do primeiro. Andar de baixo, lojas diversas: Casa Atrativa, Arquimedes Autopeças, Casa A Triunfante. Primeiro andar repleto de janelões e salão único e enorme.

Nesse primeiro andar já funcionara, teatro, cinema, escola e, no seu ocaso, o Tribunal do Júri.

Um belo ou feio dia, correu o boato que o prefeito iria demolir ambos os edifícios. O povo foi pego de surpresa e nem deu tempo discutir, protestar, aprovar e nem sequer pensar. Mal o boato vazara na cidade, teve início o destelhamento do “prédio do meio da rua”. Tudo foi ligeiro e brutal assim como fora demolido no cacete à meia-noite, o primeiro cemitério de Santana. O povo, estarrecido, não aplaudia, nem protestava, nem chorava e nem sorria. Apenas o nó na garganta coletiva. Recorrer a quem? Terminado o violento serviço diante do povo estupefato, teve origem a limpeza do terreno e imediatamente o início de construção de uma pracinha, em seu lugar.

Enquanto se construía a pracinha, o “sobrado do meio da rua” sofria a mesma barbaridade das históricas cacetadas. Purgatório para a alma da tradição santanense. Destelhado, demolido e pracinha em cima da ferida.

Demorou um tempão para os habitantes da cidade deglutirem a arrogância ditatorial.

Esse episódio é sempre lembrado quando surge uma foto antiga do centro de Santana do Ipanema: “Hem, hem! Ainda lembro de tudo mulé”. Armazém de Seu Marinho, Sinucas de Zé Galego, lojas de tecidos de Seu Doroteu, João Agostinho, Pedro Chocho, barbearia de Nézio, farmácia de seu Caroula... Tudo no “prédio do meio da rua”. Arquimedes Auto peças de Arquimedes, A Triunfante de Zé e Manoel Constantino, a Casa Atrativa de Abílio Pereira de Melo, no “sobrado do meio da rua” ...

Mas como as novas gerações podem conhecer a história se O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema ainda não foi publicado! O maior documentário da terra de Senhora Santana, continua aguardando o interesse das autoridades desde o ano de 2006.

ASSASSINATO DO SOBRADO DO MEIO DA RUA (FOTO: LIVRO 230/DOMÍNIO PÚBLICO).

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2020/11/agrande-demolicao-lacrimando-historia.html