domingo, 29 de novembro de 2020

 

A VEZ DO RIACHO ESQUECIDO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.427



Quando o escritor disse que nenhum geógrafo do Brasil lembraria daquele riacho solitário em que nascera, errou na sua profecia e acertou nas entrelinhas do seu desejo. Esse geógrafo já cantou e decantou o riacho João Gomes, afluente do rio Ipanema, inclusive decifrando sua denominação: riacho das beldroegas. Uma vez descoberto e decantado, chegou o momento de visitas e transformações importantes na sua barra (foz, desembocadura, desaguadouro). Máquinas já estão trabalhando no seu leito e imediações, onde o riacho esquecido do escritor santanense Oscar Silva imperou solitário por centenas de anos seguidos. É que o sítio rural Barra do João Gomes fora origem dos seus familiares, isto é, da família Pio.

Teve início a obra prometida pelo saudoso prefeito Isnaldo Bulhões: a barragem do João Gomes, que será a maior obra hídrica do município. Pena ter havido desgaste nos meios políticos e institucionais devido a entendimentos prévios em que houve descontentamentos de moradores do lugar, referentes à valores indenizatórios. Mas isso é coisa em que partes interessadas e justiça chegarão a bom termo, não temos dúvidas. O riacho temporário irriga

grande número de sítios na zona rural como o Tingui, Lagoa do João Gomes, Batatal e o próprio Barra do João Gomes. Corta a AL-130 e escorre dentro da Reserva Sementeira, do governo estadual, a 3 km do centro da cidade. Veia d’água importantíssima para os agropecuaristas, rebanhos e fauna da caatinga santanense.

Com a construção da maior barragem do município, haverá psicultura, água para o rebanho da região, lavoura irrigada e fonte para caminhões-pipa durante as estiagens. Segundo divulgação, a obra criará 300 empregos diretos e indiretos, mão-de-obra local e compras no comércio da cidade, fazendo o dinheiro circular nesse final de ano. Pela dimensão da obra, sua realidade poderá fazer parte do roteiro turístico que estar sendo implementado e até ser criado muitas novidades no seu entorno.

 Infelizmente, aqui no sertão nordestino, estaremos sempre a precisar de fontes e mais fontes de armazenamento d’água. Porém, cada fonte poderá ser transformada em variados atrativos.

 “Dê-me um limão e eu o transformarei em limonada”

CÂNION NO RIACHO JOÃO GOMES SOB PONTE NA AL-130 (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2020/11/avez-do-riacho-esquecido-clerisvaldob.html

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

 

O AÇÚCAR DO VEREADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.426

 

Não gostamos de reprisar trabalhos, mas a pedido de bom amigo dos velhos tempos, vamos recontar com roupagem nova O Açúcar do Vereador.

Maneca, altamente carismático e sério, possuía um Café em Santana do Ipanema. Além do café mais gostoso da cidade, também despachava refrigerantes e complementos para lanches rápidos. Era nosso vizinho de loja de tecidos, na esquina defronte ao Museu. Não havia vivente nenhum em Santana do Ipanema que não gostasse de Maneca. Como ninguém é de ferro, como dizem, Maneca, vez em quando tomava umas, mas ninguém via, apenas notava por algumas atitudes que fugiam à regra habitual. Quando o prof. Alberto Agra se sentou à mesa e lhe pediu café e um queijo. Houve certa demora e o professor repetiu o pedido mais duas veze, um queijo significava uma fatia de queijo. Maneca veio, trouxe o café e um queijo inteiro que pôs no prato do professor e retirou-se.

Quando um cliente pediu um maço de cigarro, Maneca disse que não tinha. O cliente apontou para a prateleira afirmando que estavam ali os maços, estava vendo. Maneca insistiu, seco: “não tem cigarro”. E assim iam acontecendo as coisas, quando o homem tomava uma. A gente perguntava o porquê do seu café ser tão gostoso. Ele respondia sem guardar segredo: “misturo o café de primeira com o café de segunda. (Café Afa, marca da época).

Pois bem, certo dia chegou ali o vereador Zé Pinto Preto, pediu um café e sentou-se a esperar. Havia em cada mesa, um açucareiro de vidro grosso e cúpula de metal com tampa fácil de abrir. Maneca estava passando café, lá para dentro e gritou: “já vai!”. Pinto Preto, então, enquanto aguardava o café, foi virando o açucareiro na mão e comendo açúcar.  Maneca via de lá o movimento do vereador.

Terminada a tarefa na cozinha, o comerciante trouxe o café, pôs a xícara à mesa e carregou o açucareiro. O vereador pensou que o homem iria abastecer o objeto. Com a demora, café esfriando, gritou lá para a cozinha: “Maneca, e o açúcar?”

O vereador pegou um péssimo dia com Maneca daquele jeito:

“O açúcar você já comeu, agora beba o café, se levante e se rebole para misturar”.

Ô tempo bom...

 

PACOTE DO ANTIGO CAFÉ AFA (FOTO: DIVULGAÇÃO).

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2020/11/oacucar-do-vereador-clerisvaldob.html