quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

 

XAXANDO FEIJÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2021.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.478



 

Na região do semiárido o sertanejo não perde tempo. Mal chegaram as trovoadas em pleno mês de fevereiro, notamos a grande animação nos roçados, através das novas tecnologias. São dezenas e dezenas de vídeos na Internet mostrando a alegria sertaneja em relação ao campo. Agricultores cortando terras, plantando feijão e milho, tangendo gado pelos campos imensamente verdes e até mesmo xaxando o feijão.  Xaxar em nosso torrão é fazer uma das limpezas no feijoeiro, geralmente à base da enxada. Consiste em limpar os arredores do pé de feijão e ao mesmo tempo puxar a terra do entorno para os vegetais. Esse movimento faz um ruído característico da enxada na terra, um onomatopaico xá, xá, xá...

Daí ter se criado o termo “xaxá feijão”, isto é, ouvir o som da enxada na terra: xá, xá, xá...

No sertão de Alagoas, grande parte dos que cultivam o feijão e o milho, trabalha ainda no sistema arcaico do arado.  Um cidadão guiando uma parelha de bois ou garrotes puxa o arado enquanto outro homem denominado rabisqueiro equilibra atrás esse mesmo arado em terreno fofo ou pedregoso. A necessidade mexe com as ideias e tem gente utilizando até cavalo e jumento no lugar das parelhas bovinas. Tem agricultor usando lanterna adaptada à cabeça e outra adaptada à barriga para o trabalho de semeadura à noite e não perder tempo nessa época do plantio. Até mesmo para xaxar o feijão, teve agricultor inovando fazendo esse serviço que é individual com enxada, agora utilizando um jumento nas carreiras entre os feijoeiros adaptando uma enxada ao arado, puxado pelo animal asinino. O jegue não pisa nos pés de feijão e usa uma espécie de burga no focinho para não comer a lavoura ainda verde.

Pelo jeito, o sertanejo alagoano continua o preceito do padre Cícero Romão Batista quando o sacerdote mandava plantar assim que chovesse, sem esperar época fixa para esse fim.

Vem por aí boa quantidade de feijão-de-corda para vender e ser devorado com galinha de capoeira e manteiga de garrafa, compadre! Aprecia? Aguardemos.

Euforia geral no Sertão! Bênçãos merecidas.

ROÇADO DE FEIJÃO (CRÉDITO: PIXABAY).


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 

CABAÇAS E CABACEIROS

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.477

 









Foi bom saber que o modernismo, não conseguiu extinguir por completo o plantio e uso da cabaça, fruto do cabaceiro. Até mais da metade do século passado, os sertões nordestinos usavam com bastante espontaneidade esse fruto plantado que nasce e se estira em ramas, igualmente à melancia. Feita a limpeza interior, a cabaça é utilizada para inúmeras tarefas domésticas. São elas de todos os tamanhos. Serve para transportar água dos barreiros para casa e também utilizadas como cantil nas longas viagens sertanejas. Mantém a água sempre fria em qualquer temperatura ambiental. Quando pequena, serve para guardar pólvora para espingarda tipo “soca-tempero”. São bastante usadas como boias amarradas à cintura de quem estar aprendendo a nadar.

A cabaça foi muito utilizada em forma de cuia pelos mendigos. E ainda em forma de cuia, utensílio usado nos barreiros para apanhar água. Foi bastante útil no passado como medida no comércio de farinha. “Uma cuia, duas cuias... De farinha. No Rio Grande do Sul a cabaça é chamada de Porongo, utilizado para cuia de chá mate. A industrialização e a popularidade do plástico, tornaram mais fáceis de se obter utensílios domésticos e consequentemente o desestímulo ao plantio do cabaceiro.

Em Alagoas temos a cidade de Coité do Noia e, coité é uma cuia da cabaça. Em Santana do Ipanema, temos na zona rural o sítio Cabaceiro, provavelmente antigo produtor de cuias e cabaças. O nome cabaça também era usado no masculino, mas infelizmente a criatividade humana o associou a virgindade feminina. “Arrancar o cabaço”, linguagem chula que significa tirar a virgindade, romper o hímen.

Documentos tricentenário sobre terras no sertão alagoano, registram o “riacho dos Cabaços”, no alto Sertão, como marco de sesmaria.

Foi gratificante para o sertanejo a exibição em vídeo de uma grande safra de cabaças no estado de Goiás. Destino: cuia de chimarrão.

Não temos informações, todavia, de alguma cultura na zona rural de Santana do Ipanema, hoje.  Aliás, o tempo muda, o produto escasseia, mas o sítio Cabaceiro continua testemunhando as etapas inexoráveis da história.

SAFRA DA CABAÇAS (CRÉDITO: PINTEREST).

 


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