domingo, 15 de janeiro de 2023

 

ARAPUÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de janeiro de 2022.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.827

 



Muito gostoso falar sobre essa pequena abelha da nossa terra que não tem ferrão, mas bota para correr até cabra valente. Pode ser chamada de arapuá aqui no sertão, mas o seu nome indígena – que significa mel redondo – possui uma grande variação conforme as regiões, como irapuã, arapuã, aripuã, aripuá, arapu, axupé, cupira, urupuca e várias outras. Referindo-se à abelha no masculino como falam os sertanejos, o Arapuá faz a sua colmei na parte externa dos galhos de árvores, que se tornam um monte arredondado, daí o “mel redondo”, formato do seu enxu ou inxu também assim denominado no sertão, toda colmeia grande ou pequena. Essa minúscula danadinha gosta muito de árvores frutíferas e seus galhos mais altos, como a mangueira, por exemplo.

Nem precisa ir diretamente atrás do inxu, tirar o mel, basta chegar por perto, subir na árvore para pegar uma fruta nas proximidades das abelhas. Isso chega a ser muito divertido por quem assiste a cena de uma perseguição em massa por conta das pequeninas. O bando ataca, principalmente, o cabelo, onde se enrosca e morde por todos os lugares, com risco de penetração nos ouvidos, e nariz. Enquanto isso, a vítima parece louca, apavorada, tentando descer da árvore e se livrar da arapuá nos cabelos. Imita um boneco de mola enlouquecido, ligado na tomada. Muitos e muitos risos pelos arredores.  “Corra, cabra velho, que o que elas querem é distância entre você e o inxu”. Geralmente, tudo acaba bem e o sujeito sai de cara feia olhando para trás e que mais a frente ele próprio estará rindo e contando a presepada.

O tamanho de um inxu de arapuá é visto de longe, chama muita atenção até para os acostumados sertanejos. Poderíamos aqui falar em detalhes sobre a abelha arapuá (Trigona spinipes) mas o amigo ou amiga talvez não estejam interessados (as) em minúncias, sendo o foco do tema as brincadeiras que essas simpáticas abelhas pretas pequenas e lustrosas fazem para botar o cabra para correr quando se sentem ameaçadas. Representam mais um encanto e coisas engraçadas do sertão nordestino. Mas existe também uma abelha chamada inxuí, que por ser muito pequena, bem como sua colmeia, foi até motivo de nome de lanchonete minúscula na cidade de Arapiraca, com ideia do escritor Zezito Guedes.

 


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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

 

POÇO DAS MULHERES

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.827

 



A proposta do grupo era mostrar às autoridades e à sociedade em geral, a intensa poluição do trecho, urbano do rio Ipanema relativo ao Bairro Barragem até o final do Bairro São Pedro. Assim fomos da zona oeste da cidade até a zona leste, por dentro do rio seco e prosseguimos até o final do bairro ou subúrbio Bebedouro. Fotografando, filmando, conseguimos o nosso objetivo quando exibimos a poluição geral dominada pelo lixo doméstico que não poupa lugares. Até sentíamos pena em vermos tantas carrapateiras ao longo do rio, terrivelmente adubada, assoberbada com tanto lixo.  A carrapateira que dá o fruto mamona, é muito bonita, vistosa, folhas largas, frutos belos em cachos, tal qual a uva. É matéria-prima do biodiesel e do azeite que lubrifica o eixo do carro de boi e o torna cantador; orgulho do carreiro.

Antes da empreitada, havíamos sido informados pelo saudoso comerciante Benedito Pacífico, sobre o Poço das Mulheres que fica exatamente aos fundos do seu Restaurante Biu’s Bar, à Rua Delmiro Gouveia. O poço, situado em local de pedregulho, puxa mais para perto da margem direita do rio Ipanema. Antigamente, depois das grandes cheias, entre três a quinze dias, a o volume d’água baixava, a cor barrenta limpava, avisando ser o momento propício para os banhos nos poços: Juá, das Mulheres, dos Homens e o do Escondidinho. Pois bem, ao passarmos em nossa missão pelo poço indicado pelo senhor Benedito, paramos para fotografar, apreciar e admirar aquele trecho ajardinado de pedras e arbustos por trás da Rua Delmiro Gouveia. Imaginamos as mulheres se banhando, naquele tempo onde o banho era com vestido e tudo.

Os homens banhistas do Poço do Juá, a cerca de 300 metros abaixo, não subiam para o poço das Mulheres. Naquelas imediações ainda hoje se vê no leito do rio seco, muitos arbustos verdes e animais amarrados ou não, pastando emoldurados nas paisagens de inverno ou de verão. O poço das Mulheres representa uma espécie de resistência feminina em tempo de machismo acentuado do mundo sertanejo. O poço das mulheres deveria atualmente exibir uma escultura feminina para imortalizar o ponto tão valorizado de outrora, assim como outra escultura no poço dos Homens, o Máximo do lazer santanense até antes da construção da ponte sobre o rio e que leva o nome de General Batista Tubino.

Saudade.

NO POÇO DAS MULHERES: ESQUERDA PARA À DIREITA: PROFESSOR CLERISVALDO, CANTOR FERREIRINHA, PROFESSOR MARCELLO, FORROZEIRO MANOEL MESSIAS (FOTO: SÉRGIO CAMPOS-ARQUIVO).

).

 


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