segunda-feira, 29 de maio de 2023

 

GEO DAS VEIAS E CAPILARES

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.894

 Para meu ex-professor de Geografia José Pinto de Araújo



 

Uma bacia hidrográfica é formada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Graças a esse sistema natural o nordestino resistiu durante séculos aos efeitos das estiagens e estiagens prolongadas, denominadas “secas”. Os caminhos desses cursos d’água, maiores, menores e minúsculos, mitigaram a sede do povo sertanejo com água corrente, água empoçada e suas reservas freáticas em processos de cacimbas, cacimbões e poços artesianos. Na mesma estrutura, bebia os diversos tipos de gado que alimentavam o homem. No período de estiagem formavam-se as várzeas, chamadas no sertão de vazantes ou baixios que são partes muito baixas do relevo local, banhadas imediatamente pelos riachos, rios e riachinhos.

Essas partes baixas, são fertilizadas por esses cursos d’água, que fazem nascer o pasto que permitem o sustento e a engorda de ovinos, caprinos, bovinos e aves que procuram bichinhos, além de ser lugar de refrigério. E se formos particularizar os sertões nordestinos, focaremos o município de Santana do Ipanema. A bacia do rio Ipanema recebe diretamente seus afluentes em todas as regiões do município e indiretamente acolhem todos seus subafluentes e todos os outros filhotes de riachos. A título de ilustrações vejam nomes populares dos que mais aparecem. Do Oeste para Leste: Mocambo, Salobinho, Tigre, Camoxinga Salgadinho, João Gomes, Bode e Gravatá. 

O Mocambo é interestadual e escorre no sítio do mesmo nome, vindo do Poço das Trincheiras. O Salobinho vem das imediações do sítio Baixa do Tamanduá, banha o sítio Salobinho e tem sua foz no bairro Barragem. O riacho Tigre, é montanhoso do Maciço de Santana do Ipanema, despeja no riacho Camoxinga e este cruza a cidade, divide o bairro topônimo, do Comércio e despeja sobre a Ponte do Padre, no Poço do Juá O riacho Salgadinho nasce na Reserva Tocaia, divide os bairros Domingos Acácio e o antigo Floresta e tem sua foz também no poço do Juá. O João Gomes vem do município santanense e do município de Carneiros contorna a cidade e tem sua foz no sítio Barra do João Gomes. O bode vem das imediações da serra da Camonga (que faz parte do maciço de Santana) e deságua no Bairro Bebedouro. E por fim, o riacho Gravatá vem de Pernambuco e banha vários sítios entre a serra do Gugi e a serra da Lagoa, tendo a foz no Ipanema. Cada um tem sua geografia própria e um histórico de bravura e ocupação humana.

São veias, artérias e capilares da bacia do Ipanema.

TRECHO DO RIACHO TIGRE (FOTO: BIANCA CHAGAS).


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domingo, 28 de maio de 2023

 

DEGLUTINDO AS ZONAS

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.893


 

Estive no local dos antigos sítios rurais Cipó e Curral do Meio (I). E este sítio é classificado como Curral do Meio (I), porque existe outro Curral do Meio mais afastado da cidade, o que naturalmente ficaria com o título de Curral do Meio (II). O antigo sítio Cipó, era paralelo a AL-130, saída da cidade para Olho d’Água das Flores. Início da estrada que leva até o sítio Sementeira, propriedade do governo transformada em reserva. O sítio Curral do Meio (I), era imediatamente ligado ao anterior. Acontece que a cidade se expandiu também para o leste e engoliu as terras do lugar erguendo residências e casas comerciais. Cipó passou a fazer parte do perímetro urbano. Perdeu o nome que desaparece na mente das pessoas.

Brevemente o seu vizinho Curral do Meio (I), também seguirá o mesmo destino do Cipó e, aquelas árvores nativas e frondosas que ali existem desaparecerão com ele. Digo mais, após o englobamento do Curral do Meio (I), as imediações da Reserva Sementeira, também será zona urbana; inclusive já está muito habitada e com casas bem modernas.  Nesse momento não nos cabe avaliar vantagens e desvantagens do fenômeno urbano. Apenas estamos registrando coisas da história e da geografia da cidade que ninguém registra. Perdem-se as origens de sítios e de bairros. No outro lado da cidade, ainda não aconteceu o avanço na tomada do sítio Tocaias, por causa da Reserva Tocaia e sua vizinha fazenda Coqueiros, mas não sabemos até quando durará a resistência rural em um bairro (Floresta) que não para de se expandir.

Vizinho ao antigo Cipó, por um lado, formou-se com rapidez o Bairro Santo Antônio, nas faldas do serrote do Gonçalinho, do outro, o bairro do antigo Loteamento Colorado. Antes e colado ao Cipó: posto de gasolina, restaurante, bares, churrascaria, curso superior...  Estabelecimentos estes que atestam a expansão da cidade ali na saída para Olho d’Água das Flores, com as benesses da AL-130. Isso também prova que basta haver um loteamento em qualquer tipo de terreno que o estiramento é certo. Porém, empreendimentos isolados como posto de gasolina, churrascaria, pousada, posto de saúde, escola... Atraem residências e negócios multiplicadores que ajudam a povoar áreas, antes impensáveis e desvalorizadas.

TELHADOS DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO, VISTO DA AL-130. NOTE SUA LOCALIZAÇÃO NAS FALDAS DO SERROTE (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES, ARQUIVO B.CHAGAS)..

 

 


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