quarta-feira, 28 de junho de 2023

 

OLHO D’ÁGUA DO AMARO

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de junho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.915



 

Um dos antigos fundadores de Santana, que havia ganho sesmaria na Ribeira do Panema, ficou com uma extensão de terras que ia desde a serra do Caracol, até o Riacho Grande. A serra do Caracol fica logo após o atual povoado São Félix (antiga Quixabeira Amargosa) e, Riacho Grande é hoje o município de Senador Rui Palmeira. Tempos depois, saiu dividindo essas terras adquiridas, entre filhos e filhas, à medida que iam casando. isso resultou em imensas áreas de terras como o lugar rural Olho d’Água do Amaro. Ali, em tempo de seca, foi descoberta uma fonte d’água e um negro escravo fugido, perto da fonte na caatinga bruta. Como a fonte d’água descoberta nuca secou e conseguiu chegar até os nossos dias, estivemos no lugar pesquisando vestígios históricos para o livro “Negros em Santana”. E como o negro encontrado tinha o nome de Amaro, assim ficou a denominação do lugar: Olho d’Água do Amaro.

Na planura com ondulações da caatinga, fomos atravessando o Campo de Aviação, várzeas, fazendas, chácaras e pontos de encontros de vaqueiros e visitantes da cidade em bar de beira de estrada, até chegarmos ao núcleo do sítio procurado. Ali já havia uma igreja e um estabelecimento de ensino, o que caracterizava um grande espaço nos arredores como o centro da vizinhança. Através de informações, chegamos até a fonte tricentenária que havia ganho uma proteção redonda de cimento. Uma mangueira que ainda estava na boca da estrutura mostrava que de fato a fonte ou olho d’água continuava na ativa.

Fotografamos a fonte, indagamos a moradores e retornamos da zona rural, pronto para complementarmos o livro que serviria de TCC para o Curso de pós-graduação em Geo-História. Ficou assim comprovada a existência da fonte originária do sítio Olho d’Água do Amaro. Mas não encontramos retrato e nem sequer desenho a carvão do nosso herói doméstico Amaro, gente do grande Zumbi dos Palmares, o famoso líder da serra da Barriga.

 Um amigo de computador e programas poderosos, mostra-me num mapeamento de Santana, inúmeros olhos d’água inativos, mas não se tem notícia de nenhuma dessas fontes com trabalho público de recuperação.

No peneplano de Olho d’Água do Amaro, fomos encontrar ainda em todas as suas regiões, fazendas típicas de criatórios bovino e ovino porteiras e casas tradicionais dos tempos das ocupações de terras devolutas.

SERTÃO DO OLHO D’ÁGUA DO AMARO (FOTO B. CHAGAS).

 


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terça-feira, 27 de junho de 2023

 

PASSEANDO E REFLETINDO

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de junho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.915



 

Espiei o tempo, medi o intervalo entre chuva e estio e parti a pé visando a região da antiga Volta. Volta era o nome da área onde hoje existe a barragem assoreada de Santana do Ipanema, à margem da BR-316, bem na saída da cidade para o Alto Sertão. A ponte que faz a estrutura da barragem é bem feita e remonta a 1951, porém é estreita e faz medo passar por ali juntamente com um veículo; e se for dos grandes pior ainda. O pedestre tem cerca de quarenta centímetros de largura num alto relevo para se encolher entre uma carreta e o abismo, cuja murada apenas vai até a região do quadril. Representa também o lugar como ponto de suicídio, tanto para o lado do assoreamento quanto para o lado somente de rochas. A ponte ficou conhecida como Ponte da Barragem. O erro para pedestres é repetido na ponte do Centro da cidade e que também é fonte de suicídios.

A antiga Volta ou Volta do Rio ou Volta do Ipanema, propriamente dita, é que, quando o rio Ipanema chega a nossa cidade, vindo do município de Poço das Trincheiras, após a citada barragem, desce ainda 400 ou 500 metros pelo escoadouro da barragem e, ele que vem em direção norte-sul, faz uma admirável curva ao encontrar altas barreiras na margem direita e corre em direção leste para o centro da cidade. Atualmente a palavra “Volta” perdeu-se na evolução da urbe a ponto de um ilustre amigo me perguntar sobre ela. Pois era para lá que eu estava indo saber se ainda existia uma granja feita na margem esquerda. Mas há muito que a granja deixou de existir deixando apenas uma estrutura de concreto entre o rio e a última rua paralela à Volta.

Bati foto, apenas pelo valor estimativo temporário. Lembrou outra granja que foi extinta, do outro lado da cidade e que produzia 30.000 mil ovos/dia. A falta de incentivo vai assim destruindo pequenas e médias empresas que geravam empregos renda, produção local de alimentos e intensa circulação de dinheiro no comércio. Engoli seco e fui espiar a Volta. Tão bonita, tão famosa... Tão esquecida! A curva perfeita do rio está viva ainda, repleta de areia grossa, pedregulhos semeados e basculhos secos e enganchados pelas rochas e pelos troncos ainda tenros de novas craibeiras que brotam das rachaduras. Antigo lugar de banhos de passeios catequistas, de história santanense.

Melancolia, lembranças... Saudades.

 


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