quarta-feira, 11 de junho de 2025

 

BAMBÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.248


 

Nome muito utilizado no rio Ipanema, imediações e por onde se vendia peixes. Enquanto a pobreza chiava no campo e na cidade dentro dos lares ou nas andanças das ruas, o rio temporário do Sertão nunca abandonara a sua generosidade, ou durante as cheias ou na sequidão com os diversos poços que restavam da fartura, inúmeras famílias conseguiam criar os meninos com a pesca miúda oferecida. No rio Ipanema, um peixe de três quilos já era considerado grande, enorme, bem-criado. E todos nós que amávamos o rio sabíamos os nomes doshabitantes das águas: Bambá, Traíra e Mandim, os maiores. Piaba, carito ou chupa-pedra, os menores. A bambá, no rio São Francisco era chamada Xira e decantada em prosa e verso. O carito era o mais vil. E, praticamente somente uma família muito pobre da Rua São Pedro, pescava carito. A família Rei.

Ninguém conhecia por ali outro tipo de peixe produzido no trecho citadino. Certo dia, porém, surgiu no Poço dos Homens o advogado Aderval Tenório, que também era farrista, mas que nunca aparecia no Poço dos Homens e que daquela vez apareceu ostentando um Pitú dos grandes. Dizia haver comprado no poço do Escondidinho, coisa que ninguém jamais pensara que existisse. Na certa subira do rio São Francisco e fizera essa surpresa em Santana do Ipanema. Surpresa mesmo! Grande novidade na pesca local. Este sim, era para a farra propriamente dita, todos os peixes maiores ou menores, era, na maioria, para matar a fome e no mínimo complementar o almoço sertanejo. Os lugares de pesca, principais eram a barragem, no bairro do mesmo nome; o poço do Juá, no trecho do Comércio; o poço dos Homens, abaixo e quase ligado ao de cima; e o poço do Escondidinho, muito abaixo no Bairro Bebedouro.

Entretanto o pessoal batia constantemente por todos os outros  poços menores que ficavam das cheias. A pesca era na base da tarrafa, do anzol, do jequi, da rede e do litro, para as piabas.

Era o Panema romântico e caridoso

CHEIA NO PANEMA (FOTO DE ÂNGELO RODRIGUES).

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2025/06/bamba-clerisvaldo-b.html

terça-feira, 10 de junho de 2025

 

CACHAÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3,247


 


O irmão do padre Bulhões, Pedro Bulhões, era dono de cartório, mas o outro irmão, Antônio Bulhões, era proprietário de fabriqueta de cachaça, em pleno comércio de Santana do Ipanema. Ficava muito perto da esquina que desaguava para a Avenida Barão do Rio Branco, entre a farmácia Confiança do senhor Hermínio Tenório (Moreninho) e a alfaiataria do senhor Walter Alcântara.  Mas, havia também uma fábrica de cachaça na esquina da primeira travessa da Rua Antônio Tavares, pertencente ao senhor Manoel Lopes. Á margem do Rio Ipanema, bem perto da Ponte Padre Bulhões, havia uma outra fábrica de cachaça. Esta pertencia à família Lemos, porém, não temos certeza se era a mesma em que o Sinval o rapaz recitadorl tomava conta.

A produção dessa mercadoria era transportada em lombo de jumento: tanto surgia em ancoretas para longas viagens, quanto nas garrafas em caçuás. Não temos lembrança de outra bebida alcoólica fabricada na cidade. Estamos querendo dizer que havia muitas fábricas dos mais diferentes artigos em Santana do Ipanema e que tudo acabou, não existindo uma só fábrica de nada. Havia três fabricas de calçados, de vinagre, de corda, oito de sola, de carne-de-sol, de doces, de fubá, de tempero, de colchas, de mosaicos, chapas de fogões (fundição) de selas, de arreios, de colchões. Tudo que havia foi extinto, inexplicavelmente e a cidade passou a importar tudo o que antes produzia. Deixou de ser uma cidade industrial para comercial. Hoje somos uma cidade comercial.

Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, não notamos nenhuma diferença da metade do século passado para hoje. O que varia são as marcas de cachaça que aparecem, geralmente importadas de Pernambuco. Algumas delas são mais sofisticadas, mas outras ainda são chamadas de “rinchonas”, o que vem a ser cachaça ruim cachaça fuleira, cachaça peba, cachaça que não vale nada. E se não há mais indústria, não há mais empregos melhores e a juventude vai montar no seu futuro, apenas atrás de um balcão de loja qualquer.

Nem uma cachaça de Santana você consegue hoje tomar.

Fazer o quê?


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2025/06/cachaca-clerisvaldo-b.html