CACHAÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3,247
O
irmão do padre Bulhões, Pedro Bulhões, era dono de cartório, mas o outro irmão,
Antônio Bulhões, era proprietário de fabriqueta de cachaça, em pleno comércio
de Santana do Ipanema. Ficava muito perto da esquina que desaguava para a
Avenida Barão do Rio Branco, entre a farmácia Confiança do senhor Hermínio
Tenório (Moreninho) e a alfaiataria do senhor Walter Alcântara. Mas, havia também uma fábrica de cachaça na
esquina da primeira travessa da Rua Antônio Tavares, pertencente ao senhor
Manoel Lopes. Á margem do Rio Ipanema, bem perto da Ponte Padre Bulhões, havia
uma outra fábrica de cachaça. Esta pertencia à família Lemos, porém, não temos
certeza se era a mesma em que o Sinval o rapaz recitadorl tomava conta.
A
produção dessa mercadoria era transportada em lombo de jumento: tanto surgia em
ancoretas para longas viagens, quanto nas garrafas em caçuás. Não temos
lembrança de outra bebida alcoólica fabricada na cidade. Estamos querendo dizer
que havia muitas fábricas dos mais diferentes artigos em Santana do Ipanema e
que tudo acabou, não existindo uma só fábrica de nada. Havia três fabricas de
calçados, de vinagre, de corda, oito de sola, de carne-de-sol, de doces, de
fubá, de tempero, de colchas, de mosaicos, chapas de fogões (fundição) de
selas, de arreios, de colchões. Tudo que havia foi extinto,
inexplicavelmente e a cidade passou a importar tudo o que antes produzia.
Deixou de ser uma cidade industrial para comercial. Hoje somos uma cidade
comercial.
Quanto
ao consumo de bebidas alcoólicas, não notamos nenhuma diferença da metade do
século passado para hoje. O que varia são as marcas de cachaça que aparecem,
geralmente importadas de Pernambuco. Algumas delas são mais sofisticadas, mas
outras ainda são chamadas de “rinchonas”, o que vem a ser cachaça ruim cachaça
fuleira, cachaça peba, cachaça que não vale nada. E se não há mais indústria,
não há mais empregos melhores e a juventude vai montar no seu futuro, apenas
atrás de um balcão de loja qualquer.
Nem
uma cachaça de Santana você consegue hoje tomar.
Fazer
o quê?
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