domingo, 15 de junho de 2025

 

CLADIO CANELÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertã Alagoano

Crônica: 3250

 



Ninguém teve o direito de escrever tanto sob a Rua Antônio Tavares quanto este escritor. São crônicas e mais crônicas a perder de vista, sobre a primeira rua da cidade, após o Centro Comercial. São inúmeros os personagens de infância citado em crônicas soltas e livros publicados. São fontes riquíssimas de pesquisas sobre a primeira rua da cidade. E entre tantos e tantos personagens comuns e simples da época, destacava-se no primeiro trecho da rua, logo após a primeira travessa, o sapateiro Claudio Canelão, cujo pai também era sapateiro. Claudio crescera muito, devia ter mais de 18 anos e possuía bigodinho. Ajudava o pai na arte, mas tinha uma alma de criança e gostava de jogar ximbra na rua com os adolescentes.

Ninguém conseguia ganhar de Claudio Canelão. Tinha palmo grande e já apontava perto da ximbra. Nem o Nicó, filho de seu José Leite, que também era bom de ximbra e tremia as mãos ao jogar, conseguia superar o sapateiro. Mas Claudio era educado e gente boa. Lembro-me que no grupo escolar murado do Padre Francisco Correia, ele corria sobre os balaústres numa demonstração rara de habilidade. Nome correto não dar para lembrar, até porque, apelido pegou, substitui definitivamente o nome. E se você encontrava o sapateiro na guerra das ruas, era com o bolso cheio de ximbras coloridas todas ganhas dos seus adversários. Havia na rua sem calçamento, gangorra, pinhão, carro de puxar, carro de ladeira, pedra na pedra em apostas de notas de cigarro, brincadeiras de artistas, pega, chicote queimado, esconder, mas a ximbra predominava ao longo de toda rua e do Bairro São Pedro.

O que faz um homem feito, já sapateiro profissional, ir jogar ximbra com os adolescentes no meio da rua? E o jogo de ximbra continuava na via empoeirada e nem mesmo as incursões do juiz de direito, Aloísio Firmo, montado numa burra e o soldado Genésio, a pé, procurando tomar bolas e ximbras, não surtiram o efeito desejado. As modificações de tantos brinquedos só foi acontecer na Rua Antônio Tavares, após a primeira etapa de calçamento na gestão Jaime Chagas. Depois, a continuação do calçamento se não me engano, com o prefeito Henaldo Bulhões.

Onde andará Claudio Canelão

                    (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO. RUA ANTÕNIO TAVARES, SENDO PLANEADA PARA CALÇAMENTO EM 1970.)


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quinta-feira, 12 de junho de 2025

 

PAPAGAIO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.249

 



Era uma casa de taipa, isolada, bem no sopé do serrote do Pelado. A estrada iniciava ali na periferia, Bairro São Vicente e levava seu usuário para o povoado São Félix e região. Era na cumeeira, diante da porta da frente que havia um rude cata-vento de madeira e ao lado da metade da porta, um poleiro também de madeira, com um papagaio a tomar sol, acorrentado pela perna. Essa paisagem simpática, modesta e atípica, sempre me chamava atenção e me deixava pensativo, quando por ali passava em direção à serra do Gugi, quase todos os domingos. Uma jornada de 2 léguas (12 km) a pé, para comer galinha na casa de Jonas, no pé da serra do Gugi, beber caldo-de-cana e chupar manga Gobom no pé, no alto da serra no sítio do senhor Olavo e dona Neném. Eu, e os saudosos amigos Mileno Carvalho e Francisco Assis. 

Toda a região, nos últimos anos foi modificada. O casario do Bairro São Vicente, se expandiu pelo sopé do serrote do Pelado e emendou com diversas construções do bairro vizinho, Lagoa do Junco. Agora tem hotel de luxo, condomínios de alto nível, conjuntos diversos, mercadinhos e inúmeras prestadoras de serviços. A nova paisagem urbana ocupa ladeiras, grotas, planos com asfalto e planejamento. A vizinha Lagoa do Junco tornou-se um Complexo de Justiça, muitas prestações de serviços, faculdade, escola modelo, CISP e a transformação quase completa dos dois barros pegados, em uma nova cidade. Nada mais de casa de taipa, cata-vento e papagaio.

Já faz muito tempo que me dirigi à serra do Gugi, ponto culminante de Santana do Ipanema, mas deixei registrado uma cena fictícia do meu romance DEUSES DE MANDACARU, lá no sítio de Olavo. Continuo admirando aquele monte situado na região do povoado São Félix. Foi decantado por dois escritores, Oscar Silva e Clerisvaldo B. Chagas. E para não ficar somente em nós, é por ali que o simpático riacho Gravatá vem lamber-lhe os pés. E a região do serrote do Pelado e adjacências vão focando noutra Santana do Ipanema, inclusive ornamentando a entrada da cidade, para quem chega da capital. A Lagoa do Junco, mesmo já está se estruturando para ser o futuro local da feira semanal de Santana que sairá do Cento da cidade. Ê... Meu papagaio...

UNEAL NA LAGOA DO JUNCO, EM 2013 (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).

 


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