quarta-feira, 30 de novembro de 2011

EU VI OS PEDAÇOS DE LAMPIÃO

 EU VI OS PEDAÇOS DE LAMPIÃO
               Clerisvaldo B. Chaga, 1º de dezembro de 2011

         “EU VI OS PEDAÇOS DE LAMPIÃO”
07.08.1938. Santana/Piranhas (AL) “Três ou quatro dias após a remessa das cabeças para Maceió, chegava a Santana uma caravana da Faculdade de Direito do Recife, composta dos acadêmicos Alfredo Pessoa de Lima, Haroldo Melo, Décio de Souza Valença, Elísio Caribé, Plínio de Souza e Wandnkolk Wanderley, todos em excursão e desejando ir diretamente a Angicos.Coincidiu que estavam chegando notícias de que os abutres (urubus) viviam sobrevoando o local do combate, sinal de que os corpos não haviam sido bem sepultados.
O Tenente-Coronel Lucena resolveu então formar uma caravana com os acadêmicos e me disse que eu teria de acompanhá-los, menos como sargento do Batalhão, do que como correspondente do Jornal de Alagoas. Partimos, então para Angicos no dia 7 de agosto – (‘O Jornal nos Municípios’, Jornal de Alagoas de 188.38).
‘Com a chegada dos acadêmicos do Recife, tivemos de ir com eles a Angicos, local do combate, lá sepultar os corpos deixados à toa. Encontramo-los já meio ressecados, amarelecidos, a pele agarrada no osso como se a carne houvesse fugido. Já não tinham pelos e era difícil a identificação. À vista daqueles, em plena caatinga, o acadêmico Alfredo Pessoa fez um discurso capaz de comover até mocós e preás que andassem por ali. E só então tive uma pequena ideia da atrocidade da decapitação. Um corpo sem cabeça, onze corpos sem cabeça e o discurso do Pessoa: que coisa de arrepiar cabelos! (FRUTA DE PALMA, 168).’
Na realidade os corpos não haviam sido sepultados. Ficaram ali mesmo no leito do córrego, cheio de pedregulho. Amontoado os onze, a tropa havia simplesmente feito um montão de pedras por cima. Além de ser difícil cavar sepultura ali, a gana de Bezerra e de seus comandados pelos troféus dos cangaceiros lhes havia retirado todo o restinho de senso humano que possuíssem.
Ficamos ali quase um meio dia, a cavar uma vala comum no mesmo local, pois não havia condições de conduzir aqueles pedaços de gente para parte alguma fora do córrego.
O célebre coiteiro Pedro Cândido era integrante da Caravana e, além de nos descrever as principais fases do combate que ele engendrara, mostrou-nos o corpo de Lampião, da mesma forma identificado por três ou quatro pessoas que integravam a caravana e que também conheciam detalhes físicos do Rei do Cangaço.
Se não foi a única (e não foi), foi uma das poucas vezes em que observei emoções no rosto do Tenente-Coronel Lucena: ao ouvir o discurso do acadêmico, encarando os pedaços de Lampião.

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

PARABÉNS A VILELA

PARABÉNS A VILELA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de novembro de 2011

Apesar de sermos leigos no assunto, temos clareza suficiente sobre a importância que teve a Emater em Alagoas. Técnicos inteligentes e preparados estavam sempre à disposição do homem do campo, ocasião em que a Agricultura procurava encontrar o seu caminho. Além da assistência à chamada zona rural, havia esperanças aos estudantes de Agronomia por uma carreira promissora. Na época das vacas gordas o pessoal da Emater apresentava seu vencimento como três vezes superior aos dos professores do mesmo nível. Era uma situação humilhante para o Magistério que sempre foi nesse país, o famoso saco de pancadas que todo mundo quer bater. Mesmo assim todos reconheciam o órgão estadual como grande prestador de serviço à fonte básica da nossa alimentação. Com a quebradeira que teve início em certo governo, levando reflexos para os demais, o homem da roça, sozinho, acuado por todos os lados, via navios navegando em plena caatinga abandonada.
         O governador Teotônio Vilela, pelo que entendemos estar resgatando esse órgão vital para o setor agropecuário com o nome de Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável. Um nome complicado e longo para ser chamado facilmente por uma sigla, daí ser apontada simplesmente como Nova Emater. De fato vai ser uma festa boa em Arapiraca, amanhã, quando o governador sancionar a lei de criação do Instituto. O Clube dos Fumicultores deverá ficar minúsculo, quando se aguardam mais de mil agricultores para o evento. Naturalmente não foi mostrada para o público a novo estrutura do órgão para uma avalição popular. Não ouvimos nem vimos nenhuma manifestação a favor ou contra de algum antigo funcionário dessa repartição. Cremos que na solenidade de amanhã, haverá todo esclarecimento possível aos convivas e a outros interessados.
          Já era tempo, aliás, há muito que passou do tempo, desse resgate tão importante para Alagoas. Temos orgulho da Embrapa e das coisas extraordinárias que ela tem feito, resultando na admiração e respeito do mundo. Mas a velha Alagoas destruída foi ficando para trás, numa situação rota de dá pena. Com essa decisão do governo Théo, pode ser que o campo volte a entrar nos eixos, difícil, porém é recuperar o tempo perdido na Agricultura. Depois da festa de Arapiraca esperamos tempos melhores para o camponês alagoano. Nesse caso, PARABÉNS A VILELA.

























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