quinta-feira, 27 de maio de 2010

QUEBRANDO BANCAS


QUEBRANDO BANCAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 27.5.2010)

O tempo até parece que perdeu o juízo, igualmente aos homens.  E aqui na capital ninguém sabe se já é inverno, a não ser o cientista Molion. Vamos registrando o cotidiano deste Maceió “velho de guerra”, obrigação de cronista. Chuvas inesperadas expulsam os transeuntes dos calçadões, mas não refrescam o calor sufocante do tropical úmido. A esperança da copa também chegou à “Cidade Sorriso” com o predomínio do verde e amarelo. A propaganda bicolor está em todas as marquises, em todas as vitrinas, em todas as fachadas. Desafiando o tempo, desfila a seleção brasileira de futebol pela Praça dos Martírios. Espere! Não, não é a seleção brasileira de futebol. Trata-se, na verdade, do desfile de carteiros guiados pelo som de um carro a fazer barulhentas reivindicações. A velhinha, no ponto de ônibus, dá graças a Deus pelo movimento. Ao ser interrogada se faz parte dos Correios ela responde que não é isso. O que deixa a velhinha momentaneamente feliz, segundo ela mesma, é a possibilidade no atraso às cobranças que chegariam a sua casa. Um estudante, amparado numa cobertura, coloca dois dedos à boca e assovia para os profissionais que desfilam. Não conformado, ao contrário da velhinha, sapeca ainda uns dois palavrões impublicáveis e uma crocante banana comprida em direção ao desfile. Quero perguntar o motivo da revolta, mas o estudante forte, tatuado, cara de mau, parece não receptivo à conversas
A chuva dá uma trégua. Os transeuntes estufam do interior das lojas. Escorrega argila das escavações pelas poças das ruas, automóveis banham os passantes, enquanto o sujeito do carrinho aumenta o som dos CDs piratas. (Quem diabo dá jeito na pirataria do mundo?!) Encontro uma conhecida na calçada estreita. É nervosa, agitada, fala muito alto. Não quer me deixar seguir. Parte para me contar um longo rosário da sua vida. A educação me planta, mas a razão quer distância. A senhora me puxa o braço a cada fração da sua narrativa, interrompe o trânsito humano, chama atenção e, eu peço socorro aos céus. Toca o celular da senhora que se apressa a atender. Na oportunidade única, invento uma despedida de político e consigo quebrar as correntes da gentileza. Surgem soldados correndo atrás de um larápio, animando as ruas movimentadas. O povo gosta da competição. O ladrão bate o recorde mundial dos duzentos metros com obstáculos e some lá na frente. É Alagoas perdendo bons atletas para as Olimpíadas de 2014. A alegria dos apreciadores desse tipo de competição, dura pouco e tudo volta à normalidade.
Na esquina do quarteirão penso em desligar o aparelho do observatório, mas de repente, o que me chega! Aparece um daqueles azoados, muito mais nervoso do que a senhora do celular. Arregala os olhos, passa as mãos na calça e aponta o dedão para mim perguntando animado: “Tá morando aqui?” Meu Deus! Será que vai começar tudo de novo? Se eu fosse amigo de cambista, na certa apostaria no burro... O mais nervoso de todos os bichos. Casos assim costumam acontecer QUEBRANDO BANCAS.

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