terça-feira, 25 de janeiro de 2011

HISTORIANDO A LINHA

HISTORIANDO A LINHA
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2011).

        Falar sobre a cidade ribeirinha alagoana de Piranhas é tarefa para muitos dias de computador. Mas hoje não vamos nos ater às belezas daquela, designada por mim, como “Cidade Presépio”. O compromisso do momento é falar sobre a ferrovia de Piranhas. A cidade foi construída por D. Pedro II para servir de entreposto entre o baixo São Francisco e o alto Sertão de Alagoas e Pernambuco. Para melhor entendimento, é sabido que no final do século XIX, os navios subiam o rio São Francisco até Pão de Açúcar e Piranhas. Daí as mercadorias passavam para frotas de carros de boi que distribuíam pela zona oeste do estado. As grandes embarcações não podiam navegar entre Piranhas e Paulo Afonso, na Bahia. A construção, portanto, de uma via férrea de Piranhas a antiga Jatobá (Petrolândia) via Paulo Afonso, foi planejada e executada. Já havia em Alagoas, ramais na zona da Mata. A ferrovia Piranhas ─ Jatobá, teve início em 1879, tendo sido entregue ao tráfego em 1883, tendo a frente o engenheiro André Rebouças. A bela estação, em estilo barroco, foi inaugurada em 25 de dezembro de 1881. Essa ferrovia, cumprindo o seu papel de transportar passageiros e mercadorias dos navios para o alto Sertão de Alagoas e Pernambuco, foi arrendado a Great Western em 1901. Permaneceu sempre uma ferrovia isolada, isto é, nunca interligada a outros ramais. Em 1964, 81 anos depois de inaugurada, alegando prejuízo, desativaram as atividades da ferrovia de Piranhas. Seu trajeto representava quase 116 km.
       Falar sobre a história de Piranhas é reescrever a saga de Delmiro Gouveia e os inúmeros episódios da vila da Pedra. A região enche sobejamente os embornais de História, Geografia, Economia e Sociologia da época dos coronéis. Na estação de Jatobá, Lampião, enfurecido, escreveu na parede: “Polícia Podre!” O trem não tinha horário certo de chegar ou sair, na fase do cangaço, porque dependia da proteção e disponibilidade das chamadas volantes.
       No meu romance (ainda inédito) “Fazenda Lajeado”, machadeiros trabalham na fazenda e quando terminam a faina, vão embora para Piranhas trabalhar em madeira para dormentes. Quer dizer, com a ferrovia em pleno andamento, subtende-se manutenção. Fui a uma pesca em Volta do Moxotó, Pernambuco, e muito me impressionou a estação do lugar. Bem conservada e bela, assemelhava-se a de Piranhas. Os trilhos passavam sob um imenso braço d’água, servindo de ponte falhada, perigosa para os poucos transeuntes. História, história, história, perdida naqueles esquisitos. Estivemos na ponte sobre o rio Moxotó, construída para a ferrovia, com 147 metros, hoje ponte rodoviária. Estamos (ali na foto: Clerisvaldo; Juca Alfaiate, seresteiro; José Gomes, eletrotécnico; sargento Osman, delegado de Poço das Trincheiras; José Maria Amorim, professor; Manoel da Guanabara, comerciante e, Sebastião Poara, aposentado). Enquanto eles curtiam a farra e a pesca, eu mergulhava nos áureos tempos da ferrovia e seus incontáveis episódios para variadíssimos gostos. Ah! É um filme que passa HISTORIANDO A LINHA.


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2011/01/historiando-linha.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário